Cristina Mesquita: “A Euromadi exige o melhor que tenho para dar”

Cristina Mesquita lidera, há dois anos, a Euromadi, central de negociação e serviços que conta com 28 empresas associadas e agrega 41 cash & carry e mais de 2000 lojas de comércio de proximidade. Na bagagem trazia mais de 20 anos na multinacional Henkel, que incluíam duas experiências internacionais, em Espanha e no Brasil.

Cristina Mesquita é diretora-geral da Euromadi Portugal.

Cristina Mesquita é diretora-geral da Euromadi Portugal, central de negociação e serviços que agrega 41 cash & carry e mais de 2000 lojas de comércio de proximidade. Os primeiros dois anos da sua carreira foram na consultoria, na Mercer, e depois trabalhou 23 anos na Henkel, multinacional alemã de produtos químicos, em especial detergentes e cosméticos. Foi durante 11 anos country manager em Portugal da Schwarkopf Profissional — uma das marcas do grupo, mas teve duas experiências internacionais. Uma a partir de Barcelona, em que era responsável regional para os mercados de Espanha, Portugal e América Latina, e outra a partir de São Paulo, no Brasil, onde esteve quatro anos.

Cristina Mesquita é licenciada em Economia, pela Universidade Nova, e soma várias formações na área da gestão, da liderança e do coaching.

 

Iniciou a carreira na consultoria e depois mudou para a Henkel, onde esteve mais de 20 anos. Como surgiu esta oportunidade e em que medida a experiência na Mercer a ajudou numa empresa aparentemente tão diferente?

Iniciei a minha carreira profissional na Mercer Management Consulting, atualmente Oliver Wyman, em 1993 e aí me mantive até 1995, com o desenvolvimento de diversos projetos de consultoria estratégica em diferentes indústrias — telecomunicações, serviços e indústria — e com atividades tão abrangentes como: estratégias de marketing, lançamento de novos serviços, reorganização de processos de negócios e planos de negócios.

A passagem para a Henkel acontece em 1995 como uma oportunidade natural de desenvolvimento da minha carreira, estava longe de imaginar que esta seria a minha casa profissional durante mais de 20 anos. Todas as experiências e competências que desenvolvi no âmbito da minha experiência em consultoria foram extremamente úteis ao longo da minha carreira, salientando principalmente o pensamento crítico e a estruturação de um plano de negócio.

É inegável que a experiência em São Paulo, enquanto diretora geral Henkel Beauty Care Professional Brasil, foi uma grande aprendizagem no campo da delegação mais eficiente e na importância de adaptar a comunicação e o estilo de liderança à cultura do país.

Quais os principais marcos da sua carreira na Henkel?

Por diferentes razões escolho três momentos que passo a explicar:

Pela juventude e pelo desafio de viver fora de Portugal, sem dúvida que a minha experiência profissional em Barcelona, nos anos de 1998 e 1999, foi um marco muito importante no meu percurso. Ter a oportunidade de estar inserida numa equipa dinâmica e altamente competitiva, mas muito unida também, e de ser gestora de produto das marcas espanholas La Toja e Magno que me trouxeram ferramentas e conhecimentos muito importante na fase inicial da minha carreira.

O desafio de assumir responsabilidades como country manager da Schwarzkopf Professional foi muito marcante pela responsabilidade de integrar a equipa e os processos do distribuidor local numa estrutura multinacional. Assim como, a transição do setor de grande consumo (muito baseado em números, negociações diretas e estudos de mercado) e a passagem para a Schwarzkopf Professional (uma área mais relacional), ainda que dentro da mesma empresa, exigiu algum esforço de adaptação.

Mas é inegável que a experiência em São Paulo, enquanto diretora geral Henkel Beauty Care Professional Brasil, foi das mais marcantes com uma grande aprendizagem no campo da delegação mais eficiente e na importância de adaptar a comunicação e o estilo de liderança à cultura do país.

