Carla Rebelo é diretora-geral do Adecco Group em Portugal
É atribuído ao décimo sexto presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln a frase “Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser colocar à prova o carácter de um homem, dê-lhe poder”.
Dizem os especialistas que o hard power é a mais ineficaz e primitiva das forças humanas. Já a fé, assim como o futebol, a ciência, a língua e a cultura, são exemplos do poder que seduz (soft power), sendo, portanto, mais eficiente em movimentar uma multidão, sem precisar da força bruta. Mas o hard power é capaz de deteriorar a força do poder suave com igual efetividade.
Assim, poder suave é a habilidade de conseguir o que se quer pela atração e não pela coerção ou por pagamento, bem como a capacidade de conseguir atingir o resultado desejado, simplesmente porque os liderados querem o que o líder quer. A sedução é sempre mais eficaz que a coerção. Em termos comportamentais, o poder suave é o poder da atração.
O poder suave de um País reside principalmente na sua cultura, nos seus valores e nas suas políticas. O poder suave evita as ferramentas tradicionais de política externa da típica cenoura e do castigo, procurando, em vez disso, angariar influência através da construção de redes, comunicando narrativas convincentes, estabelecendo regras internacionais e aproveitando os recursos que tornam um país naturalmente atraente para o mundo. De acordo com o ranking internacional SoftPower30, Portugal ocupa o 22º lugar, à frente do Brasil, China ou Rússia, mas atrás de Espanha, Itália ou França. O poder suave dos países influencia diretamente a capacidade de venda dos seus produtos, funcionando como uma espécie de country branding.
Nas empresas e nas organizações em geral, o soft power não se encontra através da leitura dos organigramas, requerendo maior análise e profundidade de pensamento não linear. Não obstante, são poucos os gestores que, para conhecer realmente uma empresa, fazem este estudo.
Há empresas cuja cultura se afirma como um poder suave. Existem líderes que são seguidos como uma religião, o que significa que são também uma fonte de poder suave. A força das mobilizações que estes fazem é indestrutível, mas também incomensurável. No entanto, os resultados obtidos pelo poder suave nem sempre são previsíveis nem mesmo desejáveis. Este poder coopta as pessoas em vez de as coagir, modelando as suas preferências.
Ou como disse Joseph Nye, escritor e cientista político, que nos finais dos anos 80 criou o conceito, “o poder é como o amor: é mais fácil de sentir do que definir ou medir” ou ainda Lao-Tsé (o velho mestre) , referindo-se à sabedoria da água, “a suavidade supera sempre a dureza”.
Leia mais artigos de Opinião de Carla Rebelo aqui
Leia a entrevista de Carla Rebelo à Executiva aqui