É portuguesa, tem 28 anos, é formada em Engenharia de Telecomunicações, e faz parte da lista ‘30 under 30‘ da revista Forbes, que destaca os mais jovens talentos em várias áreas de negócio. O feito de Cristina Fonseca é ser co-fundadora da Talkdesk, uma plataforma que permite criar um call center em poucos minutos e integrá-lo com uma vasta variedade de ferramentas de negócio. Uma ideia que ainda hoje parece demasiada engenhosa, mas que Cristina Fonseca e o ex-colega de curso Tiago Paiva já andavam a matutar há algum tempo quando decidiram aproveitá-la para participar num concurso de empreendedorismo nos Estados Unidos, em 2011. O objetivo não era tanto criar uma empresa, mas sim ganhar o computador que era o prémio em jogo. Acabaram a ganhar as duas coisas e em duas semanas estavam em Silicon Valley numa das melhores incubadoras do mundo – a 500 startups – e com pessoas à sua volta entusiasmadas com a ideia. Ainda assim foram precisas muitas afinações até conseguir colocar o produto no mercado. Cinco anos depois têm um currículo que é o sonho de qualquer candidato a empreendedor: arrecadaram 24 milhões de dólares de investimento, estão nos cinco continentes, no ano passado cresceram de 15 para 150 empregados para fazer face ao crescimento e têm entre os seus clientes grandes empresas como a Dropbox e a Box, mas também startups nacionais como a Chic by Choice e a Uniplaces.
E quando tudo já parece correr sobre rodas, Cristina Fonseca anunciou no início deste ano que se afastava do dia-a-dia da Talkdesk, apesar de continuar ligada à empresa. Depois de cinco anos muito intensos, a jovem executiva diz precisar de tempo para fazer muitas coisas que não teve tempo para fazer. À Executiva Cristina Fonseca falou do que de mais importante aprendeu com a sua experiência na Talkdesk.
O grande desafio de uma startup é estarmos sempre a ser confrontados com problemas novos.
Qual o maior desafio de ser empreendedora?
Há muitos desafios associados à vida de empreendedor e dependem essencialmente da fase do negócio em que se está. No início é difícil juntar a equipa capaz de executar a visão. Numa fase seguinte, atingir o product – market fit é um desafio porque tipicamente o produto que imaginámos não é o que os clientes procuram e há ajustes a fazer. Quando esse problema está resolvido vem a fase de escalar e aí somos novamente empurrados para fora da zona de conforto. Acho que esse é o grande desafio, estarmos permanentemente a ser confrontados com problemas novos.
Tudo demora tempo
Como se desenvolve uma empresa em tempo recorde como aconteceu com a Talkdesk, que em cinco anos passou do zero a 150 colaboradores e conseguiu 24 milhões de dólares de financiamento?
Uma empresa como a Talkdesk reúne um conjunto de variáveis que incluem uma ideia com potencial de mercado considerável, uma equipa capaz de executar e iterar sobre os constantes desenvolvimentos do produto e também é essencial estar no sítio certo no momento certo. No nosso caso beneficiámos largamente de estarmos em Portugal e nos Estados Unidos porque conseguimos tirar vantagem da rede de contatos e angariar investimento lá mas também conseguimos captar ótimo talento em Portugal e com isso criar uma base bastante sólida.
Quais as principais aprendizagens que fez com a experiência da Talkdesk?
Criar uma startup atira-nos permanentemente para fora da zona de conforto, as aprendizagens foram tantas e tão enriquecedoras que creio ser difícil colocá-las todas por escrito. Ficam algumas das mudanças mais marcantes:
- É preciso pensar se global para conseguirmos criar um negócio com potencial.
- As pessoas são efetivamente o que faz as empresas.
- Tudo demora tempo. Hoje ouve-se falar com frequência de nós mas passámos dois anos em modo “low profile” e super focados a desenvolver o produto.
- Nunca se acerta à primeira.
Ainda se acredita que a engenharia não é uma profissão de mulheres, o que é totalmente errado.
Engenharia não é só para homens
Qual a conquista de que mais se orgulha?
Orgulho me de ter contribuído para o que tem sido uma mudança significativa no ecossistema de empreendedorismo português. Em 2010, quando terminei a universidade, nenhuma das empresas que seriam escolhas óbvias para começar a minha carreira profissional parecia suficientemente apelativa. Neste momento a Talkdesk, assim como outras startups tecnológicas são a escolha óbvia de quem quer ser desafiado e participar em projectos com impacto global.
Porque há ainda tão poucas mulheres na tecnologia?
Acredito que a principal razão pela qual há poucas mulheres na tecnologia é cultural e ainda vem de se acreditar que engenharia não é uma profissão de mulheres, o que é totalmente errado. Não termos muitos modelos femininos de sucesso na área é um reflexo disso.
Qual o seu conselho para as jovens que queiram lançar uma startup?
Criar uma startup não é fácil, é bom estar-se consciente disso antes de se começar. Estando feito o compromisso então é preciso ser-se persistente e manter espírito positivo mesmo quando tudo parece incerto. Nem tudo vai correr bem, mas tudo nos vai trazer aprendizagens.