Horários flexíveis penalizam as mulheres

Dois estudos recentes apontam percepções diferentes sobre a produtividade e compromisso de trabalhadores com horários flexíveis consoante o seu género..

Trabalhar sem horário fixo não significa trabalhar menos.

Cada vez mais empresas estão disponíveis para negociar com os colaboradores horários flexíveis. As tecnologias vieram facilitar a comunicação a partir de qualquer local e a qualquer hora, levando as empresas a encararem esta possibilidade como uma forma de ajudar os colaboradores a conseguirem um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Aliás, este é um benefício cada vez mais valorizado por ambos os sexos, apesar de as mulheres continuarem a ser as suas maiores adeptas.
Porém, alguns estudos revelam uma realidade preocupante: o género da pessoa com horário flexível leva a uma diferença na forma como empresas e colegas a percepcionam, o que leva a outra questão: a tentativa de uma maior igualdade de género em casa pode agravar a desigualdade no local de trabalho.
Os homens que pedem horário flexível para terem mais tempo para a família são percepcionados como mais comprometidos com a empresa do que as mulheres que fazem o mesmo pedido.
Nos Estados Unidos, um estudo feito por Christin Munsch, professor de Sociologia na Universidade de Furman, concluiu que 70% dos homens que pedem flexibilidade de horário para poderem dar mais apoio na rotina dos filhos conseguem-no, contra apenas 57% das mulheres que usam o mesmo argumento. E ainda há a agravante de que estes homens são vistos como mais simpáticos e comprometidos do que as mulheres que fizeram o mesmo pedido.
Um outro estudo feito na Alemanha junto de 30 mil pessoas revela outra forma de penalizar as mulheres. Os homens com horários flexíveis conseguem ganhar, em média, mais 6700€ por ano do que os seus pares com horário fixo, enquanto as mulheres com flexibilidade de horário ganham apenas mais 2000€ por ano. As investigadoras Yvonne Lott e Heejung Chung apontam duas justificações para esta disparidade: a primeira é a de que os homens com flexibilidade de horário conseguem ser mais produtivos e aproveitam para trabalhar mais tendo em vista uma promoção, enquanto que as mulheres tendem a usar esta flexibilidade para dar mais apoio à família; a outra explicação é que mesmo que as mulheres também sejam mais produtivas quando têm horários flexíveis, a verdade é que a impressão que deixam entre os pares é a oposta.
Vistos em conjunto estes estudos traçam uma realidade sombria para o equilíbrio da vida profissional e familiar e a igualdade de género, escreve a Harvard Business Review, alertando para a necessidade de ajustar as percepções das empresas e da sociedade em geral, e derrubar preconceitos que ainda persistem quanto a este tema.
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