Cláudia Coelho é licenciada em Engenharia do Ambiente pelo Instituto Superior Técnico, tem uma pós-graduação em Sistemas de Gestão Ambiental pelo ISQ e fez um Programa de Direção de Empresas da AESE. Tem uma carreira de 20 anos feita na indústria e também como consultora, sendo atualmente responsável pelos serviços de Sustentabilidade e Alterações Climáticas da PwC. Tem experiência com grandes empresas nacionais de diversos setores de atividade, em áreas relacionadas com a estratégia de sustentabilidade, a gestão da pegada de carbono, a gestão de riscos ESG, os índices de sustentabilidade, o reporting e o assurance de sustentabilidade, entre outras. Cláudia Coelho acompanha internamente o Programa Net Zero 2030 da PwC Portugal.
O que a levou a escolher a licenciatura em Engenharia do Ambiente?
Sempre fui muito ligada à Natureza, cresci em Sintra e por isso o ambiente faz parte de mim e da forma como vivo e vejo o mundo. Julgo que essa terá sido a principal razão, por acreditar que era possível desenvolver atividades económicas de forma responsável e que preservasse este bem tão precioso que nos envolve e nos proporciona a qualidade de vida que temos. Por isso, para quando chegou à altura de escolher um curso, e dado que tinha uma preferência pelas disciplinas ligadas à matemática e às ciências, esta foi a escolha mais natural.
Como foi o seu percurso até chegar à PwC?
Depois de concluir a licenciatura em Engenharia do Ambiente, no Instituto Superior Técnico, e antes de integrar a PwC, tive três experiências profissionais distintas e que me permitiram ter uma visão completa da gestão do ambiente nas várias perspectivas: Estado, consultoria e empresas. A minha primeira experiência profissional foi no Estado, na altura Direção Regional do Ambiente, onde acompanhei projetos de infraestruturas nas áreas da água e saneamento. Em seguida mudei para o Instituto de Soldadura e Qualidade, onde tive o primeiro contacto com a consultoria na área do ambiente. Finalmente, conheci o lado do cliente, através de uma experiência numa indústria do setor automóvel, onde fui responsável pela área de ambiente. Cada uma destas experiências teve o seu papel no meu desenvolvimento, permitindo-me melhorar e desenvolver conhecimentos e métodos de trabalho, e ao mesmo tempo, perceber exatamente do que mais gostava.
O que a atraiu na consultoria depois de um início de carreira mais no “terreno”?
As experiências que tive permitiram-me concluir que a minha preferência era claramente a consultoria — a possibilidade de trabalhar com várias empresas, de vários setores, em temas e desafios distintos e sempre a acompanhar as tendências regulatórias e de mercado são para mim uma enorme motivação. Adicionalmente, gosto muito do contacto com pessoas e acabo por criar laços que vão para além da mera relação profissional.
“Fui recrutada grávida, algo que traduz muito bem o espírito e princípios da PwC, postos em prática”
Qual a missão que lhe foi entregue na PwC?
Quando integrei a PwC vim reforçar uma equipa muito pequena — fui a terceira pessoa na equipa da altura. Não posso deixar de mencionar que fui recrutada grávida, algo que foi para mim uma boa surpresa e que traduz muito bem o espiríto e princípios da PwC, postos em prática. Menos de um ano depois de ter entrado na PwC o responsável pela área saiu, e acabei por ficar com um papel mais relevante. A partir daí fui evoluindo, a área foi crescendo e a equipa aumentando, até chegarmos ao dia de hoje, em que somos uma equipa de 25 pessoas que trabalham na área de sustentabilidade e alterações climáticas, e muitas outras que trabalham temas ESG (Environmental, Social e Governance) noutras áreas de serviços da PwC. O principal desafio atual é o da integração da perspetiva ESG nos vários serviços da PwC, que é uma prioridade estratégica da firma ao nível global.
Quais as mudanças mais importantes que viu acontecer nesta área nestes 20 anos de carreira?