Teve duas experiências internacionais, em Espanha e no Brasil. O que mais a surpreendeu em cada um destes mercados, não apenas na forma de trabalhar, mas também nas preferências e hábitos dos consumidores?

A compreensão e a adaptação à cultura de cada país, os hábitos e estilos/formas de consumo são sempre os principais desafios numa carreira internacional assim como a necessidade de desenvolver um estilo de liderança adequado e capaz de gerar os resultados pretendidos. Em Espanha, e em concreto em Barcelona, o que mais me surpreendeu numa fase inicial foram os diferentes hábitos alimentares e os horários das refeições, assim como o estilo de comunicação direto e assertivo. No Brasil diria que o enorme impacto das redes sociais e o grau de desenvolvimento do e-commerce nas grandes cidades, assim como a alegria de um povo que ultrapassa as dificuldades com um sorriso no rosto.

Conseguir compreender a língua Catalã e aprender a falar o português do Brasil foram importantes para estabelecer laços de confiança com as equipas e com os clientes.

Quais os principais desafios e lições que estas duas experiências lhe proporcionaram?

Os principais desafios são na minha opinião sempre manter a mente aberta e ser flexível, pensando que o fato de haver diferenças não significa que alguém esteja certo ou errado, é apenas diferente. No meu caso concreto, conseguir compreender a língua Catalã e aprender a falar o português do Brasil foram importantes para estabelecer laços de confiança com as equipas e com os clientes.

De que forma essas experiências têm sido importantes na sua liderança na Euromadi?

Acredito que todo o meu percurso anterior me trouxe experiências importantes que estou a aplicar na minha função atual como diretora-geral da Euromadi Portugal, função que iniciei em março 2019. Desde logo os primeiros anos no setor do grande consumo deram-me a visão do fornecedor e a capacidade de entender os desafios e oportunidades que se colocam na relação deste com o setor da distribuição. Por outro lado, a minha experiência no Brasil, cujo negócio assentava numa base de mais de 20 distribuidores locais independentes tem alguma similitude com a missão da Euromadi Portugal, que agrega atualmente 28 empresas, com o objetivo de aumentar a competitividade destas no mercado. Toda a minha experiência anterior foi importante para desenvolver as competências e a experiência necessárias para abraçar o desafio de liderar a Euromadi Portugal.

O que a atraiu na proposta da Euromadi e qual a missão que lhe foi atribuída?

A Euromadi Portugal é uma central de negociação e serviços integrante do Grupo Euromadi, que atua no mercado nacional desde 2006, e uma referência no mercado português com o objetivo de proporcionar aos seus associados as melhores condições e serviços para se manterem numa trajetória de crescente competitividade. É também membro fundador da European Marketing Distribution (EMD), a maior central de produtos de grande consumo da Europa e líder na distribuição, presente em 20 países.

Este foi, sem dúvida, um projeto que me entusiasmou e entusiasma mais a cada dia. Esta proposta levou-me a considerar e a definir um rumo profissional desafiante, por exigir o melhor que tenho para dar. Por um lado, um regresso ao grande consumo, agora do lado da distribuição, foi sem dúvida um grande aliciante, por outro, e sem dúvida o mais relevante, ao identificar-me completamente com a missão da empresa que pretende através dos serviços que presta, contribuir para o sucesso e crescente competitividade dos nossos associados no mercado. O meu desafio foi e continua a ser a consolidação da liderança da Euromadi Portugal como central de negociação e serviços de referência.

O que mais a surpreendeu nos primeiros tempos?

Desde logo a confirmação do potencial de crescimento da Euromadi Portugal, mas também a capacidade da equipa e dos associados de gerarem consensos e de desenvolverem as sinergias, contribuindo assim para uma maior competitividade geral dos negócios.

E o conhecer de perto a enorme relevância do comércio de proximidade retalhista e grossista que se traduz na grandeza da Euromadi Portugal, ao contar com 28 empresas associadas, 41 Cash&Carry e mais de 2000 lojas de comércio de proximidade.

