Cristina Borges: sucesso no Dubai

Foi caçada à Microsoft Portugal para por as suas qualificações ao serviço de uma empresa a mais de oito horas de voo de distância. Nos Emirados Árabes Unidos foi desafiada a mudar duas vezes de companhia, numa escalada de responsabilidades e desafios

Cristina Borges é feliz no Dubai, onde é responsável pelo marketing e comunicação de um grupo empresarial com interesses em áreas diversificadas

Princess Tower, na zona da marina do Dubai, era em 2012 o edifício mais alto do mundo. É aqui, num dos 101 andares, do arranha céus localizado em cima das praias, rodeada de outros expatriados, que reside Cristina Borges Carvalho, de 45 anos. A executiva portuguesa é Group Corporate Communications and Branding Head da Ghobash Holding, um grupo com que actua na área do investimento, tecnologias de informação, cuidados de saúde, retalho, indústria comércio e serviços.

Mudou-se para os Emirados Árabes Unidos em Abril 2013, para ingressar nas fileiras da Falcon Technologies International (FTI), desafio que a levou a deixar a Microsoft Portugal, onde era diretora de marketing, comunicação e eventos. “Estava a trabalhar no laptop quando recebo uma mensagem no LinkedIn: se queria ser diretora de marketing da FTI, nos Emirados Árabes Unidos. Poucos dias depois encontrámo-nos em Ras Al Khaimah para que nos conhecêssemos”, conta. De regresso a casa, tinha um e-mail com uma proposta muito atractiva: salário-base, fee mensal para a renda da casa, carro, seguro de saúde e uma viagem anual com a família para qualquer local do mundo. A casa num condomínio mais parecia um resort de férias a cinco minutos do trabalho. Isto num país seguro, em que há isenção de impostos e boas condições para a família a acompanhar: boas escolas internacionais para o filho, Diniz, de 12 anos, e oferta de trabalho para o marido, Nuno, fotógrafo e professor. Decidiu aceitar.

Mais do que a adaptação a um novo país, uma cultura diferente e uma nova empresa, o mais duro, nesses primeiros tempos, era estar sem o apoio próximo da família. “Fiquei sozinha até Agosto. As saudades do meu filho quase me mataram”, lembra Cristina Borges de Carvalho. Profissionalmente, era também um desafio exigente. A gestora coordenava o departamento de marketing e gestão de produto e uma equipa composta por uma jovem nacional do País de Gales, um argelino e vários cidadãos da Índia, Bangladesh, Filipinas e Paquistão. Como se impôs uma mulher, loura, bonita a chefiar homens neste contexto cultural? “Nunca precisei de me impor. Trabalhávamos todos juntos e a porta do meu gabinete encontrava-se sempre aberta, como sempre fiz ao longo da minha vida profissional. Para cortar a barreira da ‘madam’, ‘brincava’ muito com eles”, explica.

A mudança da FTI para a ITS – International Turnkey Systems, no Dubai, ocorreu em Fevereiro de 2014 e foi o desfecho de um cerrado namoro, a que acabou por ceder. As condições financeiras eram ainda mais atrativas, mas o factor decisivo foi o projeto: ia gerir toda a região do Médio Oriente, como diretora de marketing. Hoje como responsável pelo marketing e comunicação da Ghobash Holding tem em mãos o desafio de iniciar um departamento de marketing e comunicação do zero, criando diretrizes a nível corporativo e de marca. Um objectivo que envolve a tarefa de selecionar os gestores de marketing das várias empresas e coordenar as suas atividades. “Uma vez definida a estratégia, o importante é implementá-la e aumentar rapidamente, mas de forma consolidada, as vendas, com uma forte racionalização dos custos”, sintetiza.

Cristina sai de casa às 6h 15m, às sete já está a trabalhar, mas consegue estar de novo em casa às cinco da tarde. “Um luxo” que lhe permite desfrutar o que o país tem de melhor. “O Dubai é uma sociedade cosmopolita, um melting pot de culturas e religiões. É o exemplo perfeito de saber explorar a magia das diferenças”, afirma a gestora. “Adoro a diversidade das pessoas e da comida. Aqui vibra-se 24 horas sobre sete dias. Quando é para trabalhar dá-se tudo. No fim-de-semana é o descanso da guerreira: a praia, os restaurantes as compras, o Fish Market, os souks. O Dubai é a casa longe da minha casa”, afirma.

O MELHOR E O PIOR

O que é melhor em Portugal? “Mãe (família), amigos, comida, luz, as festas e festivais.”

