Carla Rebelo: Precisa-se de novo CEO, Chief Emotions Optimizer

Carla Rebelo, diretora-geral do Adecco Group em Portugal, deixa o alerta: trabalhar as emoções é, cada vez mais, uma das tarefas mais importantes de um executivo.

Carla Rebelo é diretora-geral do Adecco Group em Portugal.

Carla Rebelo é diretora-geral do Adecco Group em Portugal

 

De um ponto de vista patológico não é o princípio bacteriano nem o viral que caracterizam a entrada no século XXI, mas sim o princípio neuronal. Todo o mundo imunológico se define em função da ideia de ataque e defesa.  Na esfera social, a este dispositivo imunológico subjaz uma cegueira: tudo o que é estranho será eliminado. Mesmo que o estranho não tenha qualquer intenção adversa, mesmo que não represente nenhum perigo, a sua alteridade conduzirá à sua eliminação. A alteridade é a categoria fundamental da imunologia.

Vivemos tempos de alta reação imunológica. Porém, nunca foi tão evidente que é apenas gerindo as diferenças, para com elas agregar valor à organização, que se reúnem as condições essenciais para a fazer avançar.

Trabalhar as emoções é pois, cada vez mais, uma das tarefas mais importantes de um executivo. Com a crescente robotização de tarefas, o ser humano promete tornar-se mais intenso naquilo que lhe é único – a senciência. Porém, durante anos a sociedade tem optado por tentar resolver temas emocionais com recurso a meios artificiais de estímulo dopaminérgico. O doping permite uma espécie de rendimento sem trabalho.

Segundo Damásio, qualquer tipo de sentimento ou emoção, causados por acontecimentos reais ou imaginários, mobiliza o intelecto. A emoção ocupa o lugar central da ação do ser humano. Um pensamento gera uma emoção e a emoção gera o comportamento. Trabalhar nos pensamentos, como e porque se constroem, estando atento ao modo como geram outros é o único modo de ajudar nas emoções. E precisamente, o dom da escuta, exigível a um líder, assenta na capacidade de prestar uma atenção profunda e contemplativa, capacidade que está vedada ao ego hiperativo dos nossos dias. A redução do “Eu” possibilita um aumento de mundo (Byung Han).

Acresce que, numa sociedade cansada as emoções se tornam ainda mais importantes. O cansaço desperta, porém, uma visibilidade especial, a que Handke se refere como “cansaço clarividente”, ou como diz “o cansaço profundo afrouxa o espartilho da identidade, a rígida demarcação que separa umas coisas das outras parece suprimida”.

Muito se tem falado na necessidade de reskilling e upskilling, de muitas, se não todas, as funções das organizações, mas pouco se tem reformulado a lista de características necessárias para uma posição de líder – mor. A capacidade de visão requerida tem que ser amplificada face aos standards corporativos atuais. Não creio que esta seja uma discussão que possa deixar de ser feita. Afinal, tudo começa por ensinar às crianças que “what is essential is invisible to the eye” (Antoine de Saint – Exupery).

 

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