Accenture debate cultura de igualdade nas empresas

A Accenture promoveu um encontro para apresentar as conclusões do seu estudo, "Getting to Equal 2018", e que contou com um painel de debate sobre as estratégias para promover a progressão profissional feminina e a igualdade de género nas empresas.

O evento contou com um painel de debate sobre a promoção da igualdade de género nas empresas e de progressão das carreiras femininas.

Com mais diversidade nas empresas, todos ficam a ganhar: esta foi a grande mensagem do evento promovido pela Accenture na manhã de 9 de março para divulgar as conclusões do seu estudo internacional Getting to Equal 2018, ainda na esteira da celebração do Dia Internacional da mulher, assinalado na véspera.

As boas-vindas ficaram a cargo de José Gonçalves, CEO da Accenture Portugal, que salientou o facto de este ser o 14º ano em que a consultora leva a cabo este evento. O tema da diversidade de género deixou de estar na agenda apenas por ser “politicamente correto”, mas também por tratar de direitos humanos e de valor em termos de capital humano. “A Accenture tem o orgulho de ser eleita, há muitos anos, como uma das empresas mais éticas do mundo e pensamos que isso também tem a ver com o reconhecimento da importância que damos a este tema”, segundo José Gonçalves.

O CEO falou ainda do processo de transformação da empresa, no qual a inovação de serviços e processos  também tem muito a ganhar com a diversidade — de género, de orientação sexual, étnica ou de credos. O compromisso da Accenture com a diversidade de género, a nível mundial, está patente nas metas assumidas pelo próprio CEO e chairman da consultora, Pierre Nanterme: ter 50% de colaboradores de ambos os géneros até 2025. Atualmente, 41% da sua força de trabalho, a nível mundial, é feminina, mas em Portugal os números atingem já aos 43%. “Achamos que vamos chegar a esta meta mais cedo. O desafio vai ser ter este número em todos os níveis da organização.”

Como triplicar o número de mulheres que avançam na carreira?

Fernanda Barata de Carvalho, diretora de Recursos Humanos da Accenture, apresentou as principais conclusões do estudo internacional Getting to Equal 2018, que este ano incidiu sobre os fatores na cultura das organizações que influenciam a progressão profissional feminina de forma mais rápida e positiva, contribuindo também para combater o fosso salarial entre géneros.

“Este ano, o estudo é-me particularmente querido porque defende que a cultura de igualdade desbloqueia o potencial humano”, Fernanda Barata de Carvalho, diretora de RH da Accenture.

A Accenture implementa já muitas destas medidas, conforme referiu a diretora de Recursos Humanos, dando alguns números da empresa a título de exemplo: a sua equipa executiva em Portugal tem já 3o% de mulheres. “Este ano, o estudo é-me particularmente querido porque defende que a cultura de igualdade desbloqueia o potencial humano. Uma das conclusões mais interessantes é o facto de demonstrar que as mulheres podem prosperar mais rápido e que, ao promovermos isso, os homens também vão ter uma progressão de carreira mais rápida. Todos ficamos a ganhar: mulheres, homens, empresas e a sociedade.”

Entre as principais conclusões do estudo destacam-se alguns números de peso. Se existir diversidade de género na gestão de topo das empresas, a percentagem de mulheres que evoluem mais rapidamente na carreira triplica e, nas empresas onde os 40 principais fatores catalisadores de mudanças positivas são mais frequentes, a percentagem de mulheres com carreiras de progressão rápida sobe de 9% para 39%.

Em jeito de resumo, Fernanda Barata de Carvalho destacou os principais passos para uma verdadeira cultura de diversidade e equidade entre géneros: “Estabelecer a diversidade, a igualdade de remuneração e metas inerentes; medir o impacto das políticas implementadas, mas também responsabilizar, afirmando que essas medidas existem e são efetivas; encorajar os líderes a mudar a cultura do local de trabalho, responsabilizando-os por essas mudanças; estabelecer o equilíbrio certo entre as medidas que são exclusivamente de mulheres e aquelas que são transversais; acompanhar o sucesso das ações implementadas; agir com tolerância zero em relação a atitudes de discriminação.”

