Ana Gentil Martins é diretora executiva da CBRE desde 2017, empresa para onde entrou assim que terminou a licenciatura em Gestão de Empresas, em 1992. Nasceu numa família numerosa e seguiu o exemplo acabando por ter oito filhos. Diz que apesar de nunca ter ambicionado uma carreira de sucesso, sempre gostou muito de trabalhar e tenta desempenhar, diariamente e da melhor forma possível, as suas funções, tanto no contexto profissional como familiar. Uma arte que nem sempre é fácil de conciliar e que implica muito trabalho, espírito de sacrifício, flexibilidade e alguma organização, mas que Ana Gentil Martins parece dominar.
“Ser mãe de uma família numerosa suscita, por norma, alguma curiosidade. Ser mãe de uma família numerosa e compatibilizar isto com uma função de enorme responsabilidade numa multinacional suscita ainda mais.
Faço parte da equipa da CBRE Portugal há 28 anos e ao longo deste período tive a graça de trabalhar com pessoas que me ajudaram a crescer, tanto do ponto de vista profissional como pessoal. Adquiri uma rica e valiosa experiência e cruzei-me com diversas pessoas e projetos que foram decisivos para o meu percurso na empresa. Atualmente, na posição de Chief Operations Officer, supervisiono as áreas financeira, de compliance e recursos humanos, com o apoio de uma equipa em quem confio, altamente profissional e com uma motivação ímpar.
A dimensão profissional da minha vida não é uma dimensão paralela à da minha vida pessoal e familiar. Pelo contrário, são duas dimensões que fazem parte da minha vocação.
A dimensão profissional da minha vida não é uma dimensão paralela à da minha vida pessoal e familiar. Pelo contrário, são duas dimensões que fazem parte da minha vocação. Sou casada há 27 anos e tenho 8 filhos, com todas as dinâmicas e exigências, mas sobretudo alegrias que isso traz. Sempre desejei ter uma família numerosa, mas nunca tive a pretensão de achar que seria capaz de determinar a minha vida ou a minha carreira. Assim, a minha evolução profissional não resulta de um projeto meu, mas da resposta que fui dando às circunstâncias com que fui confrontada.
Outro fator muito importante neste meu caminho é a certeza de que não o faço sozinha. Sei que a minha vida me foi dada e que Quem ma deu me ampara em todas as circunstâncias. É também essencial a companhia dos amigos que ao longo destes anos me foram ajudando a viver os desafios que fui experimentando.
A felicidade dos nossos filhos não depende seguramente dos bens materiais que lhes conseguimos proporcionar, mas da descoberta de um sentido para a sua própria vida.
Parece-me que a razão que leva muitas famílias a optarem por ter poucos filhos tem muito a ver com a busca da felicidade em coisas materiais, no desejo de conseguir dar aos filhos uma vida financeiramente confortável e sem sacrifícios. A mim, parece-me que o sacrifício faz parte de uma vida verdadeira e que sem ele não é de facto possível construir uma família ou uma carreira profissional. A felicidade dos nossos filhos não depende seguramente dos bens materiais que lhes conseguimos proporcionar, mas da descoberta de um sentido para a sua própria vida.
Por não ter a habilidade de me ver totalmente de fora e sobretudo por estar habituada ao ritmo das minhas semanas, o meu dia-a-dia parece-me bastante normal, igual ao de tantas outras mães com carreiras exigentes e que fazem alguns malabarismos para garantir que acompanham o crescimento dos filhos com a proximidade necessária e se empenham na sua educação, enquanto não descuram a entrega de resultados na organização onde trabalham.
Para obter resultados deveremos focar-nos onde realmente vemos potencial e eventualmente abandonar processos que, mesmo entusiasmantes, não nos permitirão colher tantos frutos.
Contudo, existem algumas aprendizagens decorrentes do meu contexto e que me parecem poder contribuir para a gestão destas duas dimensões, familiar e profissional.
. Profissionalmente foi para mim muito importante trabalhar e aperfeiçoar a minha capacidade de delegar. Evidentemente, é-me impossível estar presente em todos os processos e supervisionar todos os detalhes e para isto é imprescindível construir uma equipa sólida, transmitir-lhe conhecimento e dar-lhe autonomia na tomada de decisão. Obviamente isto não quer dizer que eu não esteja envolvida nos projetos e decisões que moldam o futuro da empresa, quer apenas dizer que é importante definir prioridades, ter uma visão 360˚ e saber motivar através da autonomia e da responsabilização.
. Ainda no âmbito profissional, diria que é importante selecionar bem quais são os reais motivos de preocupação e os projetos ou áreas que requerem um envolvimento maior e que exigem que eu adote uma postura mais operacional e não tanto de supervisão. Para obter resultados deveremos focar-nos onde realmente vemos potencial e eventualmente abandonar processos que, mesmo entusiasmantes, não nos permitirão colher tantos frutos.
Os erros são uma oportunidade de aprendizagem e um caminho para crescermos como pessoas e profissionais.
. No âmbito familiar, conto com o apoio do meu marido nas tarefas diárias próprias de uma família numerosa e, sobretudo, na missão da educação dos nossos filhos, que é uma tarefa permanente e que tem de ser feita com uma grande unidade entre nós. Ao mesmo tempo, é muito impressionante ver a entreajuda que naturalmente se cria numa família numerosa e a atenção e o apoio que os mais velhos dão aos mais novos. Foi também essencial para mim a escolha da escola dos meus filhos, de um projeto educativo que lhes transmitisse uma educação verdadeira e onde encontrassem adultos que pudessem ser para eles testemunhas de um caminho cheio de significado.
É certo que as coisas, apesar do nosso desejo de perfeição, muitas vezes não são perfeitas, e que muitas vezes erramos e não conseguimos alcançar os objetivos a que nos propusemos. Mas mesmo esses erros são uma oportunidade de aprendizagem e um caminho para crescermos como pessoas e profissionais.
Vejo que assim, num modelo em que nos ajudamos uns aos outros, aprendemos a dar valor ao que é realmente importante e conseguimos tirar partido das coisas fantásticas que uma vida exigente, mas cheia de significado, nos oferece.”