CUPRA Talks by Executiva: Sustentabilidade, mitos e realidade

Juntámos Nathalie Ballan, fundadora e CEO da Sair da Casca, e Pedro Teixeira, diretor de Sustentabilidade do Neya Hotels, para uma conversa sobre sustentabilidade na CUPRA City Garage Lisboa.

Nathalie Ballan, da Sair da Casca, e Pedro Teixeira, do Neya Hotels, foram os protagonistas desta conversa sobre sustentabilidade.

A Executiva e a Cupra promoveram mais uma CUPRA Talks by Executiva, desta vez sobre “Sustentabilidade: mitos e realidade”. O espaço CUPRA City Garage Lisboa, no coração da capital, voltou a acolher uma plateia interessada para assistir a uma conversa inspiradora entre Nathalie Ballan, fundadora e CEO da Sair da Casca, e Pedro Teixeira, diretor de sustentabilidade do Neya Hotels.

Na abertura do evento, Teresa Lameiras, diretora de Comunicação e Marca da SIVA|PHS, deu as boas-vindas a todas as participantes que se reuniram, mais uma vez, neste stand de automóveis, um espaço único e tão especial, há dois anos a fazer vibrar o coração de Lisboa. Congratulou-se pela história de irreverência e alegria desta marca desafiante e sofisticada, nascida há seis anos em Barcelona, e que conquistou o mercado português, com vendas que acompanham o seu crescimento. Desde que abriu portas, o CUPRA City Garage Lisboa mostrou ser um espaço diferenciador, onde acontecem experiências exclusivas e únicas, como a de Realidade Virtual, totalmente imersiva, que permite fazer uma viagem ao universo virtual da marca, a decorrer até ao final de junho, mediante inscrição na página oficial.

Nesta conversa, conduzida pela Executiva, ficámos a conhecer melhor Nathalie Ballan, fundadora da Sair da Casca, a primeira empresa totalmente focada na sustentabilidade e inovação, em Portugal, e Pedro Teixeira, que lidera a sustentabilidade do Neya Hotels e conta com mais de duas décadas de experiência nesta área. Apaixonados por esta área, ambos fizeram um ponto de situação sobre o tema e apontaram os desafios para o futuro.

 

“Ser uma jovem mulher e vir de França facilitou-me bastante o contacto comercial”

Foi por amor que Nathalie Ballan deixou o seu país natal, a França, para viver em Lisboa “que há 30 anos não estava muito na moda” e casar com um português. Sem conhecer ninguém, nem falar a língua, trazia na bagagem um sentido de missão e propósito e uma ideia que já alimentava há muito tempo, “queria fazer alguma coisa que tivesse impacto positivo na sociedade.” Nas suas várias vidas, recorda que começou a trabalhar muito cedo, enquanto estudava, começando por se formar na Sorbonne, em Filosofia e História, e logo a seguir em Jornalismo, que exerceu durante alguns anos. Mas foi o seu trabalho em organizações não governamentais, relacionadas sobretudo com a grande pobreza, que a levou a questionar o modelo de governação do terceiro setor, afirmando que “naquela época não era o reino da transparência, havia muito amadorismo, muito voluntariado e não era o meu mundo.”

O formato empresarial foi o projeto que idealizou, “teria de ser uma empresa, mas com uma missão de impacto social.” A Sair da Casca nasceu – três anos depois de chegar ao nosso país, em 1993 – da sua absoluta convicção de que as empresas e as organizações são capazes de contribuir para uma sociedade sustentável e para “responder às minhas dificuldades, às minhas experiências passadas, era o que queria que fosse para mim uma vida profissional.” Foi a primeira empresa em Portugal totalmente focada na sustentabilidade e inovação, numa altura em que o tema era muito incipiente no país, e “não era um vocabulário que se usava.”

Sem concorrência, foi fácil entrar no mercado e superar essa prova de fogo. “Acho que o facto de ser uma jovem mulher e vir de França facilitou-me bastante o contacto comercial”, explica a fundadora e CEO desta consultora, destacando que nessa época, já se falava bastante de cidadania empresarial, “podem não saber, mas Portugal foi um país pioneiro e bastante avançado em termos de sustentabilidade ambiental e social, havia muitas empresas familiares, um pouco paternalistas, mas que tinham uma grande preocupação com os seus trabalhadores.” Garante que o mais difícil foi aprender português, e “depois, ganhar o primeiro grande cliente.” Nessa altura, valeram-lhe as Páginas Amarelas e a revista Exame como ferramentas de prospeção de mercado “foram o meu LinkedIn.” Uma carta enviada ao dono da Sonae, Belmiro de Azevedo, garantiu-lhe o primeiro grande projeto e ainda hoje continua a trabalhar com o Grupo. “Não foi assim tão difícil entrar, o difícil foi sobreviver depois”, afirma.

