Carla Rebelo: Profissionais plug-in: uma nova geração de talentos

Carla Rebelo, diretora mundial do negócio de recrutamento permanente da Adecco, sobre a hibridização de competências, uma tendência que está a criar ainda mais pressão no mercado de trabalho.

Carla Rebelo é diretora mundial do negócio de recrutamento da Adecco.

Carla Rebelo é diretora mundial do negócio de recrutamento permanente da Adecco.

 

Com as transformações tecnológicas em constante aceleração, os desafios que as empresas enfrentam tornaram-se, curiosamente, mais humanos do que técnicos.

Um dos principais desafios atuais é a procura pela chamada hibridização de competências, uma tendência que está a criar ainda mais pressão no mercado de trabalho.

No que diz respeito aos perfis STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), os empregadores estão a dar preferência a graduados que, além das suas competências técnicas, possuam também aptidões tipicamente associadas à chamada área de humanidades, tais como boas competências de escrita, capacidade de colaboração e um entendimento da ética que permita fazer escolhas mais empáticas. A adaptabilidade e a resiliência tornaram-se também requisitos fundamentais. Esta mudança de paradigma reflete o valor crescente que os empregadores atribuem ao pensamento crítico e às competências de comunicação.

Incontornável é o facto de que os novos empregos exigirão, cada vez mais, a capacidade de pensar de forma holística num ambiente em constante mudança.

Um exemplo emblemático de um líder com percepção desta tendência foi Steve Jobs, que já procurava nos profissionais que pretendia contratar esta combinação única de competências.

Pessoalmente, gosto de chamar a estes perfis de “STEM Aumentado”, pois vão além das competências técnicas tradicionais, incorporando uma versatilidade e diversidade cognitiva que beneficiam as empresas.

De acordo com um estudo do MIT de 2017, surgiram três novas categorias de empregos impulsionados pela (IA) inteligência artificial: os formadores, os explicadores e os sustentadores.

Estes papéis exemplificam a crescente necessidade das competências híbridas.

Os formadores, por exemplo, são responsáveis por desenvolver chatbots de atendimento ao cliente, treinando-os para reconhecer as complexidades e subtilezas da comunicação humana. Um formador de empatia, por exemplo, ensina os sistemas de IA a demonstrar compaixão. Novas funções, como o formador de tom e de significado da linguagem do cliente, estão a emergir como parte desta nova realidade.

Os explicadores atuam como ponte entre os tecnólogos e os líderes empresariais, esclarecendo a natureza de “caixa preta” dos algoritmos de machine learning. A análise forense de algoritmos, que responsabiliza os algoritmos pelos seus resultados, é uma função crucial, garantindo transparência e precisão. Papéis como o de analista de transparência e designer de contexto são exemplos desta categoria.

Por fim, os sustentadores asseguram que os sistemas de IA funcionem conforme planeado, abordando de forma adequada as consequências imprevistas. Um gestor de conformidade ética é essencial neste contexto, garantindo que os princípios éticos sejam respeitados na automação. Funções como eticista de automação e gestor de machine learning são cada vez mais necessárias.

Estes novos tipos de emprego serão exigidos em larga escala em todos os setores de atividade, colocando uma pressão significativa na formação e no desenvolvimento operacional das organizações.

Este é o futuro do trabalho, só que para hoje, onde a combinação de competências técnicas e humanas se torna indispensável para navegar num mundo cada vez mais impulsionado pela inteligência artificial.

 

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