Falar de networking implica falar de marketing pessoal, na perspetiva de que este é um marketing de referências, de word of mouth e de partilha, resultante das relações que se criam e que são fortalecidas social e profissionalmente, tendo em vista a “qualidade dos relacionamentos”. E com base na reputação que cada indivíduo tem, assente na sua marca pessoal. Por isso deve ser gerido de forma sistematizada e autêntica e tratado como uma soft skill, que pode ser treinada e constantemente melhorada. O mercado começa a perceber que há uma procura crescente para estas temáticas e, por isso, a oferta tem de ser credível e bem desenhada.
Importa pois fazer algumas questões, para se desmistificar o conceito.
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O networking é uma ferramenta de marketing pessoal?
Sim, claramente é uma forma ativa, consciente e planeada de se fazer passar uma marca pessoal. Uma ferramenta de promoção, o que implica estar preparado para fazer o seu pitch, sempre que surge uma oportunidade. Qual é a minha história? Qual é o “posicionamento” que pretendo ter?
Uma vez definida a estratégia de marketing pessoal torna-se fundamental operacionalizá-la. E é neste âmbito que se deve encarar o networking, como uma das ferramentas de marketing mais eficazes gerando leads, referências, construindo relações e entregando valor, numa perspetiva de longo prazo. A capacidade individual de gerar atração/exposição/visibilidade exige que sejam desenvolvidas atividades através das quais os outros possam estabelecer contacto connosco.
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O que significa exatamente a palavra networking?
Conceptualmente, significa trabalhar de forma ativa a rede de contactos (a network…). Implica ação! Ou seja, desenvolver o capital social que cada um de nós possui. Consiste em criar e gerir relacionamentos e não apenas acumular cartões-de-visita. Dá trabalho (daí o working…)! Implica dedicação e organização.
Todos os indivíduos possuem uma rede de contactos – uma “base de dados” pessoal, na qual existem vários círculos: família, amigos, colegas de trabalho, parceiros de negócio, etc. A estruturação (organização dos círculos) e a densidade de uma rede (número de contactos) derivam de um planeamento pessoal sistematizado, tendo como base um conjunto de ações desencadeadas para a sua (constante) atualização e dos interesses pessoais e/ou profissionais de cada indivíduo.
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Existe um processo para fazer networking?
Sim, fazer networking implica fazer a sistematização de um processo. Concretizando, por exemplo, na participação num evento de networking. Tem de ser pensado em três momentos-chave: pré, durante e pós evento.
Previamente, deve questionar porque vai ao evento? Qual é o objetivo que pretende alcançar? Quem vai lá estar? Quem quer conhecer? Qual é a mensagem que pretende passar?
Durante o evento, ter a capacidade de interagir com as “pessoas-chave” que identificou previamente e com novas pessoas. Quais são os pontos de interesse comum que deverá ter com os outros participantes do evento? Convém ter 2 a 3 frases que possam funcionar como ice breaker.
Finalmente, no pós evento, garantir que os contactos que foram feitos terão o devido follow up. Não importa recolher 100 cartões de visita, interessa mais fazer contactos relevantes tendo em conta o seu objetivo.
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Com quem devo fazer networking?
Normalmente, tendemos a aproximar-nos das pessoas que são iguais a nós (princípio da auto-semelhança), mas a nossa rede de contactos ganhará muito mais se for diversificada e heterogénea. Diversificação etária, cultural e setorial é precisa! É o chamado cross networking, muito rico em informação, aprendizagem informal e com ênfase no ponto de vista intercultural e intergeracional.
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Qual é a regra de ouro do networking?
Givers gain, já dizia Ivan Mister. É um processo de suporte mútuo, a arte de criar e manter relações mutuamente benéficas: saber dar ao outro, ir fazendo pequenos “depósitos” que permitam criar uma relação: pequenas informações, partilhas, que possam ser úteis aos nossos contactos. E fazê-lo de forma autêntica e genuína. É a diferença entre ser-se interessante ou parecer interesseiro! O que se ganha na construção destas relações, de confiança, é muitas vezes sobejamente superior ao que se “investe”. Dar, receber e saber agradecer são as palavras-chave para o verdadeiro networker.
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Que oportunidades de networking existem?
Hoje as opções são imensas, para quem quer fazer networking. Torna-se mais complicado organizar a agenda e fazer o processo de tomada de decisão. A título de exemplo, destaco:
– Presença em encontros presenciais – encontros promovidos por organizações/ONGs: por ex. AfterWork Business Meetings; HR After Work, Ignite Portugal, Speednetworking … ;
– Presença em redes online – Linkedin, Internations (também com Get Togethers mensais), e Meetups são duas boas escolhas!
– Fazer voluntariado – há várias organizações disponíveis, com necessidades, que precisam de vários tipos de recursos – faça o seu “matching”!
– Escrever artigos – não só possibilitando o aumento da visibilidade / exposição ao mercado mas também ao nível da atualização de conhecimentos;
– Tornar-se mentor – em contexto organizacional ou associado a universidades (por exemplo Alumni Económicas) – ajudando, por exemplo os mais jovens no ingresso no mercado de trabalho. Permite receber e partilhar experiências e know-how, além das próprias redes de contactos.
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Que benefícios podemos retirar das iniciativas de networking?
Pode afirmar-se que as networks permitem três vantagens únicas: o acesso a nova informação, a recursos e a novas oportunidades. Numa perspetiva de marketing, o networking proporciona conhecimento, recursos, posicionamento, oportunidades, referências, solidificação de relações existentes e leads. Há ainda autores que advogam que os indivíduos constroem e mantêm relações pessoais que facilitem a troca de recursos, tais como aconselhamento profissional, informação estratégica, oportunidades de carreira e poder.
Vários estudos remetem para a relação positiva existente entre networking e desenvolvimento de carreira, progressão profissional e mobilidade profissional (mudanças organizacionais e promoções) – especificamente os efeitos da criação, manutenção e utilização de relações no sucesso da carreira.
Mas claramente o maior benefício recai no desenvolvimento do capital social do indivíduo: os seus contactos e as suas interligações – a interconexão entre as várias pessoas com quem cada indivíduo está ligado. Naturalmente, o capital social é um valioso recurso e deve ser encarado como uma vantagem competitiva pessoal. Parte deste capital existe sob a forma de status social ou reconhecimento, devido à pertença a grupos.
Torna-se necessário, em termos de marketing pessoal, estar presente (visível para os outros) e preparada para este desafio – tendo uma marca pessoal estruturada e que seja valorizada, permitindo a obtenção de benefícios de carácter pessoal e profissional. Ser networker dá trabalho, mas os benefícios que se obtêm podem ser diversos e efetivos, podendo acelerar inclusivamente uma gestão de carreira. Invista tempo a desenvolver esta soft skill e perceberá o impacto que ela terá na sua esfera pessoal, profissional e social.
Rita Pelica é diretora de área de negócio no Grupo Egor, co-organizadora do curso executivo Soft Skills & Marketing Pessoal, do ISEG, e responsável pelo seu módulo Networking.