Singrar num mundo de homens

À apresentação do estudo, seguiu-se um painel de debate que contou com a participação de Manuela Vaz, vice-presidente da Accenture Portugal; Dionísia Ferreira, administradora dos CTT; Dulce Mota, CEO do ActiveBank; Francisco Maria Balsemão, vice-presidente do grupo Impresa, e do chef Kiko Martins, chefe executivo e partner do grupo Comer o Mundo. A moderação do painel de debate coube a Isabel Canha, diretora da Executiva, que salientou “ainda faz muito sentido continuarmos a celebrar o Dia internacional da Mulher, não só pelos graves atropelos aos direitos humanos que acontecem em todo o mundo, mas também pela sua relevância como tema de negócio.”

“Este estudo fez-me perguntar a mim próprio se tenho sido exemplo e líder de igualdade de géneros dentro das minhas cozinhas.” Chef Kiko Martins

A disparidade de género ainda existente em alguns setores de atividade foi o tema que inaugurou o debate, com o exemplo da alta cozinha, onde os homens dominam as carreiras de topo. O chef Kiko Martins partilhou como a realidade de uma cozinha pode ser “muito bruta e exigente”, comparando-a mesmo à vida militar. “Este estudo fez-me perguntar a mim próprio se tenho sido exemplo e líder de igualdade de géneros dentro das minhas cozinhas. Nos meus restaurantes tenho cerca de 90 cozinheiros, 15 dos quais são mulheres. Não é porque não queira ter mais, muito pelo contrário. Acredito que a mulher tem um papel fundamental a nível gastronómico, pela sua sensibilidade e refinamento. Mas este mundo está repleto de homens e tem poucas mulheres.”

“Somos mais do que uma carreira e o facto de trabalharmos para uma organização que nos permita fazer outras coisas, é o que nos leva realmente a progredir profissionalmente.” Manuela Vaz, vice-presidente da Accenture Portugal.

Manuela Vaz partilhou também a sua experiência de progressão profissional. “Os meus filhos nasceram em momentos fundamentais na minha carreira, momentos de mudança. Faz toda a diferença que as organizações sejam capazes de ajudar as mulheres a conseguirem-no.” A vice-presidente da Accenture Portugal destacou ainda a importância do equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. “Somos mais do que uma carreira e o facto de trabalharmos para uma organização que nos permita fazer outras coisas, é o que nos leva realmente a progredir profissionalmente.”

Quando, há 22 anos, Dulce Mota precisou de pedir o registo criminal para ingressar nos quadros do BCP, responderam-lhe que deveria ser engano, uma vez que o banco não contratava mulheres. Hoje, apesar do cenário estar em mudança neste setor, “as diferenças continuam a existir”, para a CEO do ActivoBank. “O head count é relativamente equilibrado, mas em patamares de liderança e coordenação, os números são substancialmente diferentes. Mesmo no meu banco, que tem uma imagem moderna e muito fora dos arquétipos da banca tradicional, apenas 25% das chefias são mulheres. Não é por acaso: deve-se à herança de uma indústria muito marcada pelo papel masculino. As coisas estão a mudar lentamente para melhor, mas temos um longo caminho a percorrer”, observou a CEO lembrando ainda o preocupante fosso entre salários femininos e masculinos que existe atualmente em Portugal.

A este respeito, Francisco Maria Balsemão viria a observar que a tentativa de as empresas reequilibrarem este fosso irá passar por pagar menos aos homens e não aumentar as mulheres. O principal fosso social no nosso país será sim educacional, segundo o vice-presidente da Impresa.

Há muitas barreiras interiores [à progressão profissional feminina]. Muitas de nós têm o receio de não serem capazes. Somos, temos é que acreditar nisso.” Dionísia Ferreira, administradora dos CTT.

