Nunca chegou a terminar os cursos de Serviço Social e de Psicologia, este último na Sorbonne, em Paris, mas cedo começou o seu percurso profissional. Aventurou-se em televisão como assistente de produção em 1982 na primeira telenovela portuguesa, Vila Faia, e terminou como assistente de realização em 1996 no programa Parabéns apresentado por Herman José. Foi diretora de Recursos Humanos do Hotel Tivoli durante quatro anos e, mais tarde, trabalhou no departamento de Comunicação do Grupo Espírito Santo. Quando soube que o Hospital da Luz Lisboa iria ser construído, Isabel de Mello Breyner sabia que tinha de fazer parte do projeto. Começou por integrar o departamento de Reclamações, mas rapidamente percebeu que as reclamações não devem ser “respondidas”, mas evitadas. Percorreu os corredores do hospital e foi ao encontro dos pacientes. O objetivo? Ajudar o maior número de pessoas possível. Nas suas palavras, foi esta “bola de neve gigante” que a fez perceber de que era necessário formar uma equipa que se dedicasse aos pacientes a tempo inteiro… Hoje é diretora de Informação e Apoio ao Cliente no Hospital da Luz e gere uma equipa de seis pessoas. E também criou o Gabinete de Apoio Social, que hoje assiste mais de 100 famílias de funcionários do hospital.
Para Isabel de Mello Breyner, todos os dias no hospital são diferentes, mas ainda assim conseguiu traçar-nos um dia mais ou menos típico no seu trabalho.
5h00
A primeira coisa que faço quando acordo é tomar o pequeno-almoço para despertar. Só depois tomo duche. Normalmente, tenho tempo fazer uma máquina de roupa e deixo sempre a mesa do pequeno-almoço pronta para quem vier a seguir.
6h30/6h45
Saio de casa cedo para não apanhar trânsito e conseguir chegar a horas ao hospital. De manhã cedo é quando tudo começa por isso é fundamental chegar a horas. Mas não me importo de acordar cedo. Quando era produtora em televisão os horários eram semelhantes, o que fazia que eu estivesse dias sem ver os meus filhos. Cheguei a trabalhar em produções cinematográficas no estrangeiro em que ficava três semanas sem os ver. Apesar de adorar o que fazia, acabei por desistir porque era um trabalho “sem horário”, ideal para pessoas solteiras, sem filhos, e não para quem tem família.
7h15
Chego ao hospital. Tento começar por ler e responder emails, mas normalmente já tenho pessoas à porta do meu gabinete, que precisam de ajuda ou informações. Por ano, o nosso gabinete ajuda à volta de 7 mil pessoas, o que até para mim é um número impressionante. Trabalho com uma equipa de seis pessoas e é verdadeiramente um trabalho de equipa porque todos sabem qual a sua tarefa. Não nos limitamos a apontar consultas e a indicar com o dedo, dizendo “vá por aquele corredor e vire à esquerda”. É fundamental sermos proativos e perceber que todos precisam de ajuda. Não é preciso ser-se VIP para receber apoio, qualquer pessoa que recorra ao nosso serviço é ajudada. Agendamos consultas, check-ups e exames, mas também acompanhamos as pessoas do início ao fim do tratamento. No nosso gabinete não existe o “vamos tentar”, mas sim o “vamos fazer”. O facto de ter trabalhado em produção é uma grande vantagem porque ensinou-me a ser mais atenta, a estar simultaneamente em várias frentes e a conseguir resolver vários problemas ao mesmo tempo. E é exatamente assim que conseguimos melhorar o serviço prestado: observando e compreendendo o que se passa dentro do hospital. Todos os dias aprendemos algo novo e à medida que vamos conhecendo o funcionamento do hospital vamos tendo a oportunidade de melhorar. Mas, acima de tudo, o nosso trabalho passa muito por facilitar a vida das pessoas: resolver todos os seus problemas no mais curto espaço de tempo.
12h/14h
Nunca almoço à mesma hora, mas sou capaz de o fazer em 10 minutos, consoante o que me espera. Estou habituada a almoçar sozinha mas também posso almoçar com os doentes que estou a acompanhar, se a situação se proporcionar. Quando trabalhava em televisão o almoço era uma hora sagrada, as refeições nunca ficavam para segundo plano e existiam horários para as equipas. No hospital, quando tenho companhia, não costumo falar de trabalho. É um momento para repor energias.
16h30
Sou capaz de alterar o meu dia no hospital por causa dos meus netos. São a minha prioridade. Tenho quatro netos: um com 18, outro com 14 e os mais novos com 9 e 7 anos. Se for preciso ir buscá-los à escola, faço questão de reorganizar a agenda em função deles. A disponibilidade que hoje tenho para os meus netos é completamente diferente daquela que tive para os meus dois filhos. Quando começamos a trabalhar o nosso foco é a vida profissional. Temos de mostrar aos outros e a nós o que valemos e o que somos capazes de fazer. Mas à medida que vamos ganhando mais experiência, os papéis invertem-se completamente e a vida familiar passa para primeiro plano.
17h00
Num dia normal é a hora a que termino o trabalho, mas nem sempre é possível. Antes de regressar a casa revejo sempre a agenda do dia seguinte. Acredito que para fazer o trabalho que faço existe uma caraterística fundamental: gostar de pessoas. Quando gostamos de pessoas conseguimos tirar o melhor que elas têm. Tento sempre que tudo esteja em harmonia, que tudo esteja bem com as pessoas.
20h/21h
Retomo algumas lides da casa e confirmo novamente de que forma está organizado o dia seguinte. Janto e finalmente vou dormir, mas nunca desligo o telemóvel, nem aos fins de semana, nem quando estou de férias.
Quando se tem filhos fora de casa e se lida com a saúde das pessoas não se pode não estar contactável. A minha preocupação é tanta que chego a acordar a meio da noite a pensar se me faltou fazer alguma coisa e com o que tenho de fazer amanhã. Nos tempos livres gosto de estar em casa e de fazer o mínimo possível. Por exemplo, adoro sentar-me no sofá e ver um filme. É tão simples quanto isso. Acho que é um luxo as pessoas terem tempo para elas, quanto mais não seja para não fazer nada.