Margarida Almeida: “Nunca ambicionei ter a minha empresa, era feliz onde estava, até que aquela em que trabalhava entrou em insolvência”

Margarida Almeida é CEO da Amazing Evolution, que começou por ser uma pequena empresa de auto-emprego e é hoje uma PME Líder. Pelo caminho escapou a duas crises e está cheia de projetos para o futuro.

Margarida Almeida é fundadora e CEO da Amazing Evolution,

Licenciada em Direito pela Universidade Lusíada, Margarida Almeida começou por exercer advocacia no início da vida ativa, passando pelas áreas jurídica, de licenciamento e de recursos humanos de várias empresas do ramo imobiliário, até que em 2005 integrou o Conselho de Administração da Imocom, um conjunto de empresas que viria, mais tarde, a ser afetado pela crise.

Em 2012, numa altura em que o modelo de negócio foi dado como praticamente perdido, Margarida Almeida arregaçou mangas e fundou a Amazing Evolution, empresa que presta serviços de gestão e consultoria, numa espécie de ‘one stop shop’ da gestão imobiliária e turística, pois reúne todas as competências pertencentes ao ciclo de investimento imobiliário e turístico (da aquisição do terreno, passando pelos licenciamentos necessários, à operação diária após a construção). O que começou por ser uma pequena empresa é hoje uma PME Líder, que já recuperou mais de 12 unidades hoteleiras, tem 20 sob gestão e mais 10 projetos em pipeline para abrir a curto prazo. O segredo de Margarida Almeida é “paixão, resiliência e foco na solução”.

 

 

O que a levou a criar a Amazing Evolution?

A criação da Amazing Evolution não foi programada. Surgiu porque uma instituição financeira estrangeira, no final de 2012, solicitou-me uma apresentação dos meus serviços de gestão hoteleira e, na sequência disso, e de modo a apresentar esses serviços de forma institucional, constituiu-se a Amazing Evolution. Ora, mediante a abordagem de uma instituição estrangeira a operar em Portugal, ponderei criar uma empresa na “empresa na hora”. E assim foi, o nome Amazing Evolution estava disponível e criei a empresa, sem nenhumas expetativas. E sem nunca pensar que podíamos chegar à dimensão que temos hoje. Nunca ambicionei ter a minha empresa, era muito feliz onde estava, até ao momento em que a empresa onde trabalhava entrou num processo de insolvência.

Nestes 10 anos como evoluiu a empresa? 

A empresa evoluiu de forma orgânica, sem grandes ambições em termos de volume, mas sempre com o propósito de criar valor nos projetos que geríamos. Começamos por colaborar apenas na recuperação de ativos em processos de insolvência. E para mim seria uma pequeníssima empresa de autoemprego. No final de 2015 começamos a ser contactos por investidores privados de diversa natureza e hoje somos uma PME Líder.

 

“Quem não gosta de fazer os outros felizes, não consegue construir uma carreira em hotelaria”

Quais os critérios para aceitarem a gestão duma unidade e que principais estratégias usam na sua recuperação?

Temos dois tipos de critérios. Um para os projetos detidos por entidades privadas e outro para os projetos que se encontram em fase de recuperação. Para estes últimos não existe critério, é como se uma pessoa estivesse em situação de vida ou de morte, e ajudamos sempre. Para os outros, temos de acreditar na sua viabilidade e temos de sentir que o promotor e nós estamos em plena sintonia em diversas dimensões, sendo a mais relevante a dos valores pelos quais nos regemos.

Quanto às estratégias que usamos, em primeiro lugar definir qual o posicionamento, tentar encontrar dentro ou fora do projecto alguma singularidade, pois, hoje, as pessoas viajam com propósito, e este posicionamento da autenticidade do produto é para nós fator de sucesso. Sendo um fator relevante, não é o único, e destaco outro: a importância que damos à formação das equipas locais. Sem pessoas não há serviço, e sem serviço não há hotelaria.

Quais os desafios que a Amazing Evolution enfrenta atualmente?

Tal como toda a indústria, o grande desafio que temos é encontrar pessoas qualificadas para os projetos novos que estamos a abrir . Devo dizer que para um dos hotéis que abrimos recentemente, contratámos pessoas que não eram da área e demos uma formação intensiva e continuada. É essencial que as pessoas, mesmo não sendo da área gostem de fazer os outros felizes, e nesta indústria é condição sine qua non ter esta característica. Quem não tem esta predisposição, nunca vai conseguir construir uma carreira em hotelaria.

Qual é hoje a realidade da empresa? 

