António Câmara criou três empresas, todas cotadas em bolsa: YDreams Global, Azorean e Ynvisible. Cinco dezenas de empresas da lista da Fortune 500 foram clientes das suas aplicações interativas para entretenimento, educação e cultura, meio ambiente e publicidade, além dos jogos LexFerrum e Undercover. Foi nos Estados Unidos que bebeu muita inspiração empreendedora: foi professor convidado da Cornell University (1988-1989) e do Massachussetts Institute of Technology (MIT), (1998-1999). No entanto, considera-se melhor profissional como professor do que empresário. A vida académica corre-lhe nas veias. Dois bisavôs e um avô foram professores universitários e o pai, arquiteto paisagista, também ensinou no instituto Superior de Agronomia.
Licenciou-se em Engenharia Civil no Instituto Superior Técnico, em 1977. Cinco anos depois, concluiria o Doutoramento em Engenharia de Sistemas Ambientais na Universidade de Virgina Tech. Regressou a Portugal em 1982 e desde então leciona no curso de Engenharia do Ambiente e integra hoje o CENSE — Centre for Environmental and Sustainability Research.
Dividindo-se entre a universidade e a empresa, como investigador foi pioneiro, como investigador, na área de sistemas de informação geográfica, e é referido em manuais da especialidade como um dos mais proeminentes inovadores da área. Tem mais de 200 publicações internacionais, em que se destacam os livros Spatial Multimedia e Environmental Systems. Foi distinguido com o Prémio Pessoa, atribuído pelo jornal Expresso, em 2006, foi feito Grande Oficial da Ordem de Mérito, e, em 2008, foi “Empreendedor do Ano”, da União Europeia.
Neste texto, abre o seu coração e revela quem são as mulheres que mais marcaram a sua existência.
“As primeiras mulheres da minha vida foram as minhas avós, com quem passei largas temporadas até aos 15 anos: Francisca Sousa da Câmara (avó paterna) e Beatriz do Canto (avó materna).
A minha Avó Francisca era filha de Inocêncio Camacho Rodrigues, que foi Governador do Banco de Portugal e aquele que proclamou a Republica nos Paços do Município a 5 de Outubro de 1910. Lembrava-nos frequentemente esse legado “republicano”, que era para ela sinónimo de uma abertura à mudança. O meu Avô António, seu marido, fundou a Estação Agronómica Nacional. Com ele viveu em Berlim, Cambridge, Edimburgo e Columbia no Missouri, locais onde ele se formou como cientista. Viajaram também para muito outros pontos do Globo, numa altura em que era raro fazê-lo. A abertura da minha Avó Francisca à mudança e ao mundo influenciaram-me decisivamente: fui estudar para o EUA quando concluí o curso no Técnico.
Senti profundamente o seu falecimento no meu ultimo ano do doutoramento após três anos sem a ver. Tanto que resolvi nessa altura voltar a Portugal. Não queria sofrer mais a perda remota de entes queridos.
Consegui assim assistir aos últimos anos da minha Avó Beatriz. Era neta de Ernesto do Canto, um notável intelectual açoriano. Cícero dizia que os seres humanos apenas precisam de jardins e bibliotecas. Ernesto do Canto criou um jardim notável nas Furnas (Açores), que foi depois recuperado pela minha Avó (e tem hoje o seu nome). Esse jardim pode ser visitado pelo publico gratuitamente nos meses de Agosto há mais de cem anos. Ernesto do Canto era também detentor de uma das maiores bibliotecas do País, que legou à cidade de Ponta Delgada.
A minha Avó Beatriz partilhava com o seu Avô o gosto pelos jardins e livros, e também a generosidade. Herdou também dele o gosto pelas viagens longas e as relações que mantinham com familiares emigrados em todo o Mundo. A minha Avó Beatriz juntou ainda um sentido de aventura incomum: adorava explorar o Oriente (e nomeadamente Tóquio), onde passava largas temporadas mesmo depois de cumprir 80 anos.
A minha Mãe Beatriz foi naturalmente a terceira mulher da minha vida. António Variações dizia que a sua música era um misto da Sé de Braga com Nova York. A minha Mãe era um misto da Lomba da Maia rural (de São Miguel) com o cosmopolitismo de Paris. Sentia-se feliz no meio das pastagens, mesmo em tempo inclemente. Mas, depois, tinha o acesso à cultura parisiense através da sua notável prima e melhor amiga Violante do Canto, que sempre viveu em Paris. Da minha Mãe herdei a resiliência, e também a facilidade em viver em ambientes diversos.
A Mulher da minha vida é a Guida. Tem a abertura ao Mundo da minha Avó Francisca, o gosto pela aventura da minha Avó Beatriz, e a resiliência da minha Mãe Beatriz. Mas em doses ainda mais elevadas. Não tem paciência para a procastrinação e outros tipos de imperfeições, o que me mantem na linha. Sobretudo porque combina uma total falta de filtro com um notável sentido de humor. A Guida foi sempre também uma Mãe fantástica para os nossos filhos Manuel e Luís. Transmitiu-lhes o seu gosto pela vida e a crença que “impossible is nothing”. Eles como eu têm nela seguramente uma Mulher para a vida.
António Câmara é um dos 52 entrevistados do livro Segredos dos Melhores Profissionais, que pode adquirir aqui.
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