Sara Caetano é Head of the International Energy Industry Council e Country Sales Manager na OpenText. Licenciou-se em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores no Instituto Superior Técnico, fez o MBA da AESE Business School e tem complementado as suas competências em gestão e liderança em instituições como o INSEAD, IESE Business School, Indian Institute of Management Ahmedabad e Porto Business School.
Atualmente, Sara Caetano gere o negócio da Opentext em Portugal e é responsável por dois projetos a nível europeu: a gestão de uma equipa focada no desenvolvimento da estratégia e da capacitação das áreas de vendas para o vertical de indústria Energia, e a gestão do projeto WoW – WorldWide OpenText Women, focado no desenvolvimento estratégico da carreira das mulheres na organização através de formação e mentoring. A OpenText é uma multinacional com sede no Canadá, e desenvolve soluções de gestão de informação empresarial, líder no mercado de Enterprise Information Management, onde estão presentes desde 1989 e com mais de 25 mil colaboradores em mais de 30 países.
Com 18 anos de experiência profissional, Sara Caetano tem estado sempre ligada ao mercado das tecnologias de informação, com uma visão muito holística do setor, uma vez que já passou por empresas de fabrico de hardware e software (Siemens, Oracle e Opentext), consultoria (Altran) e integração de sistemas (Novabase). Em todas estas organizações teve vários desafios, nomeadamente a responsabilidade das áreas técnicas e comerciais, mas no centro da sua atividade sempre estiveram projetos associados à estruturação de áreas, ofertas e de equipas focadas no mercado B2B.
Nesta entrevista Sara Caetano fala-nos sobre os desafios, mas também as oportunidades do setor de tecnologias de informação para as mulheres, e de como a sua carreira mudou desde que assumiu as suas rédeas. Admitindo que o processo de mudança não é fácil e exige coragem, a executiva mostra-se satisfeita com os resultados positivos que já está a conseguir.
Trace-nos o seu percurso até chegar à função que hoje ocupa?
Estudei Engenharia Eletrotécnica de Computadores, no Instituto Superior Técnico. Sempre gostei de resolver desafios e achei que a a Engenharia me daria a oportunidade de explorar esse interesse sendo que permite um leque de opções profissionais variadas, quer em termos de função, quer de indústria. Antes de terminar o curso pensei que gostaria de iniciar-me no mercado de trabalho na Siemens, e dado que é uma empresa alemã, para fortalecer o meu curriculum, fui estudar alemão e obtive o Zerifikat Deutsch ao mesmo tempo que o diploma do Técnico. Assim consegui ir trabalhar para a Siemens, para uma área de vendas, numa função de pré-venda para os grandes operadores, sendo que curiosamente, no contexto de trabalho, acabei por pouco usar as minhas competências em língua alemã.
Nesta minha experiência percebi que gostaria de estar mais envolvida nos processos negociais e queria ter um papel mais activo não só na identificação da solução dos desafios dos clientes, mas também na identificação desses desafios e consequente apoio. Na verdade, um trabalho mais profundo de continuidade. Dessa forma acabei por aceitar um projeto na área de consultoria (Altran), sendo responsável pelo negócio nos verticais das telecomunicações e industria farmacêutica.
Seguiu-se a experiência num integrador (Novabase). Desta vez, focada na gestão do mercado financeiro que posteriormente levou ao convite por parte da Oracle para estruturar parte do seu negócio no mesmo setor. A entrada na Oracle definiu aquele que tem sido o meu foco nos últimos 10 anos, o trabalho em software houses. Sendo que, desde 2018, estou a gerir o negócio da OpenText em Portugal, para além dos dois projetos de que sou responsável a nível europeu.
Apesar de trabalhar em empresas de software há uma década, a programação nunca foi uma paixão, nem durante o curso de Engenharia, nem agora, e que de forma alguma isso criou alguma limitação à construção de uma carreira em tecnologias de informação. Esta é uma área de negócio com muitas oportunidades e desafios onde são valorizadas várias competências para além das puramente técnicas.
“Há uma ideia muito limitada da multiplicidade de funções que existem nas empresas de tecnologia, que limita as jovens a escolherem as áreas de estudo que tendencialmente abrem as portas a este mercado de trabalho”
Continua a haver poucas mulheres a trabalhar em tecnologia, em especial em programação. Trabalhando em empresas tecnológicas, qual a sua opinião sobre esta questão? Por que razão esta área não atrai mais mulheres ou até as afasta?
