Basta existir uma mulher na equipa de direção de uma empresa para que a presença feminina no pipeline de cargos de gestão da organização triplique. Esta é uma das conclusões do estudo Getting to Equal 2018 da Accenture, no qual a consultora multinacional se debruça anualmente sobre as soluções para promover a igualdade de género nas empresas de todo o mundo. De apenas 8% de mulheres presentes na chamada “via rápida” da progressão profissional — mulheres cuja carreira avança mais rapidamente do que a das suas pares, num período de 5 anos — em empresas com lideranças exclusivamente masculinas, este número passa a 23%, se existir pelo menos uma mulher num cargo de liderança da empresa.
As organizações nas quais as equipas de gestão de topo divulgam as suas metas e planos equidade e diversidade de género, responsabilizando-se por atingi-las, apresentam também hipóteses 63% superiores de terem mais mulheres em cargos de direção executiva, segundo o mesmo estudo. Um bom exemplo deste compromisso com a diversidade vem da própria Accenture, que anunciou ontem, 8 de março, que as mulheres já compõem 41% da sua força de trabalho a nível global (mais de 170 mil), percentagem que tem vindo a subir desde que divulgou a sua meta de alcançar a paridade de género até 2025.
Outra das conclusões interessantes desta pesquisa é o facto de não serem só as mulheres quem ganha profissionalmente, quando trabalham em organizações com culturas mais inclusivas a nível de diversidade de género: os homens têm também 23% mais de hipóteses de progredirem na carreira, alcançando lugares mais seniores.
34 gestoras por cada 100 homens nos mesmos cargos
O inquérito da Accenture incidiu sobre mais de 22 mil pessoas, homens e mulheres com educação universitária, em 34 países, no sentido de medir os fatores que contribuem para uma cultura empresarial inovadora e promotora da equidade de género.
É bem reconhecido em quase todo o mundo que as mulheres avançam menos e mais lentamente na carreira, mas este estudo dá valores concretos a essa afirmação ao concluir que a probabilidade de elas chegarem a cargos de gestão de topo das suas empresas é, atualmente, 22% mais baixa do que a dos seus colegas homens. Em todo o mundo, por cada 100 gestores masculinos existem, em média, 34 mulheres, número poderia subir rapidamente para as 84 gestoras por cada centena de homens nos mesmos cargos, se algumas mudanças fossem encorajadas e implementadas nas organizações. Os salários femininos também registariam um aumento médio global de 51%, o que representaria, em média, mais 30 mil dólares extra nos rendimentos anuais femininos e um avanço considerável para ultrapassar o gap salarial de género.
Fatores que fazem a diferença
O estudo da Accenture começou por identificar mais de 200 fatores potenciadores de mudanças nas empresas. Desse lote, o inquérito feito a nível mundial chegou a um mais estrito leque de 40 fatores, presentes nas culturas empresariais, que foram referidos como aqueles que mais influenciavam, de forma positiva, a progressão mais rápida das carreiras femininas e a redução do gap salarial, contribuindo ainda para a melhoria do desempenho nas organizações. A pesquisa divide-os em três grandes categorias, salientando os 14 mais decisivos, verdadeiros catalisadores de mudanças positivas nas empresas:
— Liderança arrojada: a diversidade de género deve ser uma prioridade para os gestores da empresa; as suas metas de diversidade são comunicadas para fora da organização; a empresa compromete-se com um plano transparente para lidar com as diferenças salariais entre géneros.
— Políticas e práticas: são feitos esforços para atrair, reter e promover talento feminino; a empresa tem uma rede feminina de networking; essa rede é aberta à participação masculina; os homens são encorajados a partilhar/usar a licença de parentalidade quando os filhos nascem.
— Ambiente capacitador: nunca foi pedido aos funcionários que mudassem a sua aparência para se ajustarem à cultura da empresa; têm liberdade para serem criativos e inovadores; o teletrabalho ou sistemas de home office são prática comum; a empresa garante formação relevante aos seus colaboradores; as videoconferências são encorajadas, evitando as viagens de trabalho; há flexibilidade para trabalhar em casa, se o colaborador precisar de tirar um dia para resolver um assunto pessoal; os funcionários sentem confiança para relatarem casos de assédio sexual ou de discriminação no local de trabalho.
Nas empresas onde os 40 fatores culturais inovadores são mais comuns, as probabilidades de as mulheres serem promovidas a um cargo de gestão são 35% superiores e elas têm também quatro vezes mais hipóteses de chegarem a funções de direção. Mais ainda: 39% das colaboradoras deste tipo de empresas estão na “via rápida” da carreira, contrariamente às organizações nas quais estes fatores são menos comuns, onde os valores não vão além dos 9%.
A satisfação global dos colaboradores de ambos os géneros também é maior nas empresas com este tipo de cultura inovadora: 95% dizem-se satisfeitos com a sua progressão profissional até à data e afirmam gostar do que fazem. Os dados do estudo referem ainda que, nas culturas empresariais em que estes 40 fatores são mais comuns, a percentagem de mulheres que ambicionam à progressão futura na carreira passa de 73% para 93% no caso feminino, e de 81% para 94% no caso dos homens.
O estudo da Accenture observa também como algumas políticas indicadas exclusivamente para as mulheres, como a licença de maternidade, podem revelar-se, na realidade, contraproducentes — a probabilidade de avançar na carreira desce 2,7% quando só a mulher pode gozar esta licença. Mas quando as empresas encorajam o uso da licença de parentalidade para os colaboradores de ambos os sexos, o impacto negativo no avanço da carreira feminina é eliminado por completo.
Uma reflexão global, com medidas pertinentes para fazer avançar a igualdade de género no mundo do trabalho.