O bê-á-bá das refeições de negócios: a convidada perfeita

Com o final do ano a chegar, a época dos almoços e jantares profissionais de Natal está, oficialmente, aberta. Joana Andrade Nunes alerta para os 7 pecados que não deve cometer.

Joana Andrade Nunes é consultora de protocolo, etiqueta e comunicação.

Sob o mote da partilha da refeição, a arte de saber estar à mesa permitir-lhe-á sedimentar laços com colaboradores, clientes e parceiros de negócios. Esta é, também, a época por excelência em que muitos superiores hierárquicos (incluindo estrangeiros) disponibilizam o seu tempo para reforçar laços com os seus colaboradores. Como tal, saiba quais são os 7 pecados capitais que, jamais, deverá cometer à mesa sob pena de comprometer a sua carreira em segundos.

1.Colocar, de imediato, o guardanapo no colo e entrar em “pânico” com tantos talheres

Aguarde pela indicação para que todos se sentem à mesa e lembre-se que só deve colocar o guardanapo no colo quando a anfitriã ou anfitrião o fizerem. Se a ordem dos talheres ainda a confunde, fixe esta regra simples: os talheres utilizam-se sempre de fora para dentro, ou seja, basta seguir a ordem em que estão colocados.

2.”Furtar o pão do vizinho”

Qual é o meu prato de pão, o do lado esquerdo ou o do lado direito?” Esta é uma dúvida mais frequente do que pensa. O prato do pão é colocado á esquerda do prato de refeição. Para não se esquecer desta regra, siga a sigla BMW (Bread = pão; Meal = refeição; Wine = vinho/bebidas). O prato do pão está colocado à sua esquerda, o seu prato de refeição marca o centro do seu lugar e os seus copos estão no canto superior direito do prato de refeição.

3.Delinear um anel de batom na borda do copo

Utiliza batom de longa duração mas, ainda assim, não consegue evitar o cenário tenebroso delineando um “anel” de marcas de batom na borda do copo? Saiba que deverá beber sempre sob a mesma marca evitando marcar a totalidade do copo (um cenário inestético, deselegante e evitável);

4.Colocar as mãos no colo e/ou os cotovelos na mesa

Contrariamente às regras de etiqueta britânica — que determinam que as mãos permaneçam no colo durante a refeição — em Portugal, em Espanha, em França e noutros países europeus, as mãos e os pulsos devem estar sempre visíveis, na borda da mesa, ao longo da refeição. É um sinal de boas intenções e de confiança que remonta aos tempos em que os nobres franceses estavam autorizados a ter consigo as armas à mesa. Os cotovelos jamais deverão ser colocados em cima da mesa (de trabalho ou de refeição), em qualquer ocasião.

5.Colocar o telemóvel em cima da mesa

Eu sei que é tentador responder aos e-mails de trabalho “urgentíssimos” e que é difícil não responder às mensagens de WhatsApp da sua filha que lhe dão conta dos últimos desenvolvimentos dos dramas amorosos. Contudo, telemóvel na mesa… jamais! Na mesa apenas constam os objetos necessários para a degustação da refeição. Mantenha o telemóvel na sua carteira em silêncio. Caso espere uma chamada urgente, partilhe previamente que poderá ter de se ausentar, momentaneamente, para atender. Nessa altura, peça apenas “com licença”, levante-se discretamente e coloque o guardanapo, em pinça, no assento da cadeira. Regresse à mesa, sem perturbar, com a máxima brevidade (e, claro… não se esqueça de colocar, novamente, o telemóvel na carteira e o guardanapo no colo).

6.Falar de negócios, política e religião à mesa da refeição

Temas sensíveis como política, religião, dinheiro e temas fracturantes não deverão ser partilhados à mesa, sob pena de colocar uma verdadeira “bomba atómica”. Tratando-se de uma refeição profissional, o tema “negócios” é permitido com conta, peso e medida. Jamais deverá abordar o assunto nos primeiros minutos entrando a matar. Também não o deverá fazer antes da escolha do prato. Sempre que possível, deverá abordar o tema após ter terminado a degustação do prato principal. Relembro-lhe, contudo, que a habilidade de abordar outros temas além de negócios — e que não integrem a lista negra de temas à mesa — é um elemento diferenciador que reforçará a sua excelência profissional.

7.Não aproveitar o momento para se dar a conhecer

Estas são boas oportunidades para se dar a conhecer e para ficar a conhecer melhor os outros convidados. Desde que fale de si com naturalidade e dê também oportunidade aos outros para se revelarem, dificilmente será mal interpretada. Pode falar sobre a última formação executiva que fez e perguntar qual a formação mais interessante que os outros convidados já fizeram ou que recomendariam, ou perguntar como se adaptaram ao teletrabalho e dizer que demorou a habituar-se a gerir a equipa à distância, mas que agora tudo flui melhor, as reuniões são mais produtivas e os resultados no final do ano vão ser bons. Caso esteja com convidados estrangeiros, “quebre o gelo” perguntando se estão a gostar de Portugal e, de seguida, partilhe o seu sonho de ter uma experiência internacional. Quem sabe se tal oportunidade não está mesmo à sua frente.  Dar-se a conhecer — com conta, peso e medida e sem dominar a conversa — é uma forma de revelar facetas menos visíveis do seu percurso (pessoal e profissional) que podem ser determinantes na sua evolução profissional.

Por fim, agradeça o convite, e, se fizer sentido, não se esqueça de o retribuir assim que possível.

Não permita que “lapsos” de etiqueta e protocolo sejam um entrave para fechar “o negócio do ano” e construir relações sólidas e duradouras com clientes, parceiros e colaboradores.

Desejo-lhe um Feliz Natal e um Excelente Ano 2022!

 

Leia mais artigos da autora aqui.

Joana Andrade Nunes, advogada e fundadora da marca de vestuário de luxo infantil Tierno, é  também autora do blogue “Camomila Limão”, no qual partilha, desde 2014, a paixão pela arte de saber estar e receber. O seu livro Quatro Gerações à Mesa foi considerado o melhor livro de culinária de Portugal pelos Gourmand World Book Awards (2016) e o 3.º melhor do mundo pelos Gourmand World Book Awards 2017. Em junho de 2020, fundou o projeto “Etiqueta Moderna”, que promove cursos de etiqueta e protocolo. 

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