Beatriz Lemos, negócio com glamour

Entrevista com a fundadora da Glam, agência que gere um portefólio de 60 celebridades como Alexandra Lencastre, Rui Unas, Júlia Pinheiro, Diana Chaves, Claudio Ramos, Nelson Évora, Tânia Ribas Oliveira, João Paulo Sousa, Pedro Fernandes ou Jorge Gabriel. 

Beatriz Lemos é fundadora da Glam Agency.

Beatriz Lemos trabalhou como como relações públicas em espaços nocturnos no Porto, como o River Caffé, o Mau Mau, o Voice, entre outros sítios, para pagar os estudos em Engenharia Publicitária, na Universidade Fernando Pessoa. Essa primeira experiência profissional proporcionou-lhe o conhecimento de alguns artistas. Depressa se apercebeu que  existiam agências de modelos, mas havia uma lacuna no mercado de agenciamento de apresentadores de televisão e atores.  Desafiou o irmão e juntos arriscaram num projeto pioneiro: o agenciamento de celebridades. Decorridos 19 anos, a Glam tem dois escritórios, no Porto e em Lisboa, 14 colaboradores e e os seus cinco departamentos gerem um portefólio de 60 celebridades: desportistas como o campeão olímpico Nelson Évora ou  Ricardinho, o melhor jogador de futsal do mundo; ou atores e apresentadores como Alexandra Lencastre, Rui Unas, Júlia Pinheiro, Diana Chaves, Cláudio Ramos, Tânia Ribas Oliveira, João Paulo Sousa, Pedro Fernandes ou Jorge Gabriel.

Quais as principais dificuldades que enfrentou inicialmente e como evoluiu a empresa?

O facto de estar no Porto foi, inicialmente, um obstáculo. Não estava nem nunca estive na cidade que tomava decisões, apesar de ter começado muito cedo a fazer viagens regulares entre Porto e Lisboa. Em termos relacionais, os clientes, a comunicação social e os diretores de canais não estavam habituados a ter um interlocutor. E foi desafiante conseguir convencer as pessoas a receberem-me, respeitarem uma miúda, na altura, e ainda por cima mulher, numa área que não tinha os procedimentos que hoje em dia são intuitivos. Nos primeiros tempos, foi bastante complicado, porque não éramos vistos como um facilitador ou consultores de negócios.

O que mudou entretanto?

Hoje em dia é completamente diferente. Os canais, clientes e imprensa trabalham lado a lado connosco e em parceria.

Em que consiste a vossa atividade? 

A Glam sempre foi um pouco diferente, porque fomos a primeira agência especializada em figuras da televisão — seja atores ou apresentadores. O meu objetivo sempre foi gestão de carreira e de imagem de personalidades públicas.

Propomos e negociamos as contratações de apresentadores e atores para projetos de entretenimento e ficção. Propomos, junto das marcas, os nomes das nossas personalidades, para campanhas publicitárias, bem como fazemos toda a gestão da comunicação e assessoria do agenciado. Como costumo dizer, quem está na Glam tem um serviço 360º, que vai desde a gestão da atividade principal, potenciação de outras áreas de trabalho, gestão integral da presença em imprensa ou eventos, até compra de carros, viagens de férias, ou as roupas que vestem. Tratamos de tudo, uma prestação absolutamente completa. O mesmo acontece com um cliente: se contratarem a Glam para um evento, nós temos o/a apresentador (a) como o Rui Unas, a Júlia Pinheiro ou a Diana Chaves, temos um bailarino e coreógrafo como o Cifrão, que cria um momento de dança com a sua equipa de bailarinos, atores que fazem stand up comedy como o Aldo Lima, o Miguel Costa ou o João Paulo Rodrigues e Pedro Alves, temos o Nelson Évora que, como medalhado olímpico e um percurso desportivo absolutamente admirável, é requisitado como orador motivacional e inspirador, etc.

Apesar das diferenças de mercado e dos nossos valores serem mais baixos, somos um país bastante atrativo para os brasileiros.

A Glam tem uma representação no Brasil. Quais as principais diferenças que regista entre o mercado português e o brasileiro?

Temos há cerca de 5 anos uma parceria com a maior agência de profissionais da televisão do Brasil, a Montenegro Talents, visto que temos o departamento da Glam Internacional. No qual, representamos no mercado europeu, nomes como Betty Faria, Claudia Raia, Eva Wilma, Silvia PfeiferZezé Motta ou Francisco Cuoco. São nomes maiores e universais da ficção brasileira, que sempre teve um grande impacto em Portugal e que fazem parte das nossas memórias.
A principal diferença entre os dois mercados é, sem dúvida, a escala. O Brasil é um país enorme, com uma população extraordinária, a um ritmo alucinante e que consome muita cultura. O facto de terem plataformas como a Netflix e a Amazon que compram, por ano, centenas de produções locais permite que os atores tenham mais oportunidades. A dimensão do mercado cinematográfico e de teatro não tem qualquer comparação com o nosso. Isto, sem mencionar, os valores astronómicos que a publicidade brasileira atinge. Apesar das diferenças de mercado e dos nossos valores serem mais baixos, somos um país bastante atrativo para os brasileiros. Aliás, temos inúmeros atores e apresentadores que gostavam de vir trabalhar para Portugal.

