Jeffrey Pfeffer, um dos maiores especialistas em questões de poder nas organizações, ensina como conquistar, usar e manter o poder. Umas das primeiras lições, que as mulheres deveriam ouvir com particular atenção, é que o bom desempenho no trabalho não garante um cargo de poder ou a longevidade na empresa. O mundo não é “um lugar justo e honesto”, assegura o autor de obras como O Poder ou Gerir Com Poder: Políticas e Influências Nas Organizações.
Jeffrey Pfeffer é professor de comportamento organizacional na escola de negócios da Universidade de Stanford, onde leciona desde 1979. É também professor convidado em várias universidades, entre as quais a de Harvard, a London Business School e o IESE em Barcelona. Autor e co-autor de 15 livros e mais de 120 artigos e capítulos de livros, recebeu vários prémios entre os quais o Richard I. Irving Award, da Academy of Management, pelos seus contributos para as teorias de gestão, e a inclusão na lista Thinker 50, como um dos 25 mais influentes pensadores da Gestão.
Nesta entrevista, realizada por e-mail, o professor reflete sobre o poder feminino, não deixa de alertar que as mulheres são, em regra, menos competitivas, e incentiva a “chegarem-se à frente”.
Porque é que as mulheres estão sub-representadas no topo das organizações?
As mulheres estão sub-representadas nas posições de topo das empresas por várias razões. Existe uma discriminação nos salários e nas promoções, como tem sido documentado amplamente pela investigação. As pessoas tendem a escolher outros que lhes são semelhantes – portanto, empresas onde a administração de topo é dominada por homens tendem a escolher homens para promoções. Enfrentando a discriminação de género, é razoável que as mulheres estejam mais inclinadas para seguirem oportunidades de empreendedorismo ou desistirem do mercado de trabalho, deixando menos mulheres a competir pelas funções tradicionais. As mulheres ainda enfrentam uma parte desproporcional das responsabilidades domésticas e do cuidado parental. Por isso, em média, trabalham menos horas que os homens, o que também reduz os seus salários e as possibilidades de promoção.
A investigação tem mostrado que as mulheres tendem a ser menos orientadas para a influência social e, mais uma vez em média, parecem ser menos competitivas que os homens. Estes factos também não ajudam no desenvolvimento da carreira.
As mulheres não devem ficar à espera que o mundo faça aquilo que deveria fazer, acabe com a discriminação de género e trate as pessoas com justiça.
Do seu ponto de vista, precisamos de mais mulheres no poder ou mais poder nas mulheres? O que é que as mulheres deviam fazer em relação a esta questão?
Precisamos de ambos – mais mulheres no poder e mais poder nas mulheres. Como sublinho no meu livro Poder: Porque é que Algumas Pessoas o Têm – e Outros Não, as pessoas gostam de acreditar que o mundo é um lugar justo e honesto Se as pessoas trabalharem muito e fizerem bem o seu trabalho, as coisas acabarão por acontecer. As mulheres tendem a evitar as estratégias mais agressivas de autopromoção e networking, que podem conduzir a um maior sucesso profissional. As mulheres são mais relutantes em demonstrar revolta ou em transgredir as normas sociais – ambos podem contribuir para se ser percecionado como alguém poderoso.
Por isso, a minha recomendação é que as mulheres não fiquem simplesmente à espera que o mundo faça aquilo que deveria fazer, acabe com a discriminação de género e trate as pessoas com justiça. As mulheres devem aprender sobre o poder e a influência e adotar estratégias e táticas que promovem o sucesso profissional. O sucesso profissional está relacionado com competência política. As mulheres precisam de fazer o que tem de ser feito para serem bem-sucedidas e deixarem de ficar à espera que o mundo seja como “devia” ser.
As regras do jogo favorecem, naturalmente, aqueles com o poder de ditar as regras. Enquanto não houver mais mulheres no poder, nada irá mudar.
Uma vez afirmou “É tempo de as mulheres aceitarem que o sistema está viciado – e aprenderem a ganhá-lo”. É tempo das mulheres se “disporem a”, mas, por outro lado, se o mundo corporativo não é justo para as mulheres, porque é que têm de ser as mulheres a mudar e porque é que nós todos (homens e mulheres) não decidimos transformar o mundo corporativo? O que é que poderia ser feito a este nível, para mudar as regras deste jogo?
A regra do jogo devia mudar. Mas como é que isso vai acontecer? Como é que as coisas se vão tornar mais justas para as mulheres? Somente quando houverem mais mulheres em posições de poder. Como eu digo às vezes, se nós queremos que o poder seja utilizado para o bem, mais pessoas boas têm de ter poder. As mulheres precisam tender para o poder e dominar as competências de influência, pois de outro modo como irão as coisas mudar? Não é esperando que o mundo se torne um lugar justo e honesto, para que as organizações mudem as suas práticas de recrutamento e promoção. As regras do jogo favorecem, naturalmente, aqueles com o poder de ditar as regras. Enquanto não houver mais mulheres no poder, nada irá mudar – e a única maneira das mulheres obterem poder é, em primeiro lugar, aprenderem e abraçarem os princípios que eu descrevo no meu livro Poder.
Os estudos demonstram poucas diferenças significativas de género no comportamento de liderança.
As mulheres são líderes diferentes dos homens? O género define, ou afeta, o estilo, a eficácia e o talento natural de liderança?
Numa palavra, não. Os estudos demonstram poucas diferenças significativas de género no comportamento de liderança.
As mulheres precisam de modelos de liderança que as inspirem?
Eu não acredito que a inspiração consiga muito, como defendi em Leadership B.S. As mulheres não precisam de inspiração. As mulheres – e os homens – precisam de factos, dados e evidências. Eles precisam de compreender como funciona o mundo – e porque é que funciona dessa maneira. Eles precisam de informação. Então, munidos dessa informação, eles precisam de traçar um percurso, e depois executar o seu plano, para chegar ao poder.