Depois de dois confinamentos que nos obrigaram a viver em pleno as quatro paredes de nossa casa, o desafio deste espaço tornou-se maior. Vivemos a casa de uma nova forma e percebemos que é uma peça estrutural na saúde das famílias. Mas não sabíamos já isso? Em teoria sim, mas quando vivenciámos foi diferente.
E com esta nova realidade tornou-se ainda mais importante repensar o tema da importância da escolha da habitação. O que para mim é o mesmo que dizer, a escolha da casa green. Uma casa concebida para ser ambientalmente sustentável e saudável.
Profissionalmente estou comprometida com duas fortes missões: a de colocar o parque habitacional português e espanhol na rota da eficiência energética e a de colocar as famílias a poupar recursos, sejam ambientais, sejam financeiros. Isto porque uma coisa está intimamente ligada à outra: uma casa com elevada eficiência energética poupa o ambiente, mas poupa também os faturas de energia. E é daí que vem a urgência em aplicar estes planos no dia-a-dia.
A utilização de elementos naturais que, nos anos 50, conferiam uma tendência estética às novas casas – através do uso passivo da luz solar, aproveitando-a sem necessidade de mecanismos elétricos – acaba por ser percebida como eficiência energética, guiando a evolução tecnológica para a utilização destes recursos. Esta tendência, meramente iniciada pelo design e pela estética, acabou por ser a o início de uma reflexão sobre a casa, com o intuito de potenciar a utilização dos recursos naturais disponíveis, como a luz natural.
[Muitas famílias] não perceberem que a eficiência energética é muito mais do que ser amigo do ambiente, é também ser amigo do seu próprio bolso, uma vez que é uma fonte de poupança a longo prazo.
Esta filosofia tem consequências visíveis naquilo que é a poupança das famílias que, para começar, começam a pagar menos nas faturas energéticas. Uma casa com elevada eficiência energética é, por exemplo, uma casa com o devido isolamento térmico, que permita conservar o calor dentro de casa no inverno e não o deixar entrar no verão, reduzindo assim as necessidades de aquecimento e refrigeração. Se aplicarmos estas metas na nossa casa, mais do que reconhecê-la como um lugar que nos alberga, conseguimos tornar o “green” num fator decisivo e mensurável. É aqui que me parece que muitas famílias se perdem, por não perceberem que a eficiência energética é muito mais do que ser amigo do ambiente, é também ser amigo do seu próprio bolso, uma vez que é uma fonte de poupança a longo prazo.
Mas, finalmente, a confluência destes caminhos leva-nos ao título que aqui me trouxe: a saúde. É um facto que a configuração de uma casa – tendo em conta elementos como a humidade, falta de luz natural ou baixo conforto térmico – pode influenciar entre 5 a 20% a nossa saúde mental, pelo que é urgente falarmos destes temas. Tomando em consideração esses fatores, há uma série de dicas importante a reter ligadas à temperatura da casa – que se deve manter nos 21º no inverno e 26º no verão –, pois viver a baixas temperaturas afeta a pressão arterial e aumenta a frequência cardíaca ou, o contrário, o excesso de calor, aumenta a desidratação, e a probabilidade de surgirem infeções ou problemas respiratórios e de pele; ao ar interno, pois dada a longa permanência em ambientes fechados é imprescindível que haja uma boa qualidade desse ar, com a ajuda de sistemas de filtragem e purificação do mesmo, ou também através do uso de plantas que contribuem para essa purificação.
Com o crédito habitação green conseguiremos assim dar um impulso à melhoria do perfil energético das habitações, com uma consequente melhoria das condições de saúde de quem as habita e redução das emissões de carbono.
Mesmo uma casa que não seja recente, e não tenha todas as comodidades e critérios que atualmente têm de ser respeitados no processo de construção, pode tornar-se mais saudável e eficiente do ponto vista energético através da realização de obras, e é nesse ponto que o crédito habitação green entra, uma solução cujas bases foram traçadas pela Energy Efficient Mortgages Initiative (EEMI), desenvolvida pela European Mortgage Federation (EMF), um projeto pioneiro a nível europeu que reuniu mais de 50 entidades, entre as quais a UCI.
É cada vez mais importante perceber que o futuro tem de passar pela sustentabilidade e que a casa, sendo um espaço em que há elevados consumos energéticos, tem de fazer parte desse processo. Ao escolher uma casa, é fundamental que se perceba que há outros aspetos da casa que devem ser tidos em conta. Tal como se fazem escolhas no linear do supermercado, optando por produtos com menor pegada ambiental, também o processo de escolha de casa e do crédito habitação deve-se guiar por princípios de sustentabilidade e nesse contexto o crédito habitação green é a solução ideal, permitindo a aquisição de imóveis novos com certificação energética A+, A e B ou de imóveis usados com certificação energética A+ e A com condições de financiamento mais vantajosas, condições de que também pode beneficiar quem comprar um imóvel de uma classe energética superior e realize obras que melhores em 30% a eficiência energético do imóvel. Conseguiremos assim dar um impulso à melhoria do perfil energético das habitações, com uma consequente melhoria das condições de saúde de quem as habita e redução das emissões de carbono.
Temos de estar cientes e assimilar quais os fatores que, dentro da nossa casa, estão a afetar a nossa saúde diariamente. Só assim poderemos compreender como melhorar as condições deste nosso espaço e aplicar as reformas necessárias, que nos farão estar numa casa que promova a nossa saúde física e mental, ao mesmo tempo que contribui para a saúde do planeta.