  

“O nosso objetivo é ter tudo menos: menos consumo de água, de gás, de energia elétrica, de emissões de CO2, menos viagens”

A paixão pelo ambiente está no ADN de Pedro Teixeira, que desde muito jovem sempre olhou para o planeta com vontade de encontrar soluções para o tornar melhor para viver. Nunca teve dúvidas de que a sua vida profissional seria no ambiente. Nem quando teve de escolher o curso, mesmo sabendo que daria uma desilusão aos pais. “Para mim era óbvio escolher Engenharia do Ambiente, que na altura, em 1992, só existia em Lisboa, Aveiro e em Faro, onde me licenciei,” explica. Desde que se formou, que trabalha em gestão ambiental, já lá vão mais de 25 anos, sempre no setor do turismo. Começou por aplicar os seus conhecimentos na Expo 98, no departamento do Ambiente “por seis meses”, tendo depois trabalhado, durante quase 15 anos, no Belas Clube de Campo, na implementação de sistemas de gestão ambiental  nos campos de golfe e resorts do Grupo Jordan, até integrar o Neya Hotels, em 2013, como diretor de sustentabilidade.

O setor do turismo, e muito menos os campos de golfe, não é aquele que imediatamente identificaríamos como mais preocupado com a sustentabilidade, nomeadamente ambiental. Para Pedro Teixeira, “isso depende dos agentes, e a maioria do agentes em Portugal está focada no negócio e não na sustentabilidade.” Reconhece que teve a “sorte de ter encontrado e trabalhado com dois agentes  no mercado que se preocupam genuinamente com a gestão ambiental.”

Em 1998, quando ingressou no Belas Clube de Campo, já o Grupo, fundado por André Jordan, era pioneiro na aplicação de normas de gestão ambiental aos campos de golfe para reduzir o seu impacto. Durante a década de 1990, por falta de evidências e de estudos ambientais, os campos de golfe eram acusados pelos ambientalistas de consumir milhares de litros de fitofármacos, de aplicarem milhares de toneladas de adubos e de acabarem com a água dos furos.  O Grupo Jordan assumiu a dianteira na resposta a estes ataques, implementando sistemas de gestão ambiental nos campos de golfe, “monitorizámos os impactos ambientais (quantos fitofármacos é que se aplicam, quantos adubos aplicam, qual a água que se gasta) e monitorizámos os aquíferos do subsolo, para ver se efetivamente a água desaparecia”, afirma Pedro Teixeira, destacando que “isso é que é gestão ambiental” e que, efetivamente, os níveis da água se mantinham.

O seu “segundo momento de sorte”, aconteceu em 2013, quando foi convidado para integrar o grupo hoteleiro Neya Hotels e implementar um sistema de gestão ambiental, dois anos depois da abertura do Neya Lisboa, que já se distinguia pelas práticas pioneiras de sustentabilidade. “Faço a gestão dos hotéis ao nível da implementação de sistemas de gestão ambiental, para dar resposta e minimizar os impactos ambientais. Temos outro hotel no Porto, desde 2020, com uma gestão ambiental idêntica. O nosso objetivo é ter tudo menos: menos consumo de água, de gás, de energia elétrica, de emissões de CO2, menos viagens.”

 

“A sustentabilidade já deixou de ser um tema técnico, hoje é um tema moral e político”

Aos olhos de Nathalie Ballan, uma referência na área da sustentabilidade, Portugal é um país muito especial, recordando que nos anos 1990 havia um grupo de empresários com muita vontade de dar outros passos e de “criar um movimento para a sustentabilidade empresarial, que tiveram muito mais impacto do que a Sair da Casca”, e sublinha, “a nossa notoriedade é muito maior do que a nossa dimensão real.”  As empresas portuguesas tinham, por um lado “esta vocação quase cultural de dar o seu contributo à sociedade, apesar de não se usar ainda o vocabulário da sustentabilidade, e por outro, tinham de respeitar a aplicação das diretivas. Foi um movimento de convergência.”

A executiva francesa não se cansa de enfatizar que tudo é sustentabilidade e que esta ultrapassa a responsabilidade das empresas. Basta considerar que o planeta foi emprestado e não o podemos deixar pior às gerações futuras do que o encontramos, porque “a sustentabilidade é o projeto político, a nível global, que todos temos, para deixar este planeta num estado viável, quando já cá não estivermos.”

É peremptória ao dizer que “falar de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável sem nuances é uma prova de pouca inteligência.” Como é então possível ter-se uma postura sustentável? Percebendo os impactos das atividades de cada pessoa e aquilo a que cada uma está disposta a renunciar. “Passo a minha vida a fazer trade off e a ver o que é menos mau. E a única coisa que não tem impacto é não consumirmos.” Considera, por isso, que temos de ser analíticos, relativamente rigorosos e pensar nas consequências de tudo o que fazemos, “e há um momento em que podemos, sim, tomar decisões radicais, a nível pessoal, como deixar de viajar de avião, não comprar um carro, não comprar um telemóvel todos os anos.” Por isso, revela, “a sustentabilidade já deixou de ser um tema técnico, é um tema moral e político.”

