“O que vestir na festa de Natal da empresa? E no jantar ou almoço de Natal?” Acredito que, ao longo da sua carreira profissional, já vivenciou, interiormente, este dilema; que já se sentiu perdida por não saber o que vestir nem que acessórios selecionar para um dos eventos mais importantes do ano. Tenho uma boa notícia: não é a única executiva a vivenciar este drama! São inúmeros os profissionais que me procuram para os ajudar a descortinar o código de vestuário que deverão respeitar.
Se é verdade que a alma da organização deverá estar espelhada em cada detalhe — e que o registo pelo qual se pauta determinará o tom do evento natalício — não raras vezes, as organizações apostam em surpreender os seus colaboradores com eventos “fora da caixa” testando a capacidade de adaptação de cada colaborador. Aproveitam, também, a ocasião para identificar quem é um verdadeiro camaleão social.
Empresas com ADN informal, apostam num jantar ou almoço de Natal formal e diferenciado para surpreender os colaboradores. Por sua vez, empresas com ADN formal e tradicional, optam por organizar um evento informal (os famosos fins de semana “no campo” para colaboradores) para que estes saiam do “registo” que pauta os seus dias.
Por sua vez, de mãos dadas com a alteração do tom da sua empresa, constatamos a desarmonia entre o tom do evento e o código de vestuário indicado no convite. Concretizando: imagine que a sua empresa se pauta por um tom informal. Este ano, decide realizar um almoço de Natal num hotel XPTO indicando, como dress code: business casual. Será indicado para um almoço de Natal com um tom cerimonioso? O que pretenderão indicar, em concreto, com a designação anglo-saxonica “business casual”? Consigo pressentir a insegurança ao selecionar o que vestir.
Cuidado com as adaptações
Por fim… a “cereja em cima do bolo”! Indicar o código de vestuário adoptando uma designação inglesa, de forma errada, potenciando uma situação desconfortável, pois levará a uma interpretação incorreta do que, de facto, se pretendeu indicar.
Apresento-lhe um exemplo de um clássico erro de descodificação do código de vestuário: “dress code: informal” significa, em inglês, que não se trata de um evento “formal”, ou seja, que um homem não se deverá apresentar de fraque nem de smoking, consoante a hora do evento. “Informal”, em inglês, determina que se apresente de fato escuro com gravata, claro! e não com calças de ganga, camisa e blazer sem gravata! Ou, no nosso caso, optarmos por calças de ganga conjugando-as com uma blusa e casaco informal — ainda que complementadas por uns magníficos stilettos e jóias diferenciadas. É que o traje informal que, provavelmente, muitas empresas querem mencionar recorrendo a uma denominação inglesa para serem reconhecidas como “fancy” designa-se, na terminologia dos nossos queridos ingleses, “dress down” ou “casual” (ou, no limite da informalidade, o tão em voga “come as you are” (sem que nos esqueçamos que “à vontade” não é “à vontadinha”).
Acredito que, neste momento, o sentimento de insegurança que poderia residir em si, aumentou! Não só porque a sua empresa está a preparar um evento “fora da caixa”, mas porque pressente a falta de harmonia entre o tom do evento e o código de vestuário mencionado no convite.
Em ambos casos, o primeiro passo a dar é interpretar o convite descodificando o código de vestuário mencionado (quando mencionado, claro está). O convite, quando corretamente redigido, dá o mote do evento e as informações necessárias para que estejamos enquadrados no mesmo. Caso a “dúvida” permaneça, esclareça o tema junto do departamento de comunicação e eventos da sua empresa: “o que significa”, para vós, “informal”? Viver na incerteza da seleção incorreta do traje a sentir-se um “peixe fora da água” é de evitar.
Caso o convite não mencione o código de vestuário — e partindo do pressuposto que todos os colaboradores conhecem o traje adequado em função da ocasião e da hora da mesma — apresento-lhe os traços gerais que deverá conhecer.
Almoço de Natal formal
Caríssima leitora: num almoço de Natal formal (excluindo, in casu, eventos oficiais formais que poderão determinar outro traje), opte por um vestido curto (pelo joelho!) ou por um elegante tailleur, conjugado com sapatos de salto alto ou com umas sabrinas elegantes. Se tem dificuldade em selecionar os brincos que deverá utilizar, saiba que as pérolas, em eventos diurnos, são sempre uma opção segura e elegante. Relembro-lhe que em eventos diurnos não é adequada a utilização de jóias com brilhantes, pois estas estão reservadas para eventos noturnos onde poderão brilhar e deslumbrar no seu esplendor. Opte por maquilhagem elegante e discreta, reservando uma maquilhagem mais sofisticada para o jantar de Natal.
Caríssimo leitor, saiba que se deverá apresentar no almoço de Natal formal da empresa utilizando um elegante fato escuro, com camisa branca ou camisa clara, gravata e, claro… sapatos pretos com meias altas! Para garantir um ar elegante e sofisticado, não deixe de utilizar botões de punho.
Jantar de Natal formal
Para o jantar de Natal, confirme, novamente, se o traje está mencionado no convite.
Num jantar de gala, uma executiva deverá optar por um vestido de comprimento abaixo do tornozelo e o chão. Caso se exija “vestido longo”, o convite deverá mencionar, expressamente, “vestido longo”. Num jantar formal, recordo-lhe que os ombros devem estar cobertos; os sapatos deverão ser fechados e a utilização de meias é obrigatória. O cabelo deverá estar apanhado, se estiver previsto um momento de dança. Opte por uma clutch elegante e por uns brincos brilhantes para garantir um toque de charme. À noite, opte por uma maquilhagem mais sofisticada, ainda que tendo em mente que não estará numa produção fotográfica de moda.
