Festa das vindimas no Douro

Os músicos, o da viola, com 84 anos, e o do acordeão, com 68, animavam a festa, enquanto se cantava, dançava e petiscava em mais um dia de fim de vindimas de beira rio Douro.

O baile não faltou na festa de fim das vindimas, ao som do viola com 84 anos e do acordeonista com 68 anos.

De 20 de Agosto a 29 de setembro, fora o desafio constante trazer as uvas dos 48 hectares de vinhedos até aos lagares da adega da Quinta dos Murças, perto de Covelinhos, para serem pisados a pé, como manda a tradição, já depois do final do dia. Uns ficam mais alcantilados do que outros, e as inclinações das encostas chegam a aproximar-se dos 50%.

Procissão sem padre

O ramo à frente da procissão, entre a adega e a casa, mostra que a última uva para vinho já foi colhida.

Em todos os rostos se via, à chegada, o cansaço do trabalho árduo, e a vontade de repousar nos corpos descontraídos. Como habitual, a procissão sem padre reunira-se na adega, e subira mais um pouco até à casa, cozinha/sala de refeições, onde uma grande mesa cheia de comida esperava todos, para o último repasto juntos do ano. À frente, a incansável Sílvia, uma das responsáveis do enoturismo da quinta, trazia o habitual ramo de fim de vindima, indicando a todos o caminho para a festa.

Após as palavras do enólogo, sobre a forma como tinham corrido os dias de vindima, salientando como tudo se tinha passado bem, ainda de forma mais positiva que no ano anterior, mesmo que com novas pessoas, foi hora de começar a festa.

Primeiro, o acordeão, depois, a viola, começaram a soar, e a seguir foram as vozes dos presentes, pelo menos as dos menos acanhados, aqueles que sabiam os versos das músicas. E houve quem não resistisse a um pé de dança, enquanto os outros se levantavam para mais um pastel de bacalhau, um rissol ou um croquete, feito pela Ana, a cozinheira da casa. Também uma cerveja, um copo de vinho ou sumo. Leonel, o marido e caseiro da quinta, não resistiu a deitar uma lágrima, enquanto olhava tudo aquilo com alguma nostalgia de um tempo intenso, mas bem vivido.

Tinto e bacalhau espiritual

E todos se foram despedindo até que ficámos nós, à conversa com ele, falando de um javali manco, ferido pelos homens por causa das tropelias que tinha feito. Atravessara o rio Douro até ao outro lado, onde fora abatido.

Mas também da forma como se deve semear tomate coração de boi ou pepino, segundo a tradição daquelas terras, e de outras histórias.

Foi com bacalhau espiritual, alto, com lascas saborosas e um toque de puré, com vinho tinto da marca Ânfora da vindima mais recente, feito com uvas da parcela de minas da Quinta, que terminámos esse dia, depois de um fim de semana muito agradável, num lugar único da Terra, a Região do Douro. Depois de uma noite bem dormida, começara com uma bela caminhada, desde um dos pontos mais altos da propriedade até próximo de um casario em ruínas. Incluiu uma prova de vinhos da empresa, na companhia do enólogo, José Luís Moreira da Silva, privilégio de jornalista, e um polvo assado delicioso, feito pela Ana, a cozinheira da casa. Foi um almoço retemperador, que convidou a permanecer por ali, nos jardins da casa, a olhar o rio e o seu movimento de barcos, desde os pequenos veleiros aos grandes navios de cruzeiro. De vez em quando, a aproximação de um comboio convidava a levantar para mais uma foto. E foi assim que o tempo se foi passando por ali até à festa de fim das vindimas, num lugar de uma região que vale sempre a pena ir, e voltar.

Enoturismo Quinta dos Murças

No rio, os barcos de passageiros passam a toda e qualquer hora, numa região cada vez mais procurada pelos turistas

Com grandes salas com vista para o Douro, cinco quartos, uma piscina e uma grande varanda, é uma casa confortável, decorada de forma tradicional. Pequeno almoço é agradável, com ovos mexidos feitos na hora, e a equipa é simpática e eficiente.

Morada: Covelinhas, 5050-011 Peso da Régua
Tel.: + 351 934 550 006
E-mail: [email protected]

Vinhos em destaque

Murças Ânfora 2017

Produtor: Esporão

Propriedade: Quinta dos Murças

Castas: Tinta Francisca, Tinto Cão

(17/20)

Vinho que não está ainda no circuito comercial, pois só há à venda na loja da Quinta dos Murças, por ser produzido em pequenas quantidades. De cor granada e aroma limpo, onde se salientam as notas de fruta vermelha e balsâmicas, é um vinho elegante na boca, fino, fresco e longo. Bom parceiro de assados no forno de peixe e carne, principalmente aquele que incluem um bom azeite. Servir entre os 15-16ºC, para que possa ir abrindo no copo.

Murças Reserva 2015

Produtor: Esporão

Propriedade: Quinta dos Murças

Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão, Tinta Amarela, Tinta Barroca, Tinta Roriz

(18,5/20)

Vinho de cor rubi e aroma contido complexo, com notas de frutos pretos e do bosque, fruta madura e especiarias da madeira onde estagiou durante um ano. Boca muito equilibrada, com grande concentração e volume, taninos muito finos e final longo dominado pela fruta prata madura. Um tinto harmonioso e elegante, que se pode beber agora após decantação, ou durante muito mais anos. Um tinto para carnes grelhadas.

Fotos: José Miguel Dentinho e Cristina Dentinho

Publicado a 05 Outubro 2019

Partilhar Artigo

Parceiros Premium
Parceiros