Não vejo a liderança ou a gestão de negócio como uma questão de género, mas sim uma questão de estilo de liderança.

Nota diferenças entre homens e mulheres na forma de gerir o negócio?

Sinceramente, não vejo a liderança ou a gestão de negócio como uma questão de género, mas sim uma questão de estilo de liderança. E apesar de reconhecer que ainda há poucas mulheres com cargos de liderança em determinadas áreas ou setores, acredito que é uma questão de tempo porque há mudança que são inevitáveis seja pelas novas gerações ou pelo no paradigma do mundo do trabalho que se está a instalar.

A pandemia apanhou-a ainda numa fase de adaptação na Euromadi. Quais os principais desafios com que teve de lidar?

A chegada da pandemia no primeiro trimestre de 2020 trouxe-nos a todos desafios profissionais e pessoais, mas eu já estava na liderança da Euromadi Portugal desde março de 2019.

A realidade que o distanciamento social introduziu na nossa atividade e modus operandi foi sem dúvida muito significativa a diversos níveis. E por isso, o principal desafio foi sem sombra de dúvida a organização das equipas de forma a manter o nosso funcionamento, mas garantindo a segurança de todos, num setor que esteve sempre a operar.

Neste âmbito, as reuniões de negociação e os grupos de trabalho passaram a ser organizados à distância e por videoconferência e a rapidez com que essa adaptação aconteceu veio demonstrar a elevada capacidade de adaptação de todos, desde fornecedores a associados e a toda a equipa da Euromadi Portugal.

Por outro lado, assistimos ao aumento da procura, que levou a uma necessária adaptação e reinvenção do negócio, através de uma série de estratégias facilitadoras que permitiram garantir a vantagem competitiva do comércio de proximidade e assegurar uma oferta completa dos seus serviços em contexto de crise.

E como em qualquer situação de crise, a pandemia de Covid-19 trouxe oportunidades e conferiu, seguramente, um renovado sentido ao conceito de comércio de proximidade, que acredito que se irá manter.

Os resultados acumulados dos associados da Euromadi Portugal em 2020 foram muito positivos, onde registámos um crescimento de 2 dígitos, fruto do reforço do comércio de proximidade e do bom trabalho realizado pelos nossos associados durante o ano passado.

Como é que a pandemia afetou o seu setor? Que desafios e oportunidades colocou aos vossos associados?

O surgimento e agravamento da pandemia trouxeram inúmeros desafios ao setor da distribuição alimentar, que se viu confrontado com a inevitável mudança nos hábitos e tendências de consumo e com a emergência de novas necessidades por parte do consumidor. O comércio de proximidade, com elevado peso na Euromadi Portugal, desempenhou um papel fundamental, e continua a desempenhar, devido, entre outras características, à facilidade de acesso e à sua rápida adaptação às novas necessidades dos consumidores, através do reforço das encomendas por telefone ou pelas redes sociais e reforço das entregas ao domicílio, entre outros.

Os nossos associados, assim como todo o setor enfrentaram um crescimento exponencial da procura e a necessidade de tomarem medidas de proteção para as suas equipas continuarem a operar com total segurança, reorganizando as equipas nas suas lojas, cash & carries e armazéns. Neste contexto cada um deles desenvolveu a estratégia mais adequada à sua realidade no terreno.

Neste ponto destaco o abastecimento de refrigerados e congelados, onde a Euromadi Portugal, com o seu serviço EuromadiLogis, foi um importante apoio para os seus associados, ao contribuir para o garante do abastecimento célere e eficaz durante todo este período.

Por fim, acrescentar que os resultados acumulados dos associados da Euromadi Portugal em 2020 foram muito positivos, onde registámos um crescimento de 2 dígitos, fruto do reforço do comércio de proximidade e do bom trabalho realizado pelos nossos associados durante o ano passado.

