Carolina Rocha: “O MBA deu-me novas oportunidades”

Carolina Rocha, marketing lead na Doppio, começou por ser jornalista, depois trabalhou em comunicação empresarial antes de entrar no mundo do marketing. Ao fim de oito anos na área sentiu necessidade de alargar conhecimentos e foi isso que procurou no MBA do ISEG.

Carolina Rocha é Marketing Lead na Doppio.

A página de LinkedIn de Carolina Rocha tem mais do triplo das experiências profissionais do que a maior das pessoas com o triplo da sua idade, por isso não estranhamos quando nesta entrevista defende o lema Build Curiosity First, pois uma currículo assim tem de ser alimentado por muita curiosidade. É esta característica que conduziu Carolina Rocha de um primeiro emprego como jornalista até ao mundo do marketing, onde se sente como peixe na água desde que mergulhou nele pela primeira vez, especialmente no marketing digital. Em 2020 conquistou mesmo o prémio Portuguese Women in Tech em Marketing & Sales. A paixão pela tecnologia começou cedo — chegou a liderar uma equipa de CounterStrike e a sua primeira grande compra como adulta foi uma consola.

Nesta entrevista, Carolina Rocha fala sobre o seu percurso e sobre o que a levou a fazer o MBA do ISEG e quais os benefícios que essa experiência está a trazer á sua carreira como Marketing Lead na Doppio, que produz os jogos para aparelhos inteligentes como o Google Assistant e a Amazon Alexa.

 

Trace brevemente o seu percurso profissional até a posição que hoje ocupa? 

Licenciada em Ciências da Comunicação, comecei a minha carreira em jornalismo. Estive na rádio, passei por publicações online enquanto repórter e fotógrafa, tendo tido a oportunidade de trabalhar enquanto freelancer para revistas internacionais como a Hunger e Wonderland Magazine.

Sendo uma pessoa que não gosta de criticar o que nunca experienciei, decidi entrar no mundo da comunicação empresarial. Em Portugal, muitos dos departamentos de comunicação estão interligados com os de marketing, e os meios digitais eram-me muitas vezes atribuídos. Foi devido a esta experiência profissional, mais do que qualquer formação, que encontrei uma casa no marketing e branding digital.

Tenho interesses muito variados e penso que isso se reflete no meu percurso profissional. Trabalhei em seguros, banca, turismo, instituições diplomáticas europeias, criatividade, moda e, finalmente, tecnologia. Este caminho efetuou-se por três países: Portugal, Espanha e Reino Unido. Em 2020 venci o prémio da Portuguese Women in Tech em Marketing & Sales, e em 2021 terminei o meu Executive MBA.

Apesar dos meus pais não incentivarem a compra de consolas ou videojogos em criança, sempre me considerei adepta deste meio de entretenimento. Cheguei a capitanear uma equipa de CounterStrike na altura em que se faziam LAN Parties e eSports ainda não existiam. A minha grande compra como profissional foi a minha primeira consola. Hoje trabalho na Doppio, um estúdio de jogos de voz que produz os seus jogos para aparelhos inteligentes como o Google Assistant e a Amazon Alexa.

O MBA deu-me a oportunidade de entrar e contribuir em conversas sobre finanças, gestão, direito e recursos humanos, o que apenas com a especialização de marketing teria dificuldade em fazê-lo.


Que competências, hábitos e atitudes a ajudaram a chegar à posição que hoje ocupa?

Não gosto de partilhar os meus hábitos pois sempre me pareceram algo pessoal: cada um deve descobrir aqueles que melhor se adaptam a nós, que nos ajudem a aproveitar e desfrutar o bom de cada dia, a sentir-nos bem connosco mesmos, e desenvolver-nos enquanto pessoas.

Algo que me ajudou imenso foi a prática de vários desportos desde criança. Aprendi sobre espírito de equipa e entreajuda; sobre querer e trabalhar para ter; o aceitar que outros terão qualidades muito diferentes das nossas, mas que isso não invalida aquelas que temos. Aprendi acima de tudo a perder e a encarar derrotas como lições para depois melhor vencer.

Sou adepta ferrenha de soft skills. Valorizo a capacidade de comunicar, de resolver problemas, de enfrentar dificuldades de forma ponderada, e acima de tudo de empatia. Isto transcende qualquer fase de carreira, posição, indústria e local de trabalho, e é necessário cultivá-los ao longo da nossa vida para sermos exímios nessas capacidades. Os hard skills aprendem-se muito facilmente em comparação.

O que a levou a fazer o MBA do ISEG e qual o impacto que esta formação teve na sua carreira e no seu desempenho profissional?