Para quem trabalha nesta área há tanto tempo, este é claramente um momento único. Depois de muitos anos em que o tema era desenvolvido numa lógica de compliance legal, por requisito de algum cliente ou por estratégia de comunicação, chegámos ao momento em que o tema é um fator essencial de sucesso de praticamente todas as empresas. Durante muito tempo quem trabalhava nesta área tinha de ter duas características essenciais, dedicação e resiliência. Finalmente, depois de um período em que apesar de reconhecidas as vantagens de uma gestão sustentável e os riscos ambientais e sociais, o tema chegou à agenda da gestão. Os principais drivers para esta alteração são os investidores ou financiadores, em resultado de compromissos de investimento responsável assumidos e de requisitos legais para o setor financeiro, e os clientes, nomeadamente as grandes empresas com requisitos para a sua cadeia de valor, e consumidores finais, com preferências cada vez mais assumidas.
Quais as principais tendências na sua área e que desafios se colocam?
Os desafios atuais são enormes, pois tal como noutras áreas, a tendência é para uma evolução muito rápida destes temas. Torna-se assim necessário que as empresas sejam céleres a reagir, nomeadamente na integração destes fatores na sua estratégia de negócio e na definição das respetivas metas, em particular na área das alterações climáticas. Só assim poderão assegurar o cumprimento dos requisitos de reporting (com todos os desafios associados à recolha de informação), atender e responder aos requisitos dos clientes e ter um bom desempenho na avaliação de performance ESG por agências e índices, entre outros.
Qual o projeto em que mais se orgulha de ter participado?
Felizmente, são muitos! E estes projetos têm em comum serem projetos em que efetivamente percebemos que toda a organização acaba mobilizada e envolvida e isso é cada vez mais comum. Os projetos que temos desenvolvido nos últimos anos têm um envolvimento muito grande das administrações e resultam na definição de estratégias e iniciativas que verdadeiramente têm um impacto no negócio, nos produtos e na forma como a organização atua e comunica com os vários stakeholders (clientes e investidores / financiadores, em particular).
Qual sente que tem sido o seu maior contributo nesta área?
Acho que o maior contributo é mesmo o ter vindo ao longo do tempo a disseminar informação sobre este tema, pois como referi há uma evolução muito grande e parte do processo foi a formação e awareness das pessoas sobre o tema. Durante este tempo temos desenvolvido diversos estudos ao nível nacional e participámos em diversos eventos onde partilhámos informação sobre as tendências e alertámos para os riscos e oportunidades. De certa forma fiz parte do caminho de amadurecimento do tema e contribuí para que as empresas apoiadas pela PwC chegassem a este momento mais preparadas e com um trabalho sólido já desenvolvido, assumindo nalguns casos posições de liderança nos seus setores a nível nacional e internacional.
“Nesta área em particular, e porque está em constante evolução, é essencial ter uma vontade constante de aprender”
Internamente quais as medidas com mais impacto que a PwC tem adotado?
A atuação da PwC nesta área é para mim um motivo de orgulho. Ao nível internacional foram assumidos compromissos relevantes, como a meta Net Zero 2030, que a firma portuguesa proativamente assumiu, antecipando até os prazos definidos ao nível global. A forma como os meus colegas das várias áreas da PwC aderiram a este tema e procuram explorar soluções com menos impacto ambiental e social representam bem a cultura PwC. Em termos de iniciativas concretas, destacaria a utilização de electricidade de fontes renováveis em Portugal, a redução drástica do consumo de plástico e de papel.
A Engenharia é ainda uma área muito masculina, mas a Engenharia do Ambiente é uma das poucas em que as mulheres estão em maioria. O que atrai as mulheres para esta área?
Existem alguns contextos históricos que tiveram e podem ainda ter impacto no rácio homens/mulheres nos diferentes cursos, mas esta situação tem vindo a ser alterada e atualmente as engenharias, por si, não se diferenciam na forma como atraem os homens e as mulheres. O caso concreto da engenharia do ambiente poderá ser explicado pelo próprio tema, bem como por oferecer a possibilidade de conjugar competências mais técnica, com outras mais soft, como as da comunicação, entre outras.
Que conselho deixaria a uma jovem executiva que queira fazer carreira na sua área?
Que o essencial é acreditar no que fazemos, procurar sempre dar o nosso melhor e sobretudo, gostar de que faz. Só assim conseguimos a motivação necessária para procurar continuamente inovar, fazer aquele esforço extra para pensar em soluções que não podem ser “one size fits all”. Nesta área em particular, e porque está em constante evolução, é essencial ter uma vontade constante de aprender e saber mais, só assim conseguimos ser verdadeiramente úteis para os nossos clientes!