Portugal abaixo da média mundial de diversidade nos boards

A 5ª edição do estudo "Women in the Boardroom: a global perspective", realizado pela Deloitte, traça uma evolução ainda muito lenta em todo o mundo, no que toca à presença feminina nos conselhos de administração das empresas. A União Europeia tem registado alguns progressos, mas Portugal não está bem classificado.

Em Portugal, apenas 2.1% de presidentes do conselhos de administração são mulheres.

Em todo o mundo, apenas 15% dos lugares em conselhos de administração são ocupados por mulheres. Os dados são do estudo “Women in the Boardroom: a global perspective”, realizado pela Deloitte, relatório que vai já na sua 5ª edição e é um dos mais abrangentes estudos sobre diversidade de género nos lugares de topo das empresas em todo o mundo. Analisou quase 7 mil companhias em 44 países, mais de 72 mil postos de administração nos cinco continentes, complementados com informações e estatísticas sobre quotas de género e iniciativas de diversidade em 20 outros países. Este relatório foi ontem tema de debate, numa iniciativa da Executiva em parceria com a Deloitte, que juntou cinco executivas nacionais e uma investigadora.

Portugal está abaixo do meio da tabela — 27ª posição, com 12,6% de assentos femininos em boards de empresas cotadas. Para a análise nacional contaram as 47 empresas cotadas na Bolsa de Lisboa. Entre elas, até março de 2017, não existia nenhuma mulher CEO. Quando se fala em mulheres que presidem a conselhos de administração, Portugal cai para 34º lugar, com 2,1%. Neste parâmetro, a Grécia ocupa o primeiro lugar (18,2%), seguida da Colômbia com 12,5% e a Nova Zelândia, com 11,1%.

Os valores sobem ligeiramente quando se analisam apenas as empresas do índice PSI 20 da Bolsa de Lisboa: 14,9% dos lugares em conselhos de administração são ocupados por mulheres, um aumento de 5% relativamente a 2014. Apenas uma mulher — Paula Amorim — ocupa a presidência de um board, nas empresas que integram este índice.

Noruega (42%), França (40%) e Suécia (31,7%) são os países com maior diversidade de género nos lugares de topo das suas empresas. França e Nova Zelândia foram os países que mais cresceram neste aspeto — mais 10,1%, desde a última edição do relatório, em 2014 — mas a Bélgica (+ 9,3%) e a Suécia (+ 7,4%) também fizeram progressos significativos durante este período.

O estudo analisa ainda aquilo a que chama stretch factor, indicador que se refere à situação em que a mesma pessoa ocupa lugares nos conselhos de administração de diferentes empresas. Não existem dados para este indicador relativos a Portugal, mas a França lidera a lista, logo seguido da Austrália e Estados Unidos.

Top 10 dos países com maior diversidade nos boards

Percentagem de mulheres em conselhos de administração:
Noruega: 42%
França: 40%
Suécia: 31,7%
Itália: 28,1%
Bélgica: 27,6%
Nova Zelândia: 27,5%
Finlândia: 24,7%
Dinamarca: 24,2%
Holanda: 21,4%
Nigéria: 21,2%

União Europeia no bom caminho

As estatísticas europeias de diversidade nos boards. (Infografia Deloitte)

Os números portugueses estão bem atrás da média europeia de 22,6% de mulheres com assento nos boards das empresas e 4,4% a ocuparem o lugar da presidência do conselho, em 1679 empresas analisadas.

Este tem sido um tema bem presente na agenda política da Comissão Europeia desde 2010, relembra o estudo, mas os esforços auto-regulatórios neste sentido, pedidos às empresas e governos dos países, não se têm mostrado suficientemente rápidos. Nesse sentido novas diretivas europeias foram lançadas, nomeadamente a meta de 40% de mulheres em lugares não executivos dos conselhos, a adoção de critérios claros e neutrais nos processo de seleção e de sanções para as empresas que não cumpram a diretiva europeia.

O número de mulheres que preside a comités nos conselhos das empresas da UE é de apenas 7% e só 5% das maiores empresas europeias cotadas em Bolsa têm uma mulher CEO, ainda assim um aumento de 2% relativamente ao apurado em 2014. Os sectores económicos que concentram mais mulheres nestes lugares são o dos Bens de Consumo (25%), Serviços Financeiros (24%) e Saúde e Ciências da Vida (23%).

O estudo concluiu ainda que, na Europa, ter uma mulher como CEO da empresa ou presidente do conselho de administração aumenta a representação feminina nos boards (33% e 34,5%, respetivamente). Quando o CEO ou presidente do conselho de administração é um homem, estes valores ficam-se pelos 24,3% e 23,8% respetivamente.

Os dados da Comissão Europeia sobre mulheres em lugares de tomada de decisão económica, confirmam o estudo na Deloitte, com a presença feminina nos conselhos de administração das empresas a atingir 23% em abril de 2016. O valor representa um aumento global na UE de 2,8%, relativamente a outubro de 1014.

No resto do mundo

Nos Estados Unidos os valores da diversidade nos boards das empresas estão bem abaixo dos da União Europeia: 14,2% de mulheres com assento nos boards nas empresas e 3,7%  a presidi-los. Apenas 4,6% das empresas têm uma mulher como CEO, num total de 2726 empresas analisadas nos EUA. A distribuição feminina nos postos de liderança, segundo setores de atividade, é equilibrada — entre os 13% e os 17% em praticamente todos os setores: tecnologia, saúde e ciências da vida, finanças, indústria e bens de consumo (onde a presença feminina é mais elevada, 17%).

Ásia, América Latina e Médio Oriente são as regiões do globo onde a liderança feminina das empresas alcança piores resultados. No Médio Oriente, em 99 empresas analisadas existem apenas 100 mulheres com lugares no conselho de administração e na América Latina, nas 139 organizações pesquisadas em 7 países, existem apenas 109 mulheres — 7,2% com assento nos boards e 2,1% a presidi-los.

Nas 1626 empresas asiáticas que integraram a pesquisa da Deloitte, existem apenas 1217 mulheres em conselhos de administração — 7,8% de administradoras e 2,6% a presidirem a boards.

Nota positiva para a Austrália, onde 20,4% dos assentos em conselhos de administração são femininos. A média de mulheres a pertencerem a comissões dos conselhos de administração ou a presidi-las também é mais alta do que na maior parte do globo. O país não instituiu sanções, mas tem-se mostrado muito vantajosa a influência de iniciativas como os Male Champions of Change, grupo masculino de CEO e presidentes de conselhos administrativos que advogam uma maior presença feminina nos centros de decisão empresarial, bem como a divulgação pública dos relatórios de diversidade das empresas e a constatação de que aquelas que têm mais mulheres nos boards alcançam melhores resultados.

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