A Spa Ceylon foi lançada em Portugal por Sarah e Sheila Aly, duas irmãs que se apaixonaram pela marca à primeira vista. Nascidas em Lisboa, estudaram e trabalharam ambas fora de Portugal. Sarah Aly, 28 anos, estudou Gestão em Londres, fez um mestrado na Católica Lisbon of Business & Economics, prosseguiu os estudos no Japão e trabalhou depois em auditoria financeira na Deloitte e em business development na Mully Group. Por seu lado, Sheila Aly formou-se em Gestão e Economia também em Londres, estudou em Milão e Sao Paulo, e regressou a Londres para trabalhar no mercado financeiro, com foco principal em banca de investimentos e private equity.
O desejo de trazer a Spa Ceylon para Portugal surgiu depois de férias com a família no Sri Lanka, onde Sarah se apaixonou pelo universo da marca. Iniciou os contactos de imediato e não demorou a conseguir convencer os seus fundadores de que Portugal deveria integrar o seu roteiro de internacionalização. No início de 2020, a irmã regressava também a Portugal para se juntar a esta aventura. Juntas nesta primeira experiência por conta própria já conseguiram abrir uma segunda loja apesar de terem lançado o negócio em plena pandemia.
Lançar um negócio próprio na área da beleza já era um objetivo antes de conhecerem a Spa Ceylon?
Sarah e Sheila: Sempre foi o nosso objetivo ter um negócio próprio a médio prazo nas nossas carreiras, no entanto a área da beleza foi surgindo organicamente. Na verdade, não era o nosso maior interesse, mas a oportunidade apresentou-se de forma muito natural e acabámos por agarrá-la. Apesar de a Spa Ceylon ser uma empresa de cosmética vai muito mais além, acreditamos que não é apenas uma marca, mas um estilo de vida no qual o cuidado pessoal encontra o bem-estar, traduzindo-se numa experiência única que nasceu no Sri Lanka e consolidou-se como a maior cadeia de luxo Ayurveda do mundo.
O que vos fez acreditar que este era um negócio com potencial para vencer em Portugal?
Sarah: A Spa Ceylon é absolutamente diferenciada de qualquer outra marca sendo hoje a maior cadeia Ayurveda de luxo do mundo com mais de 100 lojas no mundo. A Spa Ceylon combina a tradição Ayurveda com a mais moderna ciência dermatológica para oferecer os melhores produtos e experiências para o bem-estar dos clientes. A formulação dos produtos, a qualidade e pureza dos ingredientes aliado ao ADN da marca e uma experiência multissensorial de luxo são sem dúvida os seus fatores diferenciadores.
Após o primeiro contacto com a marca numa viagem de lazer ao Sri Lanka, acreditei imediatamente no seu potencial e ficou claro para mim que poderia ser uma excelente oportunidade de negócio para o mercado português. O que me atraiu inicialmente foram os ingredientes puros dos produtos aliados com o packaging muito colorido e diferenciador. O conceito em si é muito distinto do que encontrávamos em Portugal.
Como ia ficar alguns dias no Sri Lanka, contactei a marca e iniciámos nessa mesma semana os contactos. A marca está focada na sua expansão europeia, pelo que a recetividade dos fundadores foi bastante positiva ainda que Portugal não estivesse no topo dos destinos europeus para avançar imediatamente. O Shalin, um dos fundadores da marca, visitou posteriormente Lisboa, que ainda não conhecia e, tive a oportunidade de lhe mostrar a nossa cidade incrível, ficou muito impressionado e foram uns dias onde pudemos conhecer-nos melhor e explorarmos a nossa parceria.
Quais os principais desafios para trazer e implantar a marca no nosso país?
Sarah e Sheila: Ambas vivemos muito tempo fora de Portugal por isso tivemos que, de certa forma, aprender a trabalhar em Portugal. Consideramos que existe uma forma muito peculiar de trabalhar em Portugal e uma das maiores dificuldades que sentimos foi encontrar bons parceiros que tivessem uma forma de trabalhar semelhante à nossa e com quem pudéssemos desenvolver uma relação de parceria e confiança.
A burocracia na área da cosmética é também um aspeto a considerar quando tentamos trazer produtos internacionais para comercialização na Europa, pois é necessário um processo de acreditação e certificação de modo a cumprir todas as normas e requisitos que demora algum tempo, mas é absolutamente crucial para a implementação da marca. Adicionalmente, tendo em conta que esta é uma marca nova em Portugal, sem qualquer awareness ou reconhecimento no mercado o nosso maior desafio inicial é traduzir de uma forma eficiente todo o universo Spa Ceylon, replicar o ADN da marca, o seu conceito a sua imagem e principalmente o seu serviço de excelência no atendimento ao cliente. A formação do nosso staff para os beneficios da Ayurveda no nosso dia-a dia e nos produtos específicos da Spa Ceylon foi um desafio pois devido à pandemia toda a formação foi feita à distância.
Portugal é um excelente mercado para testar conceitos inovadores porque os adotamos com relativa naturalidade e entusiasmo.
Não estando Portugal nos objetivos dos fundadores, como conseguiram fazê-los mudar de ideias?
Sarah e Sheila: Ainda que Portugal não estivesse imediatamente na lista de cidades a explorar na Europa, rapidamente entenderam o seu potencial e como porta de entrada para outros mercados próximos. Somos um excelente mercado para testar conceitos inovadores porque os adotamos com relativa naturalidade e entusiasmo.
Fomos bastantes incisivas na nossa vontade de trazer a marca para Portugal e convidamo-los a visitar o país para poderem sentir a energia da cidade e ver in loco potenciais localizações. A visita ocorreu no primeiro trimestre de 2019, com a cidade cheia de pessoas e turistas e o consumo numa altura muito favorável. Penso que a combinação do nosso entusiasmo e o contexto do país foram suficientes para mudar as suas ideias e para que considerassem Portugal como um destino de excelência para a Spa Ceylon.
