Carla Rebelo: Decussação

Partindo do princípio da decussação, Carla Rebelo, diretora mundial do negócios de recrutamento da Adecco, aconselha a observar a natureza para entender a dificuldade na retenção de talento.

Carla Rebelo é diretora mundial do negócio de recrutamento da Adecco.

Carla Rebelo é diretora mundial do negócio de recrutamento da Adecco.

 

Que toda a evolução biológica das espécies, assenta na mitigação de risco parece simples de entender, tendo em conta que o objetivo é assegurar a sua sobrevivência.

As estratégias dessa gestão da continuidade caracterizam-se em evitar o que as pode destruir. Nas empresas os gestores do século passado ainda priorizam mais disaster recovery plans, do que coletes à prova de bala.

A tática (imitativa) para a evolução das empresas pode ser mais simples: observar a natureza e obter as repostas.

Existe um princípio essencial na neuroanatomia dos seres vertebrados chamado de decussação. A decussação das fibras nervosas do sistema nervoso é conhecida desde a Antiguidade. Já Hipócrates anotara que uma lesão no lado esquerdo da cabeça causava convulsões na parte direita do corpo. Mas a explicação desse fenômeno que parece, à primeira vista, desnecessariamente complicada, mostra que o sistema nervoso é uma das questões mais difíceis da neurociência. Ramon y Cajal chamou-lhe uma das questões mais intrigantes da biologia.

Segundo algum consenso científico, este sistema (em forma de X, portanto, cruzado) permite que perante um sinal de perigo percecionado por exemplo à direita, certos neurónios motores (da esquerda) são ativados e movimentam-se no sentido de evitar esse mesmo perigo, movimentando o corpo na direção contrária pela ativação dos respetivos músculos, ou seja, para a esquerda.

De acordo com os neurocientistas, no próximo século a evolução do cérebro não será só biológica, mas na interface cérebro – máquina. Estaremos talvez, nessa altura, na era do Homo Cyber Sapiens. Seria importante que antes de lá chegarmos tivéssemos conseguido entender a espécie anterior.

Por todo o Mundo as empresas se debatem neste preciso momento com um mesmo problema: como reter o talento?

Sim, isso mesmo, a retenção de talento é neste momento um tema ainda mais preocupante que a própria atração de talento. Podemos listar um conjunto de razões pelas quais deixamos uma empresa, mas acredito que um bom sumário seria explicado pela generalizada falta de conhecimento básico sobre os organismos vertebrados. É que, veja-se, o talento sai quando perceciona algum tipo de “perigo” porque a sua reação biológica e neuroanatómica será “voar” na direção oposta ao perigo.

Se puderes olhar, vê, se puderes ver, repara.

 

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