A internacionalização para outros mercados está nos vossos horizontes?

Neste momento, depois de alguns anos de trabalho, temos a nossa relação com o mercado brasileiro consolidada. Já tivemos experiências com os mercados Bollywood e já conseguimos que atores fossem representados por agências nos, Estados Unidos, Itália, França ou Espanha. Inclusive, agenciamos no departamento Glam Internacional o bailarino internacional Joaquín Cortés.

Quais os principais desafios que este setor enfrenta atualmente?

Neste contexto de pandemia, em que numa fase inicial perdemos cerca de 40% da nossa faturação, tivemos de, mais uma vez, nos reinventar. Fomos proactivos e conseguimos atrair marcas para projetos no digital. Conseguimos estimular projetos que estavam em stand by a avançarem sob condições de pagamentos mais flexíveis. Com isso, nós e outros players do mercado, ajudamos as empresas e os clientes a saíram do choque e a reagirem, adaptando-se a esta nova realidade de consumo de entretenimento. Durante a pandemia, criámos condições para viabilizar os desafios que nos foram propostos. Por exemplo, tivemos a Ana Guiomar a gravar uma campanha de publicidade e um programa de televisão em casa, o Cifrão com várias iniciativas de dança online patrocinadas pelo Millennium bcp, o Nelson Évora a dar palestras semanais aos colaboradores do Montepio Crédito, o Miguel Costa com a oferta de vários produtos para o segmento infantil, entre muitos outros.
Neste momento, os programas de televisão estão no ar, as novelas já iniciaram gravações. E já temos todas as peças de teatro reagendadas para arrancarem a partir de Setembro.

Qual o momento de que mais se orgulha?

Ao fim de quase 20 anos, felizmente, são tantos que já perdi a conta. Mas destaco as grandes transferências de apresentadores e atores da nossa televisão. Durante um processo de negociação de um contrato com a SIC, a Júlia Pinheiro — que eu sempre admirei, mas com quem nunca me tinha cruzado—, gostou da forma como conduzi este processo e perguntou-me se eu queria ser agente dela. E não só me tornei a primeira e única agente que teve, como hoje é uma boa amiga. Mais recentemente, termos o Cláudio Ramos à frente do reality show mais mediático que temos foi, sem dúvida, mais uma conquista. Quando o Nelson Évora ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos foi, igualmente um dos momentos de maior orgulho desta agência. Está connosco há 13 anos, já recebeu duas condecorações presidenciais e todos os anos nos continua a inspirar e encher de orgulho. A Glam Music ter feito o produto “D.A.M.A”, que se tornou num dos maiores fenómenos musicais de Portugal, é também um orgulho. E, por fim, não posso deixar de destacar, os agenciados que estão connosco desde o dia 1, como o Jorge Gabriel, o Rui Unas, a Sónia Araújo e a Diana Chaves. E isto, é um motivo de orgulho enorme!

Atualmente, e ao contrário do que a maioria pensa, em Portugal, as mulheres em televisão recebem mais dinheiro do que alguns homens.

Há diferenças entre trabalhar com desportistas ou actores? 

Na parte operacional e de terreno não há grandes diferenças. Temos a sorte de trabalhar com os melhores dos melhores das suas áreas e são todos humildes, sabem ouvir e percebem que estamos com eles nos bons e nos maus momentos, independentemente de, por vezes, não concordarmos com decisões que tomam.

Temos uma equipa jovem, dedicada e muito protetora para com todos, que consegue dar seguimento às suas necessidades, porque o seu tempo é muito limitado. Por isso, já organizámos casamentos e festas de aniversário, já alugamos um jacto privado para um agenciado que queria fazer uma surpresa para a namorada, ou uma ida à festa dos Óscares.

Que mitos gostaria de desfazer acerca das celebridades?

São pessoas completamente normais, com família, com vida privada.Quando andam no shopping sem estarem de sorriso no rosto não é porque não sejam simpáticos, é apenas porque estão na vida deles.

O mercado das celebridades valoriza e remunera as mulheres de igual forma que os homens? 

Atualmente, e ao contrário do que a maioria pensa, em Portugal, as mulheres em televisão recebem mais dinheiro do que alguns homens.

Que conselho deixaria a uma jovem que ambicione fazer carreira nesta indústria?

Tem que ter a certeza daquilo que quer fazer profissionalmente, com a consciência de que é difícil (mas não é impossível) e salvaguardar a sua vida privada. Tem também que ter uma estrutura emocional forte, para conseguir gerir tanto grandes ausências de trabalho, como temporadas muito exigentes.

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