Ana Rita Gil trabalha numa área em que ainda há poucas mulheres. A disponibilidade quase total que operações de fusões e aquisições ou de privatizações podem exigir é dificilmente compatível com as responsabilidades familiares que recaem sobre muitas mulheres. A diretora do Corporate Finance do BiG, que se apaixonou por esta área desde cedo, foi fazendo o seu caminho sem pensar demasiado nas dificuldades e acabou por as ir ultrapassando “com muito trabalho e determinação” à medida que foi necessário.
Com mais de duas décadas de carreira, Ana Rita Gil tem dois filhos e há cerca de quatro anos arranjou tempo na agenda para se dedicar a uma nova paixão: o violino. Aprender nunca lhe meteu medo e sempre foi uma aluna aplicada. Ainda nos bancos da faculdade recebeu um dos mais importantes conselhos que guarda até hoje: manter a atitude curiosa e a vontade de aprender sobre diferentes áreas. Por isso, não perdeu tempo e dois anos após a licenciatura em Gestão e Administração de Empresas, fez um Curso de Gestão de Risco e Instrumentos Derivativos e, em 2014, concluiu o Accelerated Development Programme da London Business School. A trabalhar num mercado em constante evolução, e “em que há sempre novidades para explorar”, a executiva do BiG parece estar realmente no sítio certo.
Está ligada ao corporate finance desde o início da sua carreira. O que a apaixona verdadeiramente nesta área?
É uma área dinâmica e desafiante, pela complexidade e diversidade de matérias, e pelo estímulo de interagir com interlocutores bem preparados e exigentes. Adicionalmente, como se verificam alterações e inovações constantes no mercado, há sempre novidades para explorar.
Para desenvolver uma instituição financeira nova, num mercado pequeno e fechado como Portugal, é preciso uma grande resiliência e perseverança, e a coragem de defender o que faz sentido, ainda que seja diferente do status quo.
Fazer parte da equipa de lançamento de um banco é uma oportunidade de grande aprendizagem. Quais as grandes lições que retira dessa experiência?
Foi um grande desafio. Entre outras áreas relevantes, aprendi que para desenvolver uma instituição financeira nova, num mercado pequeno e fechado como Portugal, é preciso uma grande resiliência e perseverança, bem como a coragem de defender o que faz sentido, ainda que seja diferente do status quo.
Quais as principais mudanças que ocorreram no corporate finance nestes últimos 18 anos e que impacto elas tiveram na sua carreira?
Verificou-se um grande desenvolvimento desta área, com uma crescente abertura a instituições e investidores internacionais e a introdução de vários produtos e soluções inovadoras. Este dinamismo permitiu aos profissionais desta área adquirirem as melhores práticas internacionais. Nos últimos anos a crise financeira condicionou fortemente esta atividade, mas deverá retomar à medida que a situação económico-financeira do país vá melhorando.
Quais os desafios que esta área enfrenta hoje e como está o BiG a preparar-se para eles?
Há vários desafios que decorrem da recente crise económica e financeira, que condicionou muito a atividade e situação financeira das empresas e tornou evidente a falta de capital em Portugal. Para os superar, precisamos de crescimento económico, que fomente mais e melhores empresas. Face à escassez de capital em Portugal, é importante atrair capital estrangeiro. No caso concreto do BiG, na área de corporate finance temos vindo a aumentar a cobertura de investidores estrangeiros, sobretudo fundos de investimento e empresas.
Noutra vertente mais ligada ao setor bancário, destacaria a crescente digitalização dos serviços financeiros e o aparecimento de novos players com soluções inovadoras, que nalguns casos significam uma ameaça para os bancos e noutros uma oportunidade para fazer melhor. O BiG tem sido pioneiro no lançamento de vários produtos e serviços inovadores e continua a investir nesta área.
Liderar uma equipa é mais difícil do que conduzir uma operação de fusão e aquisição.
O que pode tirar o sono a quem trabalha na sua área?
Pode ser, por exemplo, um processo negocial complexo, com situações de impasse e interlocutores difíceis. Na área de mercado de capitais, destacaria alterações relevantes e não antecipadas das condições de mercado, que podem condicionar fortemente algumas operações.
O que é mais difícil: conduzir uma operação de fusão e aquisição ou liderar uma equipa diariamente?
Liderar uma equipa diariamente, uma vez que, entre outros aspetos, implica estar atenta a cada um dos membros da equipa, mas também ter disponibilidade para ouvir, questionar, orientar e inspirar pelo exemplo. E isso dá muito trabalho.
Que skills são necessários para se ser um bom profissional na sua área?
Para além de sólidos conhecimentos técnicos, são necessários skills de negociação e deal making, capacidade de trabalho em equipa, proatividade e visão de mercado.
Como conseguiu fazer carreira numa área onde ainda hoje os homens estão em maioria?
Com muito trabalho e determinação. Também tive a sorte de trabalhar em instituições onde me foi dada a oportunidade de progredir.Esta área pode ser considerada cinzenta e conservadora, exige grande envolvimento e disponibilidade, e julgo que será por isso que afasta as mulheres.
Talvez porque na minha carreira profissional tenho lidado maioritariamente com interlocutores masculinos, permitiu -me ganhar mais à vontade e auto-confiança para expressar opiniões.
Alguma vez sentiu a sua opinião subvalorizada nas reuniões pelo facto de ser mulher?
Já aconteceu no passado, mas atualmente é raro. Talvez porque na minha carreira profissional tenho lidado maioritariamente com interlocutores masculinos, o que me permitiu ganhar mais à vontade e auto-confiança para expressar opiniões.
Qual foi o momento mais difícil da sua carreira?
Foi uma época em que acompanhei de perto a atividade de uma PME durante um processo de restruturação, em que foi necessário efetuar uma redução do número de colaboradores. É sempre difícil tomar decisões que, apesar de terem racional económico e financeiro, têm um impacto negativo na vida das pessoas.
E qual aquele de que mais se orgulha?
Ter integrado a equipa de constituição do BiG.
Nunca teve vontade de experimentar uma área diferente da banca?
Já tive, sempre em áreas ligadas às empresas, mas cheguei à conclusão que teria que abdicar de muitos dos aspetos que gosto nesta área.
O que mais a apaixona naquilo que faz?
A oportunidade de criar valor para as empresas e empresários, ajudando-os a concretizar os seus objetivos.
Tento tornar os dias de trabalho produtivos e assegurar que reservo tempo e disponibilidade mental para a minha família e amigos. E também alguns hobbies.
Esta é certamente uma área de grande pressão, que a obriga a levar muitas preocupações para casa. Como procura manter o equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal?
Com muita disciplina! Tento tornar os dias de trabalho produtivos e assegurar que reservo tempo e disponibilidade mental para a minha família e amigos. E também alguns hobbies, como aprender violino, que comecei há cerca de quatro anos.
Qual o melhor conselho que lhe deram ao longo da sua carreira?
Aconselharam-me a investigar e pensar de forma própria e autónoma, não dependendo de terceiros, mesmo quando se trata de um assunto novo ou fora da área direta das minhas competências.
Que conselho daria a uma jovem que quer fazer carreira na sua área?
Daria o conselho que me deram quando ainda estava a frequentar a universidade (e que costumo dar no âmbito do programa de Mentoring da Universidade Católica) : acompanhar as notícias e estar atento ao que se passa no mundo, manter uma atitude curiosa, bem como a vontade de aprender sobre diferentes áreas.