Um homem deverá apresentar-se com um elegante smoking (a casaca, ficará reservada para outras núpcias como ex libris da formalidade), com casaco preto com bandas de seda ou cetim (recordo-lhe que o casaco branco está reservado apenas para eventos no verão). O casaco poderá ser assertoado e, nesse caso, poderá ter dois botões. Se não for assertoado e tiver apenas 1 botão, deverá permanecer por abotoar para que possa exibir a linda faixa preta (ou colete preto) que utilizará. Se optar por utilizar uma faixa preta — opção mais usual no século XXI — saiba que as pregas da faixa devem estar viradas para cima. As calças, sempre pretas, terão galões de seda de cada lado, no mesmo tecido a combinar com o casaco.
Com smoking, é de evitar a utilização de cinto, devendo este ser substituído por suspensórios. O laço deverá ser de seda, preto, feito à mão. A camisa, branca de seda, deverá ter colarinho quebrado e punho duplo para que possa utilizar botões de punho. A camisa em piquet, com colarinho diplomático, deverá estar reservada aquando da utilização da casaca. Como complemento, poderá utilizar um lenço que, muitas vezes, é colocado em pluma (formato adorado pelos nossos amigos ingleses). Os sapatos deverão ser pretos, de verniz, com atacadores — ainda que em ocasiões não oficiais se “admitam” sapatos modelo “slipper”, em veludo — contudo, aqui entre nós, é uma opção atualmente antiquada. As meias deverão ser pretas, altas, de seda.
Se, por sua vez, for um jantar (menos) formal, deverá optar por um vestido ou tailleur elegante. Atualmente, macacões sofisticados poderão ser uma opção. Tenha atenção às transparências e decotes proeminentes: não deixa de estar numa ocasião profissional e a sua imagem de executiva deverá estar espelhada em cada detalhe.
Para os homens um fato escuro de corte clássico, uma camisa branca com uma gravata clássica com nó Windsor é sempre uma opção segura. Contudo, o gosto pessoal de cada executivo reflete-se, também, na gravata, devendo ter sempre em mente que a “moda” é volátil e nem sempre permite refletir o ar de excelência que pretende garantir. Quanto aos sapatos, a máxima Never wear brown in town é para respeitar: sapatos castanhos não são adequados para ocasiões formais citadinas e, jamais, depois das 18h00.
Almoço de Natal informal
Por fim, se a sua empresa optou por um evento informal, analise o local onde decorrerá o evento para validar o nível de informalidade esperado.
Um almoço de Natal no contexto “fim de semana de campo” — que poderá incluir atividades desportivas — implicará vestuário descontraído e informal, onde calçado desportivo poderá ter lugar. Caso o evento não contemple atividades desportivas, poderá optar por calçado e roupa descontraídos e confortáveis, mas sem se esquecer de respeitar a linha que separa o conforto do tom demasiado desportivo: ténis e sweaters poderão não ser a opção mais adequada. Camisas sem gravata, coletes, casacos ou camisolas de malha serão os seus melhores aliados. O segredo está em equilibrar peças mais formais (camisas) com peças casuais como, por exemplo, calças de ganga e coletes acolchoados.
Mais uma vez, recordo-lhe: trata-se de um evento de cariz profissional, ainda que revestido do manto da informalidade, e, como tal, o cargo que ocupa está intrinsecamente ligado a si! Mini-saias, calças de ganga “rasgadas”, peças com logótipos salientes ou com lemas controversos, decotes proeminentes, calçado e peças ultra causais não espelharão o lado executivo que pretende sedimentar.
Mantenha o espirito natalício
Por fim, tenha sempre em mente que o jantar ou almoço de Natal da empresa é um momento profissional em que deverão ser sedimentados laços com todos os colaboradores; um momento de boa disposição, de diversão e de união. Permitir que o tema de conversa seja, exclusivamente, profissional não é adequado nem estará em sintonia com o propósito do evento. Mais do que estar enquadrado “por fora”, deverá estar envolto no espírito natalício colocando em prática a trilogia de Natal: uma quadra pautada por amor, união e compreensão.
Como ainda estamos longe do dia 8 de dezembro, não me é permitido apresentar-lhe os meus votos feliz Natal. Permita-me, assim, que lhe deseje um ótimo final de ano, caminhando para um novo ano repleto de inúmeros sucessos pessoais e profissionais.
Joana Andrade Nunes é consultora de protocolo, etiqueta e comunicação, membro da Associação Portuguesa de Estudos de Protocolo, colaboradora no programa “Praça da Alegria”, na RTP 1 e autora da rubrica “Etiqueta Profissional”, na Executiva. Mestre e Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, iniciou a carreira profissional como docente universitária nesta instituição e, até 2017, conciliou a atividade de docência com a prática de advocacia de negócios. Em 2014, foi distinguida com Menção Honrosa no âmbito do V Prémio Wolters Kluwer de Artigos Jurídicos Doutrinários. O seu livro Quatro Gerações à Mesa foi considerado o melhor livro de culinária de Portugal, pelos Gourmand World Book Awrads (2016) e o 3.º melhor do mundo, pelos gourmand World Book award, 2017. Desenvolve a atividade de consultoria e formação junto de prestigiadas equipas e organizações.
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