Sparkl: o conceito de beleza ao domicílio

Antigamente, ia-se ao cabeleireiro para arranjar o cabelo e as mãos, hoje há equipas de beleza que vão ter consigo, a casa ou ao escritório. Este é o negócio da Sparkl, lançada por Filipa Mascarenhas e Mariana Bettencourt, que já está em quatro cidades do país e começa a sonhar com Espanha.

Mariana Bettencourt e Filipa Mascarenhas acreditam no potencial da beleza ao domicílio.

A Sparkl é uma empresa 100% portuguesa que presta serviços de beleza ao domicílio, de forma fácil, prática e acessível para as clientes. A ideia é de duas amigas de longa data, Mariana Bettencourt e Filipa Mascarenhas, que depois de terem trabalhado em duas grandes empresas do setor da beleza – L’Oréal e Beyersdorf – perceberam o potencial deste negócio. De um lado, mulheres que têm cada vez menos tempo para cuidarem de si, e do outro profissionais cansadas de horários longos e mal remunerados, que ambicionam ter mais controlo sobre o seu tempo. Filipa Mascarenhas passou pela Beyersdorf e esteve 11 anos como brand manager da Tissot e Ómega na Boutique dos Relógios, e Mariana Bettencourt foi diretora de marketing digital e comunicação na L’Oréal Portugal. Depois de maturarem a ideia durante alguns anos, em 2017 deixaram os empregos para fundar a Sparkl e se dedicarem a 100% ao projeto.

Começaram apenas com serviços de unhas, mas hoje já disponibilizam também uma serie de serviços complementares, como depilação, massagens, penteados, corte de cabelo e maquilhagem. O ano de 2019 marca o crescimento da equipa e a entrada de cerca 300 mil euros de investimento.  A empresa já está a prestar serviços em Braga, Porto, Lisboa e Algarve mas na realidade, caso a cliente queira, a Sparkl desloca-se a qualquer zona do país. Confiantes nos resultados que têm conseguido com o conceito de beauty on demand, as duas empreendedoras começam já a sonhar com o mercado espanhol.

 

Como surgiu a ideia da Sparkl?
Na realidade, surgiu em 2010 com a Nails@Work que se focava apenas em serviços de beleza no local de trabalho. A ideia e marca foram registadas embora não fosse o momento certo para a concretizar, pois 2011 foi o inicio da crise e do célebre “apertar do cinto”. Em 2017 o contexto já era diferente, Portugal e a Europa estavam já familiarizados com os serviços on demand à distância de um clique – nesse aspeto a Uber criou as condições perfeitas para o surgimento da Sparkl.

Mas a resposta à pergunta não estaria completa sem dizer que a ideia surge de uma necessidade do lado do cliente e da profissional. O cliente tem cada vez menos tempo e em vez de se deslocar até ao salão prefere que o salão se desloque até si. As profissionais da área, por outro lado, estão cansadas de horários fixos e exigentes e por isso estão dispostas a experimentar um modelo novo onde são elas a decidir os horários e serviços que querem executar.

Muitos dos investidores são homens e não entendem muito bem esta necessidade dos serviços de beleza. Não entendem que tem impacto na auto-estima.

Quais as fases mais importantes na concretização do negócio?
Hoje em dia, em retrospetiva, é mais fácil enumerar as fases importantes na concretização do negócio, mas durante o processo não são assim tão claras. Estamos a construir um novo negócio, que obriga a novos hábitos e a estar constantemente a testar soluções e diferentes direções até encontrar um modelo perto da perfeição. Podemos, no entanto, destacar uma fase de planeamento, de teste da ideia, sem recorrer a grandes investimentos, e, por fim, de afinar todas as aprendizagens melhorando processos de apoio ao cliente, de recrutamento e de plataformas tecnológicas que permitam que o negócio ganhe escala.

Qual o investimento inicial e como se financiaram?
Em linguagem de startup, durante o primeiro ano não procurámos investimento. Recorremos ao bootstrapping para testar se havia product market fit e conseguirmos a primeira faturação. No final de 2017 participámos no programa de aceleração mais exigente e reconhecido em Portugal, o Lisbon Challenge da incubadora Beta-i, e ganhámos a competição. Foi através deste programa que conhecemos os nossos atuais investidores e que tivemos o nosso primeiro investimento.

Quais as principais dificuldades que enfrentaram?
Muitos dos investidores são homens e não entendem muito bem esta necessidade dos serviços de beleza. Não entendem que tem impacto na auto-estima e que é algo que muitas pessoas não dispensam para se sentirem bem com elas próprias. Tivemos de mostrar o potencial de negócio, pois só na Europa, são gastos 85 milhões de euros em serviços de beleza onde os clientes têm de se deslocar aos locais para usufruir dos mesmos, imaginem o quanto poderiam gastar se estes se deslocarem até eles. Foi importante ter algum jogo de cintura para que acreditassem no projeto. Finalmente, acabámos por encontrar os investidores perfeitos, que entenderam os objetivos e o potencial do negócio e que abstraíram de alguns preconceitos e até gostaram do facto de se tratar de uma startup fundada por duas mulheres para facilitar a vida de mulheres e homens.

É importante ter alguma experiência profissional para ter sucesso na execução de um negócio tão complexo como o nosso.

Que qualidades e competências consideram essenciais para ter sucesso na vossa área?
Resiliência, espírito de equipa, competências de liderança e de gestão e muita experiência no setor de beleza. É muito importante conhecer bem o sector de beleza, pois é uma vantagem competitiva que faz toda a diferença no sucesso ou insucesso de um negócio como o da Sparkl.

Em que medida as vossas experiências profissionais anteriores vos ajudaram?
Ajudou bastante termos ambas trabalhado em multinacionais líderes no segmento da Beleza, neste caso L’Oréal e Beiersdorf. Mas de qualquer forma é importante ter alguma experiência profissional para ter sucesso na execução de um negócio tão complexo como o nosso. Temos de motivar equipas a dar o extramile e a acreditar no projeto, temos de ter objetivos muito bem definidos e prioridades.

O sucesso não se constrói de um dia para o outro, constrói-se com muito esforço, dedicação e resiliência.

Quais as principais aprendizagens que fizeram nestes dois anos?
É difícil destacar algumas porque foram mesmo muitas, mas diríamos que a principal é a de que tudo é possível, com muita resiliência e trabalho. O sucesso não se constrói de um dia para o outro, constrói-se com muito esforço, dedicação e resiliência.

O que gostariam que alguém vos tivesse dito logo no início e que só aprenderam depois?
Que ia ser tão duro e ao mesmo tempo tão recompensador.

Como tem sido o crescimento da Sparkl nestes dois anos?
A Sparkl tem crescido 265% por período homólogo em vendas e já está em quatro cidades do país.

Quantas colaboradoras têm neste momento?
Cerca de 70.

Depois de Lisboa e Porto, que outros projetos têm para o futuro da Sparkl?
Expansão internacional, muito provavelmente Espanha.

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