Dionísia Ferreira acredita que os entraves à progressão começam, muitas vezes, nas próprias mulheres. “Tem muito a ver com a nossa determinação e a capacidade de encararmos cada desafio que nos põem como uma oportunidade. Algumas dessas oportunidades são, na realidade, como um passo ao lado para que, mais tarde, possamos dar um passo em frente na carreira. Há muitas barreiras interiores. Muitas de nós têm o receio de não serem capazes. Somos, temos é que acreditar nisso. As barreiras exteriores também existem, mas se estivermos de bem connosco, conseguimos ultrapassá-las mais depressa.”

Conciliar vida profissional e pessoal

No setor da comunicação social a diversidade de género é mais equilibrada, com as áreas do jornalismo e do entretenimento a congregarem hoje mais mulheres, segundo Francisco Maria Balsemão, para quem “os atavismos são as grandes forças de bloqueio” responsáveis pela continuação dos estereótipos de género.

“Chocou-me saber que serão necessários 169 anos até que, em todo o mundo, se consiga atingir a igualdade de género em termos económicos”, Francisco Maria Balsemão, vice-presidente do grupo Impresa.

“Ou seja, trata-se de incutir, de geração para geração, o preconceito de que homens e mulheres têm de corresponder a um determinado perfil. É um tema que está progressivamente a mudar. Ainda assim, chocou-me saber que serão necessários 169 anos até que, em todo o mundo, se consiga atingir a igualdade de género em termos económicos.”

A ideia de racionalização de horários de funcionamento das empresas, como contributo para uma conciliação mais equilibrada entre trabalho e família, foi também defendida pelo vice-presidente da Impresa. “Começando pelas grandes empresas, a ideia seria existir um horário de saída que iria sendo progressivamente antecipado — das 20 horas para as 19h30, daí para as 19h, e assim consecutivamente, até se chegar a uma hora para a qual fosse indiferente, em termos de disponibilidade, haver um homem ou uma mulher a trabalhar na empresa.” A questão obrigaria a rever as ferramentas de produtividade em Portugal, rematou. A este respeito, Dionísia Ferreira acrescentou a importância de “combater o culto ainda existente de sair tarde do trabalho… e depois do chefe.”

“Digo muito aos meus colaboradores: há mais mundo além do trabalho e as organizações também têm a ganhar com esse equilíbrio”, Dulce Mota, CEO do ActivoBank.

Dulce Mota falou da necessidade de equilibrar a carga nas responsabilidades familiares e domésticas, que continua a pender mais sobre as mulheres. “Esse equilíbrio vai melhorar com a progressão que os homens também têm feito. Hoje eles são muito mais cooperantes, estão mais disponíveis para apoiar nas tarefas familiares, e isso corresponde a um progresso social. Quando comecei a minha carreira era mais difícil para a mulher, tínhamos que provar mais e lutar mais. Mas não podemos descurar o outro lado das nossas vidas. Não é fácil, mas é possível e estamos no caminho certo. Digo muito aos meus colaboradores: há mais mundo além do trabalho e as organizações também têm a ganhar com esse equilíbrio.”

Será mesmo que o passo mais inteligente na carreira de uma mulher ainda é a escolha do marido? A este respeito, o chef Kiko protagonizou um dos momentos mais aplaudidos da manhã, ao falar do apoio que dá e do orgulho que tem na carreira da mulher. “Não sei se a Maria escolheu um bom marido, mas escolheu um marido eficiente. Sou o defensor máximo da carreira dela — é escritora — e sou eu quem mais a incentiva a escrever e a trabalhar essa outra parte da vida dela, que não se resume só a ser mãe de quatro crianças. O primeiro filho de todos é o próprio casamento e é dele que é preciso cuidar primeiro para que haja harmonia em tudo o resto. Não pode ser apenas um lado do casal a ter uma carreira de sucesso. A grande mais-valia é que a Maria escolheu um homem que sabe viver no presente e que sabe amá-la diariamente.”

O encontro terminaria com algumas questões colocadas pela assistência ao painel de intervenientes, numa manhã em que as estratégias para aumentar a igualdade de género foram o mote para a reflexão.

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