Com mais de 8 anos de experiência em Marketing, particularmente em Marketing digital, deparei-me com uma especialização muito estreita, com pouca aplicação no que é o funcionamento de uma empresa. Foi com esse intuito que decidi ingressar no MBA do ISEG, devido ao seu cariz polivalente e por não ser apenas dedicado a engenheiros ou outras posições técnicas. Coincidentemente entrei na Doppio, uma startup que aplica o gaming a tecnologias como a inteligência artificial, o reconhecimento de voz, e o machine learning. O MBA deu-me a oportunidade de entrar e contribuir em conversas sobre finanças, gestão, direito e recursos humanos, o que apenas com a especialização de marketing teria dificuldade em fazê-lo.

Pudemos assistir como tudo mudou na indústria da música, e hoje em dia, no cinema: um novo paradigma a nível mundial sobre como consumimos cultura e entretenimento está a formar-se a olhos vistos. Portugal ainda vai a tempo de liderar este futuro.

Qual foi até hoje o maior desafio profissional?

Persiste ainda a perceção de que as ações de marketing são um luxo redundante quando o produto oferece grande qualidade. Num mercado cada vez maior e mais competitivo, isso já não é verdade, e a montanha terá de ir a Maomé antes que outra o faça primeiro.

Recentemente, deparo-me com a defesa que os conteúdos online não são só youtubers. Os números de visualizações de conteúdo de gaming, eSports e até de streaming de variedade (dentro do qual se encontram sessões de terapia e autoajuda, workshops de artesanato, e até concertos musicais com interação com o público) crescem a olhos vistos, em comparação ao decréscimo da venda de bilhetes em eventos culturais e desportivos.

Pudemos assistir como tudo mudou na indústria da música, e hoje em dia, no cinema: um novo paradigma a nível mundial sobre como consumimos cultura e entretenimento está a formar-se a olhos vistos. Portugal ainda vai a tempo de liderar este futuro ao apoiar e dinamizar estúdios de desenvolvimento de jogos, gamers e criadores de conteúdo em livestream ou canais digitais a se tornarem os nossos porta-vozes à escala global. Mas para isso, o país precisa de largar o preconceito de que a indústria é só para uma audiência muito jovem ou para adultos que ficaram presos nas caves dos pais ou agarrados ao FIFA, e por isso, a não levar a sério.

Lê-se por todo o lado a citação de Steve Jobs “Stay Curious”. Eu diria que o ás nas nossas mangas seria “Build Curiosity First”. Desde pequenino. Começar cedo a ensinar os nossos filhos a observar, a perguntar, a questionar e explorar. Deixar a idade dos porquês, e transformá-la na idade do “porque não?”

Na sua visão, porque há tão poucas mulheres a trabalhar na área da tecnologia e o que pode ser feito para aumentar a sua presença?

Acredito que o problema começa desde cedo: de dar carros azúis a crianças do género masculino, e bonecas cor de rosa a crianças do género feminino. Contra mim falo, pois muitos desses conceitos são alimentados por marketing. Género à parte, ensinamos precocemente qual a caixa em que cada um se deve inserir. Sempre dissemos às crianças o que gostar, o que fazer, o que ser. Existem muitos estereótipos: o pai que quer que o seu filho seja jogador de futebol; uma filha de quem não tem ensino superior que não pode ousar com o sonho de ser engenheira; um filho de executivos tem de seguir o mesmo caminho para ter o mesmo estatuto dos seus pais para não ficar “aquém das expectativas”. O sonho generalista que sucesso é uma carreira estável, casar e arranjar casa aos 20 anos, ter 2.5 filhos e um cão aos 30. Sucesso, um conceito tão relativo quanto o de felicidade para cada um, não pode ficar enfiado numa caixa.

Lê-se por todo o lado a citação de Steve Jobs “Stay Curious”. Eu diria que o ás nas nossas mangas seria “Build Curiosity First”. Desde pequenino. Começar cedo a ensinar os nossos filhos a observar, a perguntar, a questionar e explorar. Deixar a idade dos porquês, e transformá-la na idade do “porque não?”

Não podemos manter-nos curiosos se partirmos do pressuposto que a curiosidade só diz respeito a certos interesses ou caminhos de vida. E essa curiosidade, mais do que abrir muitas portas, não as fecha a quem quer e pode trazer algo novo.

Qual o seu conselho a uma jovem executiva que queira fazer carreira na sua área?

Para se preparar para estudar, pois o marketing é uma disciplina que muda a cada 3 anos de forma muito radical. Que se rodeie de pessoas que lhe alimentem a alma e energia, e para incentivar outras jovens, pois é através da entreajuda que conseguimos tornar-nos cada vez melhor. Para encarar o mundo com os seus próprios olhos, com compaixão para quem vive nele e a si própria. Dar uma oportunidade a novos pontos de vista, ousar mais, questionar mais (perguntar não ofende ou, pelo menos, não devia!).

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