Pedro Teixeira partilha a mesma visão, confessando que o futuro não se avizinha risonho, pois “temos mais tecnologia, há mais consciência, mas somos muitos mais. Dar conforto a cerca de 9 mil milhões de pessoas no mundo, é diferente de darmos a 2 mil milhões, que éramos há poucas dezenas de anos atrás. O planeta é limitado, quer em espaço físico, quer em recursos.” E se é verdade que o mundo evoluiu muito, também recuou muitos passos atrás, e Pedro Teixeira exemplifica: “arranjaram forma de servir café às pessoas todos os dias, com impacto ambiental infinitamente maior do que era há uns anos. As máquinas de cápsulas, têm milhões de toneladas de alumínio e plástico.”

 

“Cientificamente não se compensa nada, o que está emitido fica na atmosfera”

Nathalie Ballan leva muito a sério o seu papel de consultoria e um dos projetos de que mais se orgulha de ter ajudado a desenvolver é o Projeto Leite de Vacas Felizes, da marca açoriana Terra Nostra, detida pelo grupo Bel, de raiz francesa, que salvou os produtores de leite de S. Miguel da crise do setor, criando um modelo de negócio completamente sustentável, contribuindo para a sobrevivência económica de uma profissão e apostando na qualidade do produto e na melhoria ambiental. “Estudaram as pastagens, convenceram os produtores a mudarem as suas práticas e a deixarem as vacas 100% do ano nas pastagens.” Os resultados não se fizeram esperar: “com o leite mais saboroso, o packaging revisto, a alimentação da vaca quase exclusivamente de erva das pastagens, chegou-se ao objetivo da agricultura regenerativa nos Açores, algo muito inovador, que significa dar à natureza mais do que se retira dela.”

Com a campanha em marcha, foi preciso reagir à polémica e comprovar que as vacas eram efetivamente felizes. “Descobrimos que havia uma certificação de bem-estar animal especificamente das vacas, com uma definição das suas 5 liberdades. Conseguimos comprová-las e obtivemos a certificação”, afirma.

A promoção para um caminho mais sustentável é feita pelo Neya Hotels através de vários procedimentos, sendo o objetivo macro reduzir o lixo. Desde a sua criação que esta cadeia hoteleira tem a separação de resíduos nos quartos, “o que ainda hoje é raro”, diz Pedro Teixeira sublinhando que já atingiram uma taxa de de separaçao de resíduos, em Lisboa e Porto, na ordem dos 76% a 80% e que a meta é reduzir o lixo, tendo sido implementadas ações nesse sentido, como é caso dos amenities recarregáveis, que já existem desde a abertura do primeiro hotel. “Não temos lixo dessas embalagens , a redução é zero, não temos garrafas de plástico, nem de vidro. Os hotéis são totalmente abastecidos por energia verde, e a temperatura do hotel é constante. Temos objetivos de reduzir anualmente 5% a 10%.”

A sensibilização de clientes e colaboradores é um trabalho quase diário, que Pedro Teixeira considera fundamental para “desmistificar a ideia de que quando o cliente chega ao hotel como pagou o alojamento pode levar roupões, chinelos ou shampos. Por isso, não os temos disponíveis nos quartos, é um serviço que considero supérfluo.”  Esclarece ainda que, apesar de o Neya Hotels não ser uma cadeia neutra em  CO2, “fazemos a compensação dessas emissões com área de reflorestação.”

Sobre este assunto, Nathalie Ballan é peremptória ao afirmar que “gostava de eliminar do vocabulário a palavra compensar”, porque “cientificamente não se compensa nada, o que está emitido fica na atmosfera.” Há muitas emissões que não se podem reduzir a 100%, nem se podem evitar, e “as empresas têm um gesto generoso, plantando árvores ou investindo numa pradaria marinha, contribuindo para a neutralidade carbónica a nível global, o que é ótimo.” Mas o que já está feito de emissões, fica no planeta e “compensar é como comprar uma indulgência”, diz Nathalie Ballan, deixando um aviso: “quando as empresas se gabam muito de serem carbono neutro é preciso ter cuidado. Quando dizem que são carbono negativo desconfiem.”

 

“Quando uma profissão só atrai mulheres, quer dizer que é mal paga e pouco reconhecida. É um mau caminho”

Apesar de ambos reconhecerem que a sociedade em geral está mais informada e sensibilizada para a questão da sustentabilidade, há ainda muito a fazer. As gerações mais novas, “estão mais interessadas, mas não é suficiente, e vejo alguma desresponsabilização”, afirma Pedro Teixeira .

Nathalie Ballan explica que os jovens de hoje não são mais militantes na causa ambiental do que eram os jovens da sua geração, e os estudos comprovam-no. “Se há 30 ou 40 anos, 15% dos jovens do norte da Europa, eram militantes radicais ambientalistas, muito envolvidos em partidos de extrema esquerda, hoje, a proporção é a mesma, mas muito poucos se vão envolver com partidos, e o interesse político passou para a militância nas ONG’s. É ótimo para estas organizações, mas a nível de projeto político, fico preocupada.”

Outra das preocupações que não esconde que a deixa “irritada” é quando entra numa empresa e “vejo que a equipa de responsabilidade social é 100% de mulheres. Não gostaria que a sustentabilidade e as responsabilidades sociais fossem associadas às mulheres”, diz. “Quando uma profissão só atrai mulheres, quer dizer que é mal paga e pouco reconhecida. É um mau caminho.”

 

 

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