Acredito que exista uma ideia muito limitada da multiplicidade de funções que existem nas empresas de tecnologia e que essa visão limita as jovens a escolherem as áreas de estudo que tendencialmente abrem as portas a este mercado de trabalho. Também é importante existirem referências e partilha de experiências que normalizem a presença de mulheres em empresas tecnológicas, o que acontece, e bem, cada vez com mais frequência. Existem cada vez mais plataformas que dão a conhecer as carreiras e os sucessos de mulheres em tecnológicas e as empresas deste setor estão cada vez mais preocupadas com os temas de diversidade, muitas com programas específicos para atrair, reter e desenvolver a carreira das mulheres. Esse é um dos objectivos do programa que coordeno a nível Europeu – o WoW -Worldwide OpenText Women – que está alinhado com os objectivos de diversidade definidos a nível do nosso board, e procura capacitar as mulheres que trabalham nas mais varidas áreas da OpenText, a construírem planos de carreira sustentados e alinhados com os seus objetivos.
Acima de tudo é preciso educar as nossas crianças a acreditar que não existem limitações na construção dos seus sonhos e que, de forma alguma, o seu futuro é definido pelo seu género, nacionalidade, religião, ou qualquer outra característica.
Retomando a sua carreira, acabou por não ficar muito tempo na consultoria.
É verdade, foi uma curta experiência porque cedo realizei que tinha sido um erro de casting da minha parte, pois não era exatamente o que eu pretendia. Não pela organização, mas porque naquele caso específico, o modelo de negócio não era o que eu idealizara e o objeto de negócio não era o que mais me motivava. Mas agradeço hoje por esta experiência porque me permitiu dar o salto para a área comercial onde ao longo do tempo desenvolvi as competências base para a gestão estratégica de negócio onde hoje me destaco. Também me permitiu aprender que podemos não gostar de todas as áreas de negócio, mas que todas as experiências são sempre oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Não fechei a porta à consultoria, mas hoje sei identificar em que projetos posso construir valor, quer para a organização, quer para o desenvolvimento da minha carreira.
Saindo da consultoria pude conhecer o mercado da integração de sistemas. Um desafio que aceitei com muita vontade de aprender uma nova perspectiva de carreira no mercado de IT. Fiquei cerca de cinco anos, aprendi imenso, passei para funções mais estratégicas, até que, mais uma vez, achei que estava na altura de aprender mais.
É nessa altura que passa para o mundo dos fabricantes de software?
Sim, comecei a trabalhar com fabricantes de software em 2013, com a minha entrada na Oracle. Organizações como a Oracle, e muitas outras software houses, são complexas, com muitas áreas de negócio, muitos colaboradores (centenas de milhares em alguns casos) e podem ser difíceis de navegar. Muitas vezes têm estruturas matriciais, que numa primeira experiência são desafiantes, mas quando conseguimos compreender como nos mover, tornam-se boas oportunidades de desenvolver competências de liderança inter-equipas em contexto internacional.
Depois de quatro anos na Oracle tomei consciência que queria estar preparada para novos desafios (internos ou externos) de uma forma mais estruturada, queria ter mais controlo sobre o destino da minha carreira, tomar as rédeas do processo. Percebi que era importante consolidar a experiência profissional com ferramentas de gestão de alto nível, e aos 37 anos, com duas filhas, de um e quatro anos, decidi fazer um MBA na AESE. Foi uma experiência transformadora que me permitiu adquirir competências nas mais variadas áreas de gestão corporativa e tornei-me mais consciente no processo de tomada de decisão em contextos de incerteza, que tanto caracterizam a actualidade.
O plano era terminar o MBA e só depois ponderar um novo desafio, mas ao fim do terceiro mês recebi um convite irrecusável por parte da Opentext, que logo naquele momento valorizou este meu investimento em formação e o viu como valor acrescido, e decidi que era o momento certo, com o desafio certo, que me permitiria crescer enquanto pessoa e profissional.
“Trabalhar em IT, por ser um mercado marcadamente masculino, é mais desafiante conseguirmos ‘um lugar na mesa'”
Qual o desafio que a OpenText lhe lançou?
