Carla Rebelo é diretora mundial do negócio de recrutamento permanente da Adecco.
As forças em ação numa decisão de recrutamento e seleção, mudaram, e para sempre. Aos candidatos é-lhes hoje reconhecido o poder quase absoluto que têm de escolher entrar, ficar ou sair de uma empresa. As empresas por sua vez, passaram a contar com mais uma fragilidade séria para representar nas suas matrizes de risco do negócio: a de não conseguir atrair, reter ou desenvolver o talento de que necessitam para prosperar. São já profusos os estudos nacionais e internacionais e as teorias que se desenvolvem sobre retenção de talento e, até mais recentemente, sobre a dramática tendência do “quiet quiiting”, que não se trata de um colaborador se despedir, mas, pior do que isso, alude à vulgar expressão de alguém se está “a borrifar” para o que acontece à sua volta.
Como prelúdio para resolução desta escassez (não de talento, mas da capacidade de o atrair e de o reter) as empresas desenham planos de comunicação do seu propósito. Por que esse sim, advogam a maior parte dos conhecedores destas matérias, é a incepção de todos os temas que afetam a empresa. Acontece, porém, que também o ser humano nasce com um propósito, pese embora ao longo da vida o vá esquecendo, graças às periclitantes crenças limitantes (normalmente generalizações) que lhe vão impondo. E tudo o que é desagradável é o terreno fértil para desenvolver os principais mecanismos ao serviço do esquecimento: a repressão e a negação, gerando assim como que um processo de anestesia interna.
Só que os muros que nos protegem também são os que nos isolam, diz Sri Prem Baba, autor do livro Propósito, a coragem de ser quem somos. Para o autor, o propósito é o programa da alma, já que a completude somente é alcançada quando o ser e o fazer se alinham. Quando isto não ocorre, a química do corpo humano modifica-se e quando os níveis de serotonina e dopamina baixam, o ser humano deprime. Há que plantar dons para colher talentos. O autor defende ainda que, a criança vai cedendo a influências externas, adquirindo crenças e reprimindo a sua expressão natural, e como a fundação da personalidade tem lugar nos primeiros sete anos de vida, estes parâmetros e paradigmas vão permear toda a vida da pessoa. E é assim que forças contrárias ao seu propósito são criadas. O programa da alma (o propósito) impele a pessoa a mover-se numa direção, mas a mente condicionada por fatores externos faz com que siga noutra. Esta contradição gera sofrimento.
Ora, o match perfeito dos propósitos é a chave para uma relação duradoura e mutuamente realizadora e só se garante quando, por um lado, às empresas interessar contratar “a pessoa por inteiro” e quando, por outro, o candidato conheça tão bem o seu propósito como conhece as suas habilitações e qualificações.
O autoconhecimento é sinónimo de lembrança de si próprio, é o “mapa do tesouro” e quando se encontra sabemos que estamos no lugar certo, mesmo que tudo pareça estar errado.
Quis saber quem sou, o que faço aqui… (1974)
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