A Bridgewhat, plataforma digital que pretende impulsionar o crescimento sustentável das empresas, fazendo a ponte entre as suas necessidades e diversos especialistas, não é o primeiro projeto empreendedor de Ana Paula Reis. Licenciada em Gestão e Administração de Empresas pelo ISCTE, com um MBA na Universidade de Navarra e um programa executivo em Harvard, a executiva trabalhou mais de 12 anos em multinacionais até que em 2012 cofundou a Seldata, de que viria a ser CEO, e em 2002 a Selplus, de que foi general manager e depois administradora. Em 2018 juntou-se à Bynd VC como partner desta sociedade gestora de capital de risco que investe em startups nas áreas digital e ciências da vida, com ligação aos países ibéricos.
No início de 2020 decidiu aventurar-se de novo por conta própria com Paulo Morgado, com quem já trabalhara antes. Desde o início souberam que iriam trabalhar remotamente, uma vez que Ana Paula Reis está em Lisboa e o seu sócio em Madrid. Nem mesmo a pandemia, que entretanto apanhou o mundo de surpresa, os impediu de fazer reuniões com muitas empresas e organizações situadas em Portugal, Espanha e diversos países do continente Europeu, Americano e Asiático. “O trabalho remoto impôs-se como uma realidade única, sob a qual construímos a cultura Bridgewhat, criamos e materializamos ideias e o modelo de negócio, implementamos atividades, incluindo a do próprio lançamento no mercado”, assume, “desde o momento da decisão de avançar até agora, eu e o meu sócio encontramo-nos presencialmente umas cinco vezes, nas quais somamos menos de 40 horas de trabalho efetivo.”
O grande desafio deste modelo de trabalho colocou-se quando a Bridgewhat — negócio totalmente compatível com o desempenho de trabalho remoto — começou a crescer e foi preciso atrair, selecionar e recrutar pessoas, fazendo-as sentir-se inteiramente parte de um projeto e de uma equipa com a qual se relacionam apenas de modo virtual. Hoje conta com 18 colaboradores “altamente experientes e reputados, cujos objetivos pessoais e da fase de carreira em que se encontram, são totalmente alinhados com este formato de envolvimento com a empresa”, diz. Nesta entrevista, Ana Paula Reis partilha os requisitos e os alertas para que um recrutamento online corra na perfeição.
Quais os requisitos para fazer um bom recrutamento online?
Um bom recrutamento online, na perspetiva do empregador, necessita cumprir diversos requisitos iniciais de publicação e de seleção. Quanto aos requisitos de publicação, destacaria:
. Definir com clareza o lugar para o qual vamos recrutar, a respetiva descrição de funções e lugar no organigrama e contexto da empresa
. Listar as competências técnicas, conceptuais e interpessoais desejadas, determinando o grau de domínio de cada uma e os aspetos não negociáveis
Só depois de ter definido os requisitos anteriores me parece possível determinar se, realmente, o recrutamento online é a melhor opção, ou até se é possível, uma vez que existem várias funções cujo tipo de atividades envolvidas recomendam outro tipo de opções.
Por outro lado, a determinação de qual/quais os meios onde a oportunidade de recrutamento será publicada é fundamental para o alinhamento entre a necessidade da empresa e as respostas obtidas — em que canais online se movem estas pessoas? Acrescento ainda a necessidade de determinar o melhor período para levar a cabo esse recrutamento, considerando eventuais aspetos temporais que determinem a qualidade dos recursos disponíveis.
Quanto aos requisitos de seleção, para além dos que têm a ver com o alinhamento entre o perfil objetivo definido pela empresa e as respostas obtidas, destacaria a importância absoluta da verificação das credenciais dos candidatos selecionados, incluindo as que se referem a testemunhos e recomendações e com as quais conseguimos, com confiança, interagir e questionar. No mundo do online, as credenciais e a sua verificação são aspetos fundamentais para o estabelecimento de relações de confiança.
É muito importante a partilha dos contactos pessoais e das melhores formas de o fazer garantindo que, apesar da distância física, o contacto permanente é possível e bem acolhido.
Que procedimentos segue para garantir uma boa integração dos novos elementos na equipa?
Num contexto online os novos elementos necessitam ainda mais de apoio no seu processo de integração. Por essa razão, construímos, explicitamos e partilhamos um plano de integração, onde constam diversas sessões online de:
. Apresentação da empresa e contexto da função: visão, missão, objetivos, princípios, regras de funcionamento, organigrama e responsabilidades,
. Apresentação detalhada da função que irá desempenhar: funções, responsabilidades, atividades, tarefas e resultados esperados,
. Objetivos esperados do indivíduo, acompanhados da definição dos respetivos critérios e métricas de avaliação
Por outro lado, nesse plano incluímos também sessões específicas de apresentação com outros colegas com quem se irão relacionar, dando a esses colegas a responsabilidade de gerir a sessão e garantir o entendimento mútuo das responsabilidades de cada um e das áreas em que irão interatuar. Estas sessões são muito importantes, não só para a nova pessoa, como para os que já estão na empresa e que se sentem envolvidos e responsáveis pelo sucesso no acolhimento do novo colaborador.
Um aspeto muito importante deste processo tem a ver com a integração imediata nos rituais da empresa, nomeadamente no que se refere aos processos estabelecidos de seguimento regular da atividade e reporte do ponto de situação e trabalho de cada um.
Finalmente, um aspeto muito importante é a disponibilização do acesso, pela partilha dos contactos pessoais e melhores formas de o fazer, garantindo que, apesar da distância física, o contacto permanente é possível e bem acolhido, garantindo um ambiente de confiança e interajuda.
O trabalho à distância, exige mecanismos de comunicação ainda mais intensos e estruturados, destinados a promover a proximidade, o envolvimento pessoal e sentimento de pertença e responsabilidade de e pela equipa.
O que pode correr mal?
Esta prática tem riscos idênticos ao do recrutamento offline, embora aumente o grau de incerteza. O grande risco desta prática tem a ver com uma possível diminuição do processo de comunicação e, por essa via, um aumento da insegurança pessoal que o dificulta ainda mais. Este é um risco elevado, com consequências para o negócio pela falta de envolvimento pessoal, quebra de motivação e produtividade. O grande alerta que quero deixar é que o trabalho remoto, à distância, exige mecanismos de comunicação ainda mais intensos e estruturados, destinados a promover a proximidade, o envolvimento pessoal e sentimento de pertença e responsabilidade de e pela equipa.