A Opentext é uma multinacional de origem canadiana que atua no mercado da gestão da informação. De uma forma simples o desafio foi o de gerir o negócio em Portugal, ao nível de clientes, parceiros, todo o ecossistema onde opera. Inicialmente, hesitei porque queria dedicar-me ao MBA, mas por outro lado percebi que era uma oportunidade única de colocar em prática todas as competências que estava a adquiri e aceitei.
Cinco anos depois o desafio já não se limita à gestão do negócio em Portugal, agora acumulo estas funções com a responsabilidade a nível europeu da definição da estratégia go-to market de um vertical, a energia. É da responsabilidade da minha equipa capacitar as áreas de vendas com os conteúdos, as ferramentas e a linguagem de negócio adequados para assegurar o sucesso no mercado da energia, bem como auxiliar do ponto de vista de análise estratégica a organização ao identificar as necessidades e prioridades na oferta de produtos para este vertical.
Somo a estas responsabilidades ainda a gestão a nível europeu, do programa WoW – Worldwide OpenText Women, que me permite explorar outra das minhas paixões, a de ter um papel ativo no desenvolvimento e crescimento dos outros, usando toda a experiência e saber adquirido ao navegar nestas organizações como facilitadores para quem precisa dessa ajuda.
Hoje o meu caminho pauta-se pelo pragmatismo, clareza e uma profunda auto-reflexão sobre o que quero e não quero fazer, e por esta inquietude que me vai permitindo explorar, e não ter medo de arriscar em fazer coisas diferentes. É esse processo que me permite definir os próximos passos e garantir que tomo decisões (e as rédeas) do meu futuro profissional. É um processo longo e contínuo e sou muito grata a todos os mentores, formais e informais que me têm apoiado, razão pela qual também gosto de retribuir sendo mentora, não só na Opentext, mas também em programas como o One Step Ahead da AESE e Executiva, no qual tenho sido mentora executiva desde a 2ª edição.
Qual foi o maior desafio da sua carreira e que impacto teve?
O meu maior desafio foi o de tomar consciência da importância de sermos nós a segurar as rédeas do nosso caminho. Exige trabalho, esforço e uma profunda auto-consciência não só sobre as nossas forças, mas também sobre o que temos de trabalhar e desenvolver. Nestes três últimos anos realizei um trabalho profundo para poder “desenhar o meu futuro” de forma estratégica. Foi um dos desafios mais complexos que tive que endereçar na minha vida, mas também está a ser muito gratificante porque agora tudo se torna claro. As peças do puzzle estão a começar a encaixar-se, mas o processo é difícil porque nem sempre conseguimos colocar as coisas em perspetiva e saborear as conquistas.
Ganhei consciência sobre muitos comportamentos que, inadvertidamente, facilitavam mais o status quo do que o meu crescimento. Por exemplo, durante muito tempo, talvez reflexo da forma como fui educada, acreditava que fazermos bem (muito bem) o nosso trabalho era o suficiente para sermos recompensados com novas oportunidades. A realidade é que isso por si só não é suficiente. Até podem surgir novas oportunidades, mas estarão elas alinhadas com o caminho que queremos percorrer? Não devemos assumir que os outros sabem o que queremos fazer porque se não o deixarmos claro, não o vão saber. Temos de ser nós a expor as nossas ideias, dar a conhecê-las, criar os nossos caminhos.
A somar a estes desafios ainda existem outros pensamentos e comportamentos muito habituais nas mulheres em contextos organizacionais que devem ser trabalhados para que deixem de ser limitantes. Sobre este tema aconselho a leitura do livro “How Women Rise”, da Sally Helgesen e do Marshall Goldsmith, que me foi recomendado pelo meu mentor, uma ferramenta muito útil para termos clareza sobre o impacto desses mesmos comportamentos.
Para além deste trabalho mais pessoal de análise, há que perceber o contexto em que nos inserimos, o nosso posicionamento no contexto global. Por exemplo, na Opentext, a dimensão do negócio em Portugal (faturação, pessoas e tamanho de mercado) comparativamente a outras geografias são um desafio para o crescimento de carreira e há que criar estratégias específicas para ultrapassar essa potencial limitação.
