Depois de desafiada pela executiva a escrever um artigo de opinião a propósito da minha petição fiquei pensativa. Nem sabia bem o que escrever… Mas como consegui tirar uns dias de férias acho que realmente estava apoderada pelo cansaço porque tenho tanto para escrever, agradecer, pedir! Aqui vai uma tentativa de me explicar, também para as ‘contra-correntes’ que criam um zumzum em mim e nada mais que isso, um zumzum, pois não mudam nem um pouco, aquilo em que acredito!
Então começando pelo princípio. No Verão passado li uma notícia que me deixou a sonhar. Era a Ordem dos Médicos que tinha enviado uma carta à Assembleia da República a pedir o alargamento da licença de aleitamento/amamentação (atualmente em vigor até ao primeiro ano da criança, para qualquer um dos progenitores), até aos três anos! Que maravilha! O meu filho a fazer três anos nesse verão e eu a pensar como teria sido se…
É impossível conciliar o horário de trabalho com ir buscar as crianças à escola pelas 16h30.
O horário reduzido permite-nos dar aos nossos filhos um apoio muito maior, sem dúvida nenhuma, e realmente do que me lembrava de quando gozei o horário reduzido até ao um ano dele, tinha sido até bastante produtivo! A nível de trabalho sim, com nova chefia e funções… mudanças, boas e enriquecedoras que a vida nos trás graças a Deus!
Mas (e este vem sempre aí), chegando ao um ano dele a vida embrulhou-se no trabalho e já nem à hora do almoço ia a casa quando podia para não o destabilizar, porque estava no ritmo dele com quem o cuidava… Eu, a mãe, não queria ir interromper o ritmo do filho….? Estava aqui algo de errado… O que tudo isto me custou!
Mais um ano passou e fiquei à espera de bebé novamente, uma grande alegria nesta vida louca. Ele já na escola e eu sem nunca o ter ido lá buscar porque não é possível conciliar um horário de trabalho com ir buscar crianças às escolas pelas 16:30/17:00h. Claro que o podia deixar lá até mais tarde mas tão pequenino?? Lá organizei tudo para que ele tivesse na escola até ao horário “normal” dele e depois ao fim do dia lá estávamos juntos.
Quando fiquei de licença de maternidade fui buscá-lo à escola pela primeira vez, um encontro fantástico entre os ritmos dos dias de cada um! O apoio que dava em simultâneo aos meus dois filhos. Cada um com as suas necessidades e eu com uma necessidade ainda maior de chegar a eles. Ele fez três anos e a notícia ecoou ainda mais cá dentro, como teria sido se…
Adoro trabalhar e com o horário reduzido a minha energia é potenciada pela conjugação de vida pessoa e profissional.
Em novembro voltei a trabalhar e com o dito horário reduzido que ainda agora estou a gozar!
Adoro trabalhar, quem me conhece sabe bem a energia que deposito no que me meto e não conseguiria fazer de outra forma. Tenho um trabalho que muito me preenche, mas que é possível deixar, normalmente, ‘dentro do escritório’ e depois ter a minha vida, a outra, a de mãe, e de todas as outras valências que as mulheres têm!
Desde novembro que várias vezes ouvi ‘estou a gostar de ver, vens com a força toda’… Não! Tenho a força toda e esta redução de horário, por incrível que pareça, também é potenciada pelo apoio que sinto nesta conjugação de vida pessoal e profissional!
A cultura empresarial que vivo, ainda que existam obstáculos, é a que realmente somos mais e melhores quando estamos bem! Calculo que nem todos assim pensem, nem certamente em todas as empresas e profissões isto será possível, mas comigo, até agora, tem sido.
Não sabia criar uma petição, mas dei por mim a fazê-lo e no dia seguinte já tenha umas mil assinaturas!
Em fevereiro dei por mim a pesquisar o tal artigo do pedido da Ordem dos Médicos (OM) e escrevi um texto, simples, um desabafo. Enviei-o para três e-mails, o da Ordem dos Médicos, da Assembleia da República e da jornalista que tinha escrito o texto do verão.
Nessa noite, partilhei o texto (e os endereços de e-mails) num grupo do facebook com muitas mães com o intuito de sermos mais a enviar para termos eventualmente mais força e uma delas perguntou-me porque não criava eu uma petição. O quê? Sei lá eu fazer isso! Mas dei por mim no telemóvel a fazê-lo e no dia seguinte já eram umas mil assinaturas…
Na semana seguinte a jornalista (Alexandra Campos do Público) respondeu ao meu e-mail e depois de uma conversa telefónica que tivemos de cerca de meia hora disse que ia escrever um artigo. Passaram-se algumas semanas e avisou-me que o artigo tinha saído… no dia 22 de março saiu um artigo com mais de uma página e com uma chamada de atenção na capa!!!! What??? nunca pensei. Mas o que realmente importa, e se…
Logo no dia seguinte fui contactada pela Ordem dos Médicos e seguiram-se várias conversas e encontros, onde claramente percebemos que falávamos a mesma linguagem e dia 16 de Abril foi lançada a petição, concreta e efetiva da Ordem – que em poucas horas ultrapassou as necessárias quatro mil assinaturas necessárias para ser apreciada em plenário da Assembleia da República.
Bebés que têm relações seguras com os seus prestadores de cuidados têm um desenvolvimento cerebral mais evoluído.
No dia 22 de Abril, no telejornal da RTP pelas 20H00 a pequena reportagem espelhava o sucesso da petição da Ordem e nós lá aparecemos para dar a cara ao que acreditamos e tanto queremos se…
A tentativa de explicar os “se…”:
No meu ponto de vista, isto é, uma perspetiva de uma simples mãe, que para além de mãe é mulher, filha, irmã, amiga e trabalhadora, é essencial que seja possível poder escolher dar mais apoio aos nossos filhos. Principalmente na primeira infância como tão bem explica o Dr. Pedro Pires “uma fase em que a qualidade da relação interfere diretamente no desenvolvimento cerebral. Ou seja, bebés que têm relações seguras com os seus prestadores de cuidados, têm um desenvolvimento cerebral mais evoluído. Ou com áreas do cérebro relacionadas, por exemplo com a afetividade, com a empatia e com a regulação das emoções, mais desenvolvidas. Ou seja, já não é possível noutras idades haver este tipo de desenvolvimento cerebral como nesta faixa etária.”
Não podia concordar mais e da minha pequena experiência como mãe, eles precisam tanto de nós… tão mais do que podemos dar…
Se fosse possível queria já, estar com eles mais tempo até aos três anos com horário reduzido e assim em pleno também no trabalho, pela motivação que este tipo de medidas facultam, pelo menos em mim.