Qual o impacto da transformação digital no seu setor?

A digitalização foi parte integrante da necessária reinvenção do comércio durante a pandemia. Foram disponibilizados e reforçados novos serviços, como é o caso das encomendas online e através das diversas redes sociais que permitiram um contacto próximo com o consumidor. O recurso a estes novos serviços permitiu que o comércio garantisse um acesso fácil, cómodo e rápido aos produtos essenciais para toda a gente.

Neste sentido, o reforço da digitalização tem sido um grande aliado na adaptação à pandemia, permitindo assegurar uma ótima experiência do cliente. Os associados da Euromadi Portugal têm atualmente diversos projetos em curso o que, reforçando o serviço personalizado e de confiança, se refletirá no aumento da sua relevância e preferência.

Se tivermos feito o “trabalho de casa” sentir-nos-emos mais confiantes e preparadas para expressar as nossas ideias e pontos de vista.

Não havendo uma cadeira na universidade de “Como ser um bom líder”, foi somando várias formações ao longo da carreira. Que competências foi desenvolvendo, nas formações e no terreno, que a conduziram à posição que hoje ocupa?

Para mim, a característica mais importante num líder é a ética – e englobo aqui a honestidade e a transparência. E o princípio de gestão do qual não abro mão é o trabalho em equipa. Assim como, acredito que a partilha de ideias é a base de construção de todos os outros princípios, sempre com respeito pelos valores de transparência, ética e a confiança.

Creio acima de tudo que devemos sempre continuar a aprender e a aperfeiçoar as nossas competências e uma das competências que considero um ponto forte é a determinação para atingir as metas propostas, bem como a orientação ao cliente. Áreas como o autoconhecimento, a resiliência, a capacidade de trabalhar a equipa, a escuta ativa e o coaching de equipas são também competências fundamentais.

Ao longo da minha carreira tenho vindo a participar ativamente em diversas formações ligadas à liderança e creio que isso tem sido determinante para ter chegado à posição que hoje ocupo na Euromadi Portugal.

Em várias ocasiões na sua carreira deve ter sido a única mulher na sala de reuniões. Como se faz ouvir e que conselhos tem para partilhar com as mulheres que ainda passam por essa experiência?

Não há fórmulas mágicas e cada contexto tem as suas especificidades, mas diria que a preparação, a assertividade, a participação ativa e a capacidade de apresentar ideias diferentes são orientações importantes em qualquer situação profissional. Neste sentido, deixo um único conselho – a preparação – se tivermos feito o “trabalho de casa” sentir-nos-emos mais confiantes e preparadas para expressar as nossas ideias e pontos de vista.

Acredita na importância de ter mentores ou patrocinadores ao longo da carreira?

Sim, sem dúvida. Ao longo da minha carreira tive a sorte de trabalhar e aprender com pessoas muito interessantes e que tiveram um contributo muito positivo na minha carreira profissional. Sinto que aprendi muito com todos eles e que o contacto com estilos diversos de liderança e de modelos de trabalho contribuiu em muito para a profissional que sou hoje.

E nesse âmbito, tive a oportunidade de ter vários mentores ao longo dos anos — uns informais e outros mais formais — e recomendo a todos os profissionais que mantenham uma rede de contactos e de mentoria que os apoie ao longo da sua carreira, onde possam obter feedbacks claros, construtivos e que lhes forneçam uma visão alternativa das situações e desafios que irão enfrentando ao longo do seu desenvolvimento profissional.

Que conselho deixa a uma jovem executiva que tenha ambição de chegar a cargos de liderança?

Além de muito trabalho, ter o objetivo de aprender o máximo possível, estar disponível para colaborar em novos projetos e partilhar os seus objetivos de crescimento dentro da organização. Recomendaria ainda manter-se atualizado em relação às tendências do mercado, da gestão e da liderança, dada a velocidade da mudança ser exponencial!

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