O seu nome é francês, mas Kelly Dassault é filha de emigrantes portugueses da primeira geração. Cresceu em França, procurando sempre a integração. “Tens de ser ousada e engenhosa. Não tínhamos muito, mas tínhamos o desejo profundo de sermos parte da sociedade francesa, que acolheu os meus pais de braços abertos. Isso significava aprender francês na escola, ser assertiva e ferozmente determinada a seres tu própria e não deixares que ninguém te pressionasse”, começa por explicar. Foi esta determinação que aos 16 anos a fez mudar-se para Paris para concretizar os seus sonhos. Primeiro o de ser atriz, depois fotógrafa, até que se tornou empreendedora.
Fundou com o marido a Maisons Julien et Kelly Dassault (MJKD). Esta é a empresa-mãe de várias projetos em Portugal e França. Em Lisboa tem a 27 Lisboa, que reúne uma seleção de produtos de lifestyle, o 27 Studio, um salão de beleza com produtos orgânicos, o 27 Filmes, que apoia artistas nos seus projetos, e a Santos Dassault, cuja missão é renovar edifícios antigos, mantendo o património e originalidade dos edifícios. Em França, a MJKD está agora envolvida numa série de iniciativas empresariais, que vão da digitalização dos serviços financeiros, às bicicletas elétricas e à biotecnologia. “Empreendedora por natureza, estou 100% envolvida e dedicada à sustentabilidade dos nossos investimentos”, afirma Kelly Dassault. Os três valores que privilegia nas escolhas que faz são transmissão, generosidade e integridade. Garante que a cada decisão importante, a pergunta obrigatória é sempre: “Nós nos sentiríamos à vontade para justificar as nossas escolhas aos nossos filhos?”
Pensou ser atriz, fotógrafa, mas acabou por se tornar empreendedora. Como é que isso aconteceu?
São fases da vida. Neste momento, 80% do meu tempo é dedicado ao meu papel de empresária, no entanto, a arte continua a fazer parte do meu dia a dia. A fotografia é o meu meio de expressão artística. Editei um livro com fotos que fiz no México, em 2019. Chama-se Zona Norte e tenho muito orgulho no que representa. Este mês de fevereiro estou de regresso a Tijuana para continuar esse trabalho. A fotografia é o meu elemento, que equilibro com os negócios e o meu trabalho enquanto empreendedora. Os tais 80%. Quanto à representação, é algo que me move e nunca se sabe o que pode acontecer.
Tendo vivido e estudado em França, o que a levou a criar negócios em Portugal? Foi o apelo das origens?
Sempre quis experimentar viver no país dos meus pais, que também sempre considerei meu. Pude transmitir a minha nacionalidade aos meus filhos, o que foi muito importante para mim. Percebo os motivos que levaram os meus pais a emigrar para França, mas, até agora, Portugal tem sido uma experiência muito feliz mim e para a minha família. No entanto, e apesar de Lisboa ter sido a escolha certa para lançar os meus negócios, agora, também estou a desenvolvê-los em Paris.
Além das quatro marcas que a MJKD tem em Portugal, também investe um leque muito diversificado de outros negócios. Qual o fio condutor de todos eles?
A nossa estratégia de investimento é olhar sempre para o futuro. As bicicletas elétricas Voltaire apostam na mobilidade sustentável. Os nanosatélites Kineis garantem um acesso maior a tecnologias. As sapatilhas Jak são uma aposta num negócio português com qualidade e design. Em todos eles existe uma vertente humana que privilegiamos. Participamos no negócio. Acompanhamos os empresários a desenvolver os seus projetos. E todos têm a tal preocupação de futuro, são negócios conscientes, que se preocupam com o mundo no qual as próximas gerações vão viver.
Qual é o seu perfil de investidora?
Interesso-me por boas ideias. Neste momento, estamos a tentar conhecer mais projetos portugueses. Queremos apoiar negócios feitos cá, com gente de cá. Há muitas startups. O que estamos disponíveis para conhecer e continuar a investir são projetos que privilegiem a qualidade, as raízes, o saber fazer português, o bem-estar das equipas, etc.
Como mompreneure quais as principais diferenças entre viver em França e Portugal?
Em Portugal, não tenho família, ou seja, o meu sistema de apoio é limitado. Esse é um desafio para quem tem quatro filhos. Tivemos de criar uma rede de apoio, mas creio que ganhamos muita qualidade de vida por vivermos em Lisboa. Os nossos filhos têm uma vida ao ar livre. Ao fim de semana podem fazer desportos na praia. Até agora, tem sido a escolha certa.
Qual o seu maior sonho para a MJKD?
Continuar a ter projetos desafiantes e interessantes. Continuar a proporcionar condições de trabalho decentes para as nossas equipas. Crescer com os nossos parceiros. Continuar a evoluir, a diversificar a nossa atuação e, porque não, alargar a MJKD para México City, Nova Iorque, São Paulo ou Tóquio?
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