O que é melhor nos EAU? “Estar no centro de tudo, ter acesso a tudo, não ter impostos, a segurança.”

O que mudou com esta experiência? “Tudo e nada!”

Cristina Borges de Carvalho desempenhou funções de direcção de marketing na Leroy Merlin, Intermarché, Renault e Microsoft. Teve também responsabilidades de direcção de marketing e comunicação na Siemens e na Multi Development Apesar de ter feito carreira em sectores ditos “masculinos”, como o automóvel e de tecnologias de informação, nota que nos Emirados Árabes Unidos, há muitos mais homens em todas as áreas. “Não há senhoras nem sequer nas limpezas. Nem sempre foi fácil para uma mulher, ainda por cima católica.”

Por exigências da sua vida profissional, Cristina Borges sempre viajou muito. Fez largas temporadas em Munique, quando trabalhava na Siemens, e em Paris, quando estava na Renault. Mas Lisboa continuava a ser a sua base. Poliglota, fala seis idiomas fluentemente. Adora viajar e já calcorreou os quatro cantos do planeta. Mas nada se compara à emoção com que esta globetrotter se refere a Moçambique, onde nasceu. Saiu de Moçambique com sete anos e regressou 20 anos depois: “Descia as escadas do avião, olhei em volta e senti o cheiro e a cor densa, acobreadam daquela terra. As lágrimas caiam-me, sem que eu conseguisse pará-las. ‘Sim, esta é a minha terra’. ”

Com a mãe professora, teve uma “vida de bandoleira”, calcorreando o País, de norte a sul, até que acabou por assentar em Lisboa. Foi bolseira do Lyons na Alemanha, durante três anos, participando num programa de férias de Verão para jovens de toda a Europa. Não perdeu a oportunidade do Programa Erasmus e estudou em Portsmouth, em Inglaterra. “Para a minha mãe, o mais importante eram os meus estudos. Achava que ‘ter mundo’ era um complemento vital. Foi ela que me abriu a gaiola e deixou voar”, homenageia a filha que à licenciatura e master em Gestão pela Universidade Nova de Lisboa, soma cursos executivos pela AESE, Universidade Católica Portuguesa, MIT, Stanford University, Columbia Business School, Kellog School of Management, Universidad Complutense de Madrid e HEC, sempre na área do marketing e da gestão. Com este histórico de viagens, desenraizamentos e adaptações, trabalhar além-fronteiras é para ela a concretização de um sonho: “o meu anjo da guarda atendeu aos meus desejos de criança”. Desde que partiu para os Emirados, ainda não regressou a Portugal. “Tenho imensas saudades de Portugal, sobretudo da minha mãe, que já não vejo há três anos anos. Além da família e dos amigos, sinto a falta dos petiscos, da luz de Lisboa, das festas populares, dos festivais de Verão, da bica, da imperial, do bom vinho tinto.”

Muitas vezes se questiona se deu o passo certo. Mas esses pensamentos não a dominam por muito tempo, pois procura sempre o lado positivo de todas as situações. “Sempre me habituei a me arrepender apenas do que fiz e nunca do que poderia ter feito. Comecei esta aventura com um ‘sim’ balbuciante e num ápice se transformou na minha vida. A família que tenho, os meus pilares, facilita muito. Sempre que tenho este convites – na maior parte inesperados – o meu marido só diz: “Mas ainda aqui estás?” e o meu filho diz alto e bom som: “here she goes again”. A vida pode ser tão boa quando temos coragem de a viver com verdade! Mashallah!”

O CV DA EXECUTIVA

Cristina Borges da Silva Carvalho, 44 anos, Group Corporate Communications and Branding Head da Ghobash Holding, tendo transitado da ITS – International Turnkey Systems, no Dubai, onde era diretora de marketing. Mudou-se para os Emirados Árabes Unidos, para Ras Al-Khaimah, em Abril de 2013 para ingressar a FTI- Falcon Technologies International, desafio que a levou a deixar a Microsoft Portugal, onde era directora de marketing, comunicação e eventos. Desempenhou iguais funções na Leroy Merlin, Intermarché e Renault. Teve responsabilidades de direção de marketing e comunicação em empresas como a Siemens ou Multi Development. Com uma licenciatura e master em Gestão pela Universidade Nova de Lisboa, tem cursos executivos pela AESE, Universidade Católica Portuguesa, MIT, Stanford University, Columbia Business School, Kellog School of Management, Universidad Complutense de Madrid e HEC, sempre na área do marketing e da gestão.

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