A Amazing Evolution é uma entidade gestora que não detém nenhum ativo, nem por via da propriedade, nem do arrendamento. Prestamos serviços de forma independente, e não queremos ser nem proprietários, nem arrendatários. Desta forma asseguramos total independência perante todos os proprietários. E isso é fundamental para nós. E julgamos ser também fundamental para os proprietários dos projetos. Cada proprietário sabe que estamos totalmente dedicados ao respetivo projto, e sem ter qualquer objetivo que não seja o seu sucesso e a criação de valor. O nosso foco é a prestação dos nossos serviços de gestão, e a nossa evolução é consequência dos resultados que entregamos em cada um dos projetos.

Hoje temos  20 unidades hoteleiras sob gestão e 5 projectos em pipeline para abrir nos próximos três anos. Somos 41 pessoas nos serviços centrais, e temos sob gestão cerca de 800 pessoas. E até à data já recuperámos mais de 12 unidades hoteleiras. Estamos presentes em Portugal continental e ilhas.

Cada vez mais somos contactados por investidores que pretendem contratar os nossos serviços desde a definição do conceito e isso dá-nos a possibilidade de definir melhor o projecto, não só em termos de produto, mas também, e não menos importante, em termos de eficiência, de modo a minimizar os custos operacionais da mesma e potenciar a receita. A experiência que temos de recuperação de empreendimentos turísticos é uma mais-valia a este nível.

A Amazing Evolution nasceu em plena crise, está a sair de mais uma crise, mas não tem parado de arrecadar prémios. Qual a vossa receita de sucesso?

A paixão e a entrega  com que gerimos os projetos, que se traduz no reconhecimento dos hóspedes, sem saberem que são geridos pelas Amazing, mas a autenticidade do produto e o serviço ao cliente está lá. E todos os dias sabemos que temos de fazer mais e melhor, pelas nossas pessoas e pelos nossos produtos.

 

“Sempre me foquei nas soluções e não nos problemas”

Como é que passa de administradora a empreendedora? Quais as principais dificuldades que sentiu e como lidou com elas?

Sou licenciada em Direito e não em Gestão. Desde que trabalho sempre me foquei nas soluções e não nos problemas. Dito isto, quando assumi a função de administradora foi porque quem avaliava o meu trabalho achou que eu tinha skills para resolver as situações que surgiam.  E nessa função também se pode e deve ser-se empreendedor. Eu ainda hoje sou uma pessoa do “terreno”, o que tem um “custo” grande na minha vida pessoal. Trabalho em média 12 h a 14h por dia, incluindo muitos fins de semana, mas é assim que me sinto bem. Mas, devo dizer, que quando era trabalhadora por conta de outrem não era muito diferente.

Quais as competências e skills que a têm ajudado neste percurso?

É difícil fazer esse julgamento de mim própria, mas penso que, com a devida modéstia, posso dizer a paixão que tenho pelo que faço, a resiliência e o foco na solução.

É uma mulher que lida com mundos maioritariamente masculinos, como a construção civil, a banca, investidores. Como consegue conquistar o seu lugar à mesa e fazer-se ouvir?

Felizmente, vamos tendo cada vez mais mulheres no sector. Por exemplo, na Amazing 70% das pessoas são mulheres e no board só temos um homem. Não sinto que tenha de me fazer ouvir, nunca me deixei intimidar com audiências maioritariamente masculinas, e por isso sou igual a mim própria.

Qual a principal lição que aprendeu ao longo do seu percurso? 

Temos de estar sempre preparados para o pior, esperando o melhor. E a crise provocada nos últimos dois anos pelo covid foi um bom exemplo disso. Enquanto entidade gestora temos de fazer sempre, em qualquer situação, uma gestão racional dos recursos. Independentemente de estarmos em épocas de prosperidade económica ou não. Quando o covid entrou nas nossas vidas, sem pedir licença, na Amazing  estávamos preparados para as dificuldades de tesouraria que todos enfrentámos. Nunca deixámos de pagar os impostos e os vencimento ao dia. E em empresas, em situações de insolvência, em que não existe a figura do  acionista para colocar dinheiro na empresa, foi muito importante a gestão rigorosa que fizemos dos recursos no tempo de grande prosperidade económica, como foram os anos que antecederam a crise gerada pelo covid.

Que conselho deixaria a uma jovem executiva que ambiciona chegar a um cargo de liderança?

Que essa ambição tenha um propósito de criação de valor, seja em que dimensão for,  e que não seja movida pela ganância do poder pelo poder.

 

 

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