“Chamei-lhe Amélie – Projeto Amélie – porque, tal como a personagem do filme, ‘O fabuloso destino de Amélie Poullain’, também eu decidi passar a mudar o dia a dia das pessoas que me rodeavam, desconhecidas ou não. O meu objetivo é mudar um pouco o mundo, mas não precisa de ser o mundo todo, pode ser só mudar a nossa casa, o nosso espaço. Acho que se acreditarmos no que estamos a fazer, as coisas surgem naturalmente. Por isso decidi começar a deixar mensagens e autocolantes com frases optimistas e motivadoras por onde andava.
Durante 15 dias deixei mensagens aos funcionários da Emel, dizendo que me podiam multar à vontade.
Comecei pela rua Castilho, em Lisboa, onde trabalho, a tentar transformar o dia de quem se cruza comigo num dia mais alegre, positivo e emocionante. Foi o que fiz, por exemplo, com alguns funcionários da empresa municipal Emel, habituados a ser ‘odiados por todos’ os lisboetas. Durante 15 dias deixei-lhes mensagens dizendo que me podiam multar à vontade que eu não lhes levaria a mal. Achei que era simpático, porque eles são um alvo fácil da raiva de muitas pessoas. Claro que isto não me impediu de ser multado e bloqueado como toda a gente, mas alegra-me pensar que melhorei o dia de alguém.
Por onde passo deixo pequenas mensagens, em vários formatos, espalhados pelas caixas de multibanco, cabinas telefónicas, troncos de árvores, onde calha. Um dia lembrei-me de pôr semáforos a reluzir corações quando a luz vermelha acendia. E percebi que estas ideias faziam sorrir e até emocionar. E que as pessoas precisam disso. Agora o projecto já ganhou 30 mil amigos no facebook, espalhados também por Espanha, Brasil e Argentina.
Optei por querer mudar pequenos mundos. Já o Projeto Amélie estava em marcha confirmei esta necessidade ao ouvir um sketch do Ricardo Araújo Pereira em que um vilão dizia que ia dominar o mundo, mas que não era de qualquer forma, ele ia dominar o mundo de forma ‘sustentada’. Ia ‘começar por mudar um terreno que tinha em Alcobaça’ e a partir daí chegar ao mundo inteiro. Isto fez-me pensar que foi exactamente assim que o Projecto Amélie aconteceu, aos poucos, de pequenos espaços até chegar a muita gente e muitos lugares.
O meu objetivo é que as pessoas cheguem a casa com uma história para contar ou apenas com um sorriso.
Projetos como os ‘Abraços Grátis’, ‘Mais Amor por Favor’, e ‘Improv Everywhere’ (hapennings, arte humana, diferente dos flash mobs, acções muito bem estudadas que visam divertir e animar o dia a dia), sempre me inspiraram. No entanto, posso dizer que o que mais impactou foi o projeto ‘Chillout Song’, do performer Ze Frank, que conseguiu juntar uma comunidade enorme de pessoas desconhecidas para ajudar uma terceira que estava numa fase difícil. Daqui nasceu uma música para cantar quando se tem medo, uma música doce e calmante, feita a pensar numa senhora que se sentia triste e deprimida e pediu ‘um abraço audio’ ao artista e compositor Ze Frank. Querem ouvir?
Este sentimento de proteção e de ajuda desinteressadas tocou-me profundamente. A partir destas inspirações lancei o meu projeto, que vou conseguido espalhar aos poucos, e que deve muito à ajuda de todos quantos se envolvem com ele e o levam para as suas cidades. O meu objectivo é apenas que as pessoas cheguem a casa com uma história para contar, com um sentimento qualquer guardado ou apenas com um sorriso. Por que razão faço eu isto? Porque me faz bem, complementa os meus dias. O que recebo em troca? Sorrisos e paz interior. Mudar o dia de uma única pessoa, chega-me. Já me perguntaram de onde me vem esta sensibilidade. A isto confesso que não sei responder”.
Martim Dornellas é diretor criativo da agência de marketing digital Monday