A CEO da Channel 4, Alex Mahon, a primeira mulher no cargo, em quatro décadas de história deste canal público de televisão britânico, garante que o seu papel, enquanto líder “é assumir a culpa pelos outros”, considerando ser da sua responsabilidade, “dar cobertura às pessoas que estão abaixo de mim e ajudá-las.” Salienta que “é por isso que somos mais bem pagos, e não porque somos os melhores. Pagam-nos mais, porque temos de assumir responsabilidades e estar preparados para isso.” Esta noção de responsabilidade também se reflete na sua atitude perante a tomada de decisões, afirmando que “nenhuma decisão fácil deveria ser tomada pelo CEO. As únicas decisões que deveria assumir são as muito difíceis ou as muito arriscadas.”
Não considera que o trabalho de um líder seja solitário, “a mim seguem-me até à casa de banho”, diz, com graça, embora reconheça que pode ser complicado “quando não temos a certeza de uma resposta e é preciso perguntar aos outros o que pensam, porque as pessoas nem sempre estão habituadas a isso. Estão à espera de que saibamos sempre a resposta.” Considera que um líder tem de ser curioso, destacando que “a curiosidade leva-nos a mostrar compaixão pelos outros, a aprender e a ouvir todas as pessoas que têm experiências e opiniões diferentes das nossas.”
Alex Mahon, garante que há uma expetativa maior em relação às mulheres que lideram, “são submetidas a um padrão diferente dos homens”, afirmando que tem o dever, pela posição que ocupa, de ajudar outras mulheres, e aquelas que não estão representadas de forma equitativa, a chegar ao topo, especialmente quando a paridade de género no C-level, ainda está longe de ser alcançada, divulga o Raconteur.
“Pagam-nos mais, porque temos de assumir responsabilidades e estar preparados para isso.”
Sob a sua liderança, o Channel 4 ultrapassou as metas de diversidade: mais de metade dos maiores salários pertencem a mulheres, que são também a maior força de trabalho da estação. Esta doutorada em física, que trocou uma carreira nas ciências aeroespaciais, como aspirante a astronauta, por um cargo ‘supersónico’ na televisão, conseguiu ainda a proeza de tornar o canal que lidera no maior serviço de streaming gratuito do Reino Unido.
A executiva inglesa, que soma mais de 15 anos na gestão de empresas de produção criativa, tendo liderado o poderoso grupo Shine e o seu crescimento em mais de uma dezena de países, é a grande impulsionadora da mudança na estação, garantindo que “ao mudarmos as nossas formas de trabalhar, como sextas-feiras sem reuniões, pausas para almoço de 90 minutos para todos na empresa e reuniões limitadas a 50 minutos, é possível acomodar pessoas diferentes, de diferentes geografias, no local de trabalho.”
Mesmo durante a pandemia e perante decisões difíceis, permaneceu empenhada em colocar as pessoas da equipa acima do lucro: “Mantivemos uma posição muito clara nesta gestão de crise, de que iríamos cuidar das nossas pessoas e colocá-las no centro das atenções e decisões, acima do lucro ou de ser comercialmente bem-sucedido.” Uma estratégia que garantiu os salários integrais de todos os colaboradores e aumentos recorde nas taxas de audiência e procura de serviços.
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