Que critérios tiveram em conta na escolha das localizações e que argumentos foram decisivos para conseguir entrar num centro comercial como o Colombo?
Sarah e Sheila: O critério para as localizações tem em linha a estratégia de expansão da Spa Ceylon. A presença em centros comerciais é sem dúvida um dos nossos objetivos e o Centro Colombo é uma referência no país. Decidimos avançar primeiro em Lisboa com dois conceitos de loja diferentes; a nossa primeira abertura na Rua Castilho permite-nos ter uma loja com um tamanho e serviço muito personalizado onde o cliente tem a possibilidade de conhecer cada uma das gamas e, em detalhe, quais os produtos que mais se adequam ao seu tipo de pele, cabelo, etc. A loja do Centro Colombo segue a mesma linha de serviço de excelência, no entanto, o que temos observado é que muitos dos nossos clientes que nos visitam no Colombo já tinham visitado a loja da Castilho antes e sabem exactamente que produtos estão à procura.
O Centro Colombo foi muito receptivo ao conceito da Spa Ceylon. Pensamos que reconheceram o valor da marca e a necessidade dos seus consumidores que cada vez mais procuram serviços de bem-estar e marcas com as quais se identifiquem em espaços de centro comercial.
Achamos que é muito importante termos as tarefas bem dividas consoante os nossos pontos fortes, mas sem estarmos com areas específicas alocadas a cada uma.
Trabalhar com familiares nem sempre é fácil. Qual o balanço que fazem de trabalhar juntas e que conselho deixariam para que a relação funcione?
Sheila: Até agora o balanço tem sido positivo. Claro que como somos irmãs estamos muito mais tempo juntas do que se fossemos apenas colegas e às vezes falamos um bocado mais de assuntos da Spa Ceylon à hora de jantar do que devíamos. No entanto, penso que facilita bastante a comunicação e torna o processo de decisão mais rápido dado que nas coisas mais importantes raramente discordamos e em 90% das vezes sabemos o que a outra está a pensar.
Achamos que é muito importante termos as tarefas bem dividas consoante os nossos pontos fortes, mas sem estarmos com areas específicas alocadas a cada uma. Não sei me explico bem, mas apesar de cada uma ter responsabilidades diferentes estamos sempre por dentro do que a outra está a fazer o que ajuda caso algo não corra assim tão bem, estamos as duas sempre a corrente do assunto e podemos intervir e tentar agilizar a situação mais facilmente.
Sarah: Temos personalidades muito diferentes, mas que se completam bem em termos de skills. A Sheila por exemplo, é mais analítica e sempre se focou em finanças, enquanto eu sou mais criativa e focada na operações. Na minha opinião, sermos irmãs é uma vantagem para o nosso negócio e o facto de nos conhecermos muito bem facilita a divisão de tarefas consoante os nossos pontos fortes, mas trabalhando sempre em conjunto e sintonia.
Em que medida as vossas experiências profissionais anteriores têm sido importantes para a Spa Ceylon?
Sarah: Antes de embarcarmos a 100% na Spa Ceylon, ambas tivemos experiências profissionais em empresas multinacionais que nos permitiram ter uma exposição considerável a vários tipos de negócios e entender de uma maneira transversal o funcionamento dos mais diversos negócios. Sem dúvida, essa exposição aliada à nossa vontade de empreender foram fundamentais para avançarmos para esta aventura de uma forma mais segura ainda que estejamos sempre a aprender todos os dias.
Sheila: A minha experiência profissional anterior sempre foi ligada à banca de investimentos e private equity. Apesar de ser uma indústria muito diferente do retalho, penso que a ética de trabalho que aprendi na banca é essencial quando se embarca num negócio próprio.
Ainda que tenhamos tido trabalhos exigentes, quando o projeto é 100% nosso é quase impossível desligar o modo profissional e aproveitar da melhor forma os momentos de lazer.
Do que têm mais saudades de quando trabalharam por conta de outrem e o que mais apreciam agora na vossa vertente de empresárias?
Sarah: O que mais aprecio nesta vertente de empresária é o facto de podermos desenvolver e implementar um projeto de raiz consoante a nossa visão. Aprecio muito estar envolvida em todas as vertentes do negócio e poder dar o meu contributo de uma forma tangível e altamente mensurável na empresa. A Spa Ceylon ainda está nos primeiros passos da sua implementação em Portugal e por isso, exige muito de nós como profissionais, mas também nos permite definir o rumo da marca e isso é um grande privilégio. O que mais sinto saudades de quando trabalhava por conta de outrem é o sentimento de “poder desligar” nos fim-de-semanas ou nas férias. Ainda que tenhamos tido trabalhos exigentes, quando o projeto é 100% nosso é quase impossível desligar o modo profissional e aproveitar da melhor forma os momentos de lazer.
O que de mais importante aprenderam e que podem agora partilhar com quem queira trazer uma marca internacional para Portugal?
Sarah: Diria que o mais importante em todo o processo é acreditar a 100% na marca que pretendem trazer para Portugal e conhecer bem o mercado e os concorrentes da marca, entender quais os pontos diferenciadores e desenvolver uma estratégia para poder capitalizá-los desde o princípio. Adicionalmente, considero fundamental desenvolver uma boa relação com os fundadores ou responsáveis da marca para que trabalhem em conjunto no seu crescimento.
Sheila: Concordo com tudo o que a minha irmã disse, no entanto, creio que a maior aprendizagem é não desistir ao primeiro ‘não’ que ouvirmos, ser resiliente e ter uma postura muito hands-on de correr atrás dos nossos objetivos.