Tem tido uma vida “assombrosa” e um percurso profissional igualmente surpreendente e ainda não há muito tempo Manuel Peres foi notícia nos media por protagonizar uma inusual contratação no setor publicitário. Os fundadores da agência de publicidade B.A.R convidaram-no para uma palestra de final de dia, e a conversa terminou com um desafiante convite: “Queres ser Craft Master da B.A.R?”. Manuel Peres tinha nessa altura, em maio de 2013, 73 anos, e estava na ‘reforma’ desde finais dos anos 90. E aceitou.
Percebe-se por que foi notícia. Quem neste país, nos dias de hoje, se lembra de recrutar alguém com esta idade e desta maneira? Mas talvez não tivesse sido assim tão estranho. É que se trata de um criativo que é considerado “um gigante” da publicidade em Portugal. Conta com mais de cinco décadas de experiência como fotógrafo, ilustrador, diretor de arte, diretor criativo, passou por 25 agências de publicidade e conheceu mais de 80 a nível internacional. Além de publicitário, Manuel Peres é um artista, com trabalhos premiados.
Em 1989, a convite do próprio Jacques Séguéla co-fundou o grupo EuroRSCG Portugal (atual Havas Worldwide). Resumir o seu currículo pode ser inglório. Muito criativo e empreendedor fundou outros projetos publicitários, trabalhou no Brasil onde também foi Mestre na cadeira de ilustração na Escola Panamericana de Arte e há dois anos voltou a estudar para tirar um curso de design gráfico na Flag, classificando-se com a nota máxima.
O seu último trabalho como Craft Master garantia que todas as campanhas da B.A.R “tivessem um trabalho de ourives”. Em abril passado terminou essa colaboração, pelo menos de uma forma assídua. Mas Manuel Peres diz que continuará pontualmente a estar em contacto com os mais novos.
Mulheres de uma vida
Da minha vida.
Trago-as comigo,
viajam na minha memória,
como se visitasse um arquipélago,
descoberto,
em histórias de amor
e ainda bem.
Flutuações de sentido,
Inequívoco,
como elas, mulheres,
a quem pertence a minha verdade.
Mulher primeira
Mãe, a minha intensidade, mãe.
A coragem, o desejo de me teres.
Revelaste-me o ser da alma.
Obrigado Mãe.
Soutora Branca, seu nome, Senhora.
Limpaste-me o rabo.
Nas minhas mãos deixaste
a cartilha verde,
ensinamento em João de Deus,
eram quatro os meus anos,
eram vinte e três as letras,
do abecedário
aprendido pelo meu corpo.
Obrigado Senhora.
1954 Dulce
Primeiro amor,
fronteira traçada
por ser destino,
é disso mesmo que não mais falamos.
Obrigado amor primeiro.
Pesou mais quem amou muito.
Por isso casamos,
Por isso, fomos pais,
pois antes no altar,
pois muito antes,
soubemos que Deus foi o culpado,
nunca pensamos
em Adão e Eva,
nem nunca falamos com Ele
Obrigado Carla.
Obrigado Gregoria.
Quanto menos possível foi a esperança,
mais pagamos à vida,
já que o sol nunca nascia no mesmo sitio.
Mas lá, tão longe como o tempo,
tivemos Helena,
em nome das nossas vidas,
porque Nela, existe o “para sempre”.
Anos 70
A aventura multiplicou-nos,
dominamos mistérios,
escondemos a eternidade.
Tivemos o filho,
perdemos futuros,
E o sentido da culpa abraçamos.
Sonhamos o ilimitado
e partimos, como o que tudo se esvanece,
de novo, em venturas.
Obrigado Gabriela.
O aparecimento de um homem,
o aparecimento de uma mulher,
pode ser somente memória pura
E foi,
como fascínio a dois.
Como se a razão tivesse lugar marcado,
em sala de espetáculo sem palco,
ou tempo.
Obrigado Cristina.
Filhas,
mulheres para a vida,
como baladas,
ouço-vos, como a memória de hoje.
Ontem, lembrei-me
pois o tempo é a minha memória,
De ti Joana.
De ti Sara.
De ti Helena.
De ti Rebeca.
Simultaneamente,
a minha única visibilidade,
A de pai.
Ato solitário
de amor, de admiração,
a melhor forma de vos ver
existir,
Obrigado filhas.
2016, Dulce
Tomo-te, calmante,
remédio receitado por Deus
desde que te encontrei
num “