Texto de Maria Domingas Carvalhosa, CEO da Wisdom Consulting
“Há um facto indesmentível pelos números. Portugal tem uma baixa taxa de produtividade. Segundo dados da Pordata, em 2018, um português produziu, numa hora, 64,1% do que deveria ter produzido. Tendo em conta que os irlandeses, que lideram a tabela, produziram 179% esta será uma boa razão para aprofundarmos o tema.
Pergunto-me eu, como se devem estar a perguntar quase todos, mas como é possível? Trabalhamos até às tantas? Como é que podemos trabalhar ainda mais? Pergunto-me ainda, e acredito que todos se questionem, se os portugueses são muito produtivos no estrangeiro, porque não o são no seu país de origem?
Pois. Não me levem a mal. Eu contra mim falo, já que lidero uma organização, mas cada vez mais me convenço que o problema de produtividade do nosso país não tem origem na força do trabalho, mas sim nas lideranças.
Convém não esquecer que produtividade do trabalho também assenta na forma de organização dos recursos, nos capitais investidos na produção e, obviamente, na competência dos empresários.
Há muito que Portugal não faz qualquer esforço para a produção de boas elites políticas e económicas. É que não basta gerar licenciados ou mestres para assegurar a criação de um escol nacional capaz. Um verdadeiro líder não se cria de cartilha. Precisamos de líderes de serviço e não de líderes extrativos. Se a um líder faltar o sentido de missão, a noção rigorosa do conceito de moral e de ética, as capacidades para definir objetivos claros, para ouvir ou envolver e para redirecionar para o melhor desempenho, não temos verdadeiramente um líder. Temos eventualmente um mandão, atualmente, mais conhecido por chefe. E de chefes não reza a história.
Está então na altura de aprofundarmos o tema das lideranças e começar a pensar fazer o que fazem, e bem, outros países como a França ou o Reino Unido. Vejamos. A maioria dos líderes políticos franceses passaram pelas ‘Grandes Écoles’. Estabelecimentos de ensino superior que disponibilizam uma formação de alto nível que oferece grande prestígio. Foi nestas instituições que se formou grande parte da elite política e científica francesas e entre os seus alunos encontram-se ainda executivos de topo de grandes organizações públicas e privadas. Desde o seculo XVIII, que França possui estas escolas de elite.
E o Reino Unido? Quem nunca ouviu falar de Oxbridge? A abreviatura das Universidades de Oxford e de Cambridge, as duas instituições mais pontuadas no ranking universitário europeu e mundial que, em conjunto, são responsáveis por mais de um sexto de todos os doutoramentos em língua inglesa.
Resumindo, devíamos seguir o exemplo dos países que trabalham para criar elites de serviço que melhoram índices económicos e baixam taxas de corrupção e não dos que criam elites extrativas intimamente ligadas aos poderes instalados.
A nossa elite não pode nascer nas associações de estudantes e nas juventudes partidárias. Tem que ser formada em instituições nobres que ofereçam ao país, às empresas e à economia os líderes que merecem. Há que incutir o espírito de serviço e de missão. A ética e a moral. E as boas práticas de liderança.
Serão estes líderes que trarão as soluções para um aumento da produtividade. Os cidadãos e os colaboradores das empresas não podem continuar a carregar nos seus ombros o peso dos números quando, na realidade, na maior parte dos casos, a responsabilidade não é sua.
Vamos lá criar menos chefes e mais líderes!”
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