A formação e atividade musicais de António Vassalo Lourenço iniciaram-se aos 8 anos na Fundação Calouste Gulbenkian, onde estudou violino e fez parte do Coro Infantil. Estudou Canto na Academia dos Amadores de Música, tendo concluído em 1990 o Curso Superior no Conservatório Nacional de Lisboa. Cantou em diversos grupos profissionais entre os quais o Coro Gulbenkian, entre 1982 e 1993, e dirigiu diversos coros em Portugal.
A sua carreira como maestro iniciou-se no Coro Regina Coeli, com o qual obteve prémios em concursos internacionais. Em 1996 terminou o mestrado em Direção de Coro e Orquestra pela Universidade de Cincinnati (EUA), onde também foi assistente, tendo concluído o doutoramento em Direção de Orquestra em 2005. Frequentou cursos de Direção Coral em Portugal, Espanha, França e Bélgica, e foi aluno da classe de Direção da Orquestra Metropolitana de Lisboa. Foi maestro adjunto da Orquestra da Juventude Musical Portuguesa e assistente de direção da Concert Orchestra de Cincinnati. Como maestro convidado dirigiu diversas orquestras e coros em Portugal, Espanha, França e nos Estados Unidos da América.
Em 2006, criou o Estúdio de Ópera de Centro, projeto que tem desenvolvido importante atividade formativa e tem realizado por todo o país produções de ópera que incluem, para além da apresentação de importantes óperas de repertório, produções em português, ópera portuguesa e ópera para crianças. António Vassalo Lourenço é também diretor artístico do Festival de Música de Leiria, que terminou este fim de semana.
“Não é possível falar das mulheres que marcaram, ou ainda marcam, a nossa vida sem pôr em primeiro lugar aquelas que nos estão mais próximo e que, de alguma formam, ajudaram a moldar, ou ajudam a construir, aquilo que somos.
A Avó Paterna – Da avó Elisa guardo uma ténue memória, morreu quando eu entrava na adolescência, mas que me acompanhou durante toda a vida pela sua infindável bondade e pela tranquilidade que transmitia. Mulher do campo, mãe de família, com uma força interior e uma abnegação enorme, criou nove dos onze filhos que deu à luz, e com uma capacidade de sofrimento em silêncio, para que ninguém se perturbasse. Quando faleceu foi a primeira vez que verdadeiramente senti a perda de alguém que nos é muito próximo. A sua figura, discreta mas sempre presente, continua gravada na minha memória.
A minha Mãe – A minha mãe partiu recentemente, já este ano. Partiu serena e tranquila como sempre tinha sido em toda a sua vida. Enviuvou relativamente cedo, aos 51 anos, estávamos em 1983, e continuou a criar os seis filhos com a sua paciência inesgotável e com a bondade e serenidade que nos transmitiu a todos. Nessa altura tinha eu 21 anos, sou o mais velho dos irmãos, e o meu irmão mais novo tinha apenas 10 anos de idade. Desde então a minha mãe acompanhou todos os nossos momentos, os melhores e os piores, sem sobressaltos. No meio das adversidades havia sempre uma ideia e um pensamento positivo. Por trás de uma aparente fragilidade estava uma mulher fortíssima que nunca se resignou e que lutou contra as adversidades da vida, mas também que compreendeu, aceitou e apoiou todas as escolhas dos filhos, mesmo que eventualmente não fossem da sua vontade. Posso dizer que foi a pessoa que esteve presente em todos os momentos mais importantes da minha vida adulta e que contribuiu decisivamente para o que sou hoje como pessoa, como esposo, como pai e como profissional.
A minha Mulher – A Isabel é a minha âncora. Está comigo há mais de 28 anos, começámos a namorar em 1988 e casámos em 1995, e representa o meu equilíbrio emocional. Já passei com ela mais de metade da minha vida e não consigo pôr em palavras o que lhe devo por estar sempre presente e por partilhar comigo esta família fantástica, que ela tantas vezes teve que acompanhar sozinha devido às minhas ausências e apesar de ter também vida profissional bastante preenchida. A Isabel tem aquelas qualidades que só as mulheres, “as grandes mulheres”, conseguem ter. Apesar da sua exigente atividade profissional, os cinco filhos e a casa, “a família”, estão sempre primeiro. Mas estão mesmo! Coisa para nós, os homens, não passa por vezes de uma boa intenção sem, ou com pouca, consequência. Dou muitas graças por ter ao meu lado a mulher que me preenche, me completa, me equilibra e, em conjunto com os meus filhos, faz a minha vida ter verdadeiro sentido.
No campo profissional tenho que destacar a minha professora de música e primeira maestrina.
Leonor Moura Esteves foi a maestrina do Coro Infantil da Fundação Calouste Gulbenkian, onde estudei música e me iniciei a cantar com 8 anos de idade e tendo aí permanecido até aos 12. Apesar de ter sido há já muito tempo, preservo na minha memória os tempos fantásticos que aí passei, os concertos no Grande Auditório da FCG com o Coro e a Orquestra, as gravações nos estúdios da Emissora Nacional e os programas para RTP.
Longe de saber que esse iria ser o meu futuro, reconheço que a figura deste maestro, neste caso uma maestrina, sempre me despertou curiosidade e admiração. O saber e a exigência que punha no seu trabalho, mas também a forma pedagógica com que lidava connosco são ainda uma fonte de inspiração para o meu trabalho diário. Talvez tenha começado aí a minha formação como maestro.