Por outro lado, trabalhar em IT, por ser um mercado ainda marcadamente masculino, ainda mais desafiante é conseguirmos “um lugar na mesa”.
“Em seis meses comprovei o resultado de tomar as rédeas do processo de transformação que delineei para a minha carreira”
Como é que conseguiu essa transformação?
Tem de se querer mudar. Não é um processo fácil, é muito mais fácil manter o status quo. É muito importante analisarmos com racionalidade o que fazemos e não fazemos bem, o que queremos fazer e o que não queremos fazer e, finalmente, temos que ser capazes de o verbalizar. Conseguir comunicá-lo aos outros sem arrogância, dizer o que queremos, ter essa coragem. E saber que talvez a primeira conversa não corra bem, mas vamos aprender e a próxima vai correr melhor.
Uma das minhas maiores ferramentas foi a mentoria. Comecei a receber formalmente mentoria na AESE, em contexto de MBA, depois num programa da PWN – organização com a qual até muito recentemente colaborei -, e decidi que sendo uma ferramenta importantíssima para o auto-conhecimento queria fazer um programa de mentoring formal, que ainda hoje mantenho, que me obrigou a um grande trabalho de introespecção, e com isso a ganhar muita clareza. É normal ter incerteza, por isso, é bom termos alguém que de forma formal ou informal nos ajude a traçar o nosso caminho.
Foi essa atitude que lhe deu exposição internacional?
Claramente. Esta consciencialização de quem somos e do contexto que nos rodeia é transformadora. Quando surgiu a oportunidade de estar no fórum certo, onde poderia pela primeira vez dar voz às minhas aspirações não hesitei. Em seis meses pude comprovar o resultado de tomar as rédeas do processo, eliminando a até então limitação do contexto geográfico e conseguir ser responsável por dois grandes programas a nível europeu, com grande visibilidade. No entanto, o mais importante foi que eu construí a oportunidade de estar nesses projectos.
O mentor foi muito importante para conseguir fazer essa mudança?
Sem qualquer dúvida. Hoje tenho uma rede alargada de mentores com os quais gosto de manter uma relação próxima e tenho um, em particular, que tem um papel muito ativo neste meu processo de desenvolvimento. Mas digo sempre que para se mudar, para crescer, temos que querer. Nem sempre estamos preparadas ou queremos olhar para estes temas de desenvolvimento pessoal com a seriedade que merecem, e como tal, não vamos ser capazes de retirar todos os benefícios que estes processos nos podem dar. Acredito que foi no momento certo, com a experiência ce maturidade certas que procurei de forma activa um mentor e que por isso se tornou uma experiência tão enriquecedora para ambos.
Geralmente, as mulheres escolhem mentoras porque à partida compreenderão melhor as suas necessidades e desafios. Porque escolheu um mentor e não uma mentora?
Na verdade, não escolhi. A nossa relação começou num programa de mentoria da PWN onde uma equipa faz o match entre os mentores e mentees. Confesso que no início estava céptica relativamente ao sucesso e à razão pela qual tinham feito este par, mas entreguei-me ao processo de espiríto aberto e rapidamente entendi o valor que ambos trazíamos. Tem uma vasta experiência no mercado de IT e tem-me ajudado a compreender as dinâmicas destas organizações a nível internacional. Para além disso é formado em coaching pelo que, muitas vezes, o trabalho realizado entre nós já incorpora essas dinâmicas. Talvez seja essa mistura de mentoring e coaching que tem feito o sucesso da nossa relação, para não falar da grande empatia e respeito mútuo.
Não acho que só mulheres podem ajudar mulheres. Pessoas devem ajudar pessoas e sinto-me grata por ter à data de hoje vários mentores (homens e mulheres) que sempre compreenderam as minhas necessidades e desafios e estão dispostos a contribuir para os minimizar.
“Foi a mentoria que me permitiu ter a clareza sobre qual é o caminho que quero traçar e estar focada nele, eliminando medos e síndromes de impostor que me poderiam limitar”
Podemos concluir que o MBA a preparou para novos desafios e o mentor a ajudou a candidatar-se a esses novos desafios? Em que medida o MBA foi importante na sua carreira?
De certa forma, sim. O MBA deu-me um conjunto vasto de ferramentas para poder realizar a tomada de decisão em vários contextos. Deu-me, não só o enquadramento teórico, mas, através do método do caso e da partilha de experiências em grupo, deu-me o contexto prático e a visão do que se passa no mercado. As semanas internacionais em Ahmemabad e Nova Iorque deram-me a perspectiva cultural na gestão de grandes organizações, o que me ajuda bastante ao liderar em ambientes internacionais e multiculturais.
Mas todo o conhecimento do mundo não serve de nada se não o colocarmos em prática. A minha aptidão para desafios permitiu-me ter sempre a coragem de dar passos que outros poderiam escolher não dar, mas foi a mentoria que me permitiu ter a clareza sobre qual é o caminho que quero traçar e estar focada nele, eliminando medos e síndromes de impostor que me poderiam limitar.
Foi a combinação de ambos que fez a diferença.
Em que consiste hoje a sua função e quais as principais mudanças em relação à que desempenhava anteriormente?
À data de hoje tenho três funções na Opentext: a gestão do negócio em Portugal, a gestão de uma equipa focada no desenvolvimento da estratégia e da capacitação das áreas de vendas para o vertical de indústria Energia e a gestão do projeto WoW – Worlwide OpenText Women, focado no desenvolvimento estratégico da carreira das mulheres na organização através de formação e mentoring.
A grande diferença é que o foco do meu trabalho é cada vez mais na dimensão estratégica de negócio à escala internacional.
Agora que tem o seu caminho planeado, podemos saber onde pretende estar daqui a cinco anos e que passos considera fundamentais para cumprir esse objetivo?
Daqui a cinco anos espero continuar a ser continuamente desafiada em novos contextos, trabalhar as áreas que tenho mais interesse, continuar a liderar equipas regionais focadas na componente estratégia do negócio. Quero continuar a contribuir em diferentes áreas do negócio, com uma visão diferenciadora e transformadora criando valor para a organização. Espero que estes desafios vão crescendo em dimensão, valor e contexto de negócio, e que eu adquira cada vez mais uma visão holística do processo de tomada de decisão a alto nível.
Que conselho deixa às jovens que continuam a encarar a tecnologia como um mundo de homens onde as mulheres têm poucas possibilidades de chegar a cargos de liderança?
Como já mencionei, trabalhar em IT, por ser um mercado ainda marcadamente masculino, é desafiante conseguirmos “um lugar na mesa”. Mas honestamente não acho que esta indústria seja muito diferente das outras onde se encontram muita mulheres com excelente feedback do seu trabalho operacional, mas que depois não são convidadas para estarem do lado da decisão.
O maior conselho que posso dar é que venham para esta área, sejam também elas agentes de mudança. O mercado das tecnologias está cheio de boas oportunidades profissionais e certamente continuará assim e existe uma grande diversidade de funções e competências que são procuradas nesta área. É um mercado muito dinâmico onde estamos constantemente a aprender, quer em funções técnicas, quer em funções mais relacionadas com o negócio.
Existem cada vez mais fóruns de partilha onde podem ficar mais esclarecidas sobre as especificidades desta indústria e sobre o que significa trabalhar nesta área. A partilha de histórias tem ajudado a desmistificar que esta é uma área apenas de homens e são cada vez mais os casos que se encontram de sucesso no feminino. Para as mulheres que já estão na área, é fundamental apoiarmos quem está a começar, podemos fazer uma grande diferença no percurso de alguém e não há nada mais enriquecedor do que ter contribuído para o desenvolvimento e sucesso de outra pessoa.
E por último sou grande defensora do trabalho que tem que ser feito em casa. Educarmos os nossos filhos e filhas permitindo que sonhem e explorem sem qualquer condicionalismo de género, e que desde cedo se partilhem histórias de grandes mulheres que marcaram o Mundo nas mais variadas áreas. Quando as minhas filhas me dizem que não conseguem fazer algo a minha resposta é sempre a mesma: “não consegues ainda…“. No final não importa se é feito com perfeição, o importante é o caminho e a conquista. E se um dia quiserem vir para as tecnologias terão todo o meu apoio e acredito que vão encontrar organizações bem equilibradas em questões de género (entre outras) onde vão chegar onde quiserem, porque nunca lhes foram limitados os sonhos.
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