José Couto Nogueira é jornalista, tendo sido, entre muitas outros cargos, editor da Vogue Brasil, colaborador da Playboy Brasil e colunista da GQ Portugal. Teve uma coluna de Ética no jornal “i” e publicou três romances, o último dos quais, “Pesquisa Sentimental” (Livros’Hoje-Leya) é precisamente sobre mulheres.
“Sobre mulheres, a primeira coisa que um cavalheiro aprende é a não falar sobre elas – não “elas” como género, mas nas elas com quem teve a sorte ou o azar de privar. Assim sendo, sinto-me um bocado constrangido de me por aqui a dissertar sobre fulana ou sicrana, só para satisfazer a curiosidade das leitoras. Afinal, porque quereriam elas saber quais foram as mulheres da minha vida? Talvez fosse mais interessante se lhes dissesse o que me atraiu em certas mulheres que se cruzaram no meu caminho – ou eu me atravessei no caminho delas, dependendo do ponto de vista. Ou seja, o que uma mulher pode ter de marcante para um homem como eu – heterossexual sem complexos, altura mediana, inteligência qb, libido dentro da mediana. Para já, convém dizer que não gosto nem subscrevo muitos dos chavões masculinos: que elas são complicadas, ardilosas, fraldisqueiras, ou outras coisas quaisquer que não convenham ou dêem uma justificativa aos homens.
As mulheres são, acima de tudo, indispensáveis. Maravilhosas. Mas não todas igualmente. Nem todas completamente, é verdade que se diga.
A beleza em si não tem vida, não passa de uma bela imagem
Na minha vida, houve mulheres que me seduziram pelas razões mais pueris: um gesto, um olhar por cima do ombro, este vermelho das unhas que se fecham, aquela sandália minimalista pendurada no pé. Com algumas vivi anos a fio, numa tentativa de explorar até ao fim esses nadas que me faziam vir as lágrimas aos olhos; outras nem as conheci, nunca soube o nome, apenas as vi passar através de uma montra, a subir a escada dum primeiro balcão, de pernas cruzadas numa mesa de restaurante. Há diferenças de tempo entre uma vida (vá lá, digamos, uns bons anos) e um instante; mas não há diferenças de intensidade. O prazer, a alegria gustativa, visual, odorífica, auditiva (a voz ligeiramente rouca…) e táctil (às vezes) que elas me deram formam um catálogo que me acompanhará para sempre e nunca estará terminado.
Como se chama essa qualidade das mulheres que é tão evidente e ao mesmo tempo tão difícil de definir? Não é a beleza certamente, porque a beleza em si não tem vida, não passa de uma bela imagem. É uma qualidade que os franceses chamam allure e os ingleses glamour e para a qual nós não temos palavra (assim como eles não têm saudade). Não é nada de espampanante, nem gritante, nem que faça parar o trânsito; é uma subtileza, um nada – tão encantador como inesquecível.
E como se adquire? Com que cremes, através de quais operações estéticas, em que cursos de estilo? Temos pena, meninas, mas não é adquirível, apenas cultivável, e só para quem nasce com ela. Esteve lá, sempre. Nas mulheres da minha vida.”