Continua a saga da venda da Yahoo à operadora Verizon. Depois da CEO Marissa Mayer ter anunciado, no início de janeiro, que renunciaria ao cargo assim que o negócio de 4,8 mil milhões de dólares (4,5 mil milhões de euros) ficasse oficialmente concluído, chegam notícias de que o organismo regulador de mercado de capitais dos Estados Unidos, o Securities and Exchange Commission (SEC), analisa agora se existiu ou não encobrimento de dois ataques hacking por parte de funcionários da Yahoo. Os incidentes resultaram no roubo de dados a mais de mil milhões de utilizadores do portal.
A venda à Verizon inclui negócios da marca como a Yahoo Mail, News, Sports, Finance e publicidade, e a nova empresa muda de nome para Altaba. Fora da transação ficam as participações na Yahoo Japão e no conglomerado chinês Alibaba.
Marissa sai “bastante satisfeita” com os resultados da Yahoo.
Como indemnização pela saída, Mayer, que está na Yahoo desde 2012, receberá uns estimados 141 milhões de dólares (130,6 milhões de euros), montante que junta pagamento de salários, bónus e ações da empresa. E, segundo a Fortune, mesmo que a investigação da SEC apure que houve de facto encobrimento do hacking, o montante da compensação devida a Mayer não está em risco. A justificação está numa cláusula que garante que a companhia só fica isenta de pagar a indemnização aos seus executivos “no caso de existir uma reclassificação incorreta dos resultados financeiros da Yahoo”, considerada comportamento fraudulento. “Não abrangido pela cláusula: o alegado encobrimento de dois incidentes de hacking de modo a concluir a multi-bilionária venda dos principais negócios da companhia”, ironiza a Fortune. E não está abrangido porque as fugas de informação não põem em causa os resultados financeiros obtidos pela Yahoo no passado.
A 23 de janeiro Marissa revelou-se “bastante satisfeita” com os resultados da Yahoo no último trimestre de 2016 – 1,5 mil milhões de dólares em receitas, quando os analistas previam 1,4 mil milhões, e mais 200 milhões de dólares anuais do que os inicialmente previstos — e “incrivelmente orgulhosa da execução do plano estratégico para 2016 feito pela nossa equipa”. A empresa confirmava ainda que a finalização oficial da sua venda à Verizon ficaria adiada.
Aos 41 anos, Marissa Mayer está longe da idade da reforma e já muitos perguntam qual será o seu próximo projeto. Depois de um 2016 difícil, é vista “não como um fracasso mas com alguma desilusão”, disse à NBC News o editor e comentador para temas de tecnologia, Greg Sterling. “Se ela sair diretamente para outro projeto, será vista como a CEO que não conseguiu revitalizar a Yahoo, que a vendeu e teve estes incidentes de hacking embaraçantes durante o seu mandato.” O caminho, diz o comentador, poderá ser uma pausa na carreira antes de assumir um novo cargo de alta visibilidade. Afinal, a sua ética de trabalho e aptidões intelectuais são muito valorizadas em Silicon Valley.
Questionada sobre o futuro, Marissa assumiu o desejo de voltar a ser CEO.
O Business Insider avança com uma hipótese mais surpreendente: Mayer pode lançar-se numa área nova, a do investimento em capitais de risco. O site refere dados da consultora Pitchbook, que mostram como ela tem vindo a tornar-se numa investidora de sucesso desde 2009, com as suas apostas iniciais em startups que vieram a revelar-se grandes êxitos, como a Square, Brit Media ou Snapchat (feito através da Yahoo enquanto CEO). A sua invejável rede de contactos em Silicon Valley, os conhecimentos e experiência de engenharia informática e o facto de ter um lugar no conselho de administração da Wallmart — que lhe dá uma visão de negócio fora do mundo das tecnologias de informação — também são boas vantagens para um percurso nesta área, diz ainda o Business Insider.
Mas, em entrevista recente à Bloomberg, Mayer respondia assim, quando lhe perguntaram onde se via dentro de 5 anos: “Acho que reuni um conjunto muito forte de competências enquanto CEO e espero sinceramente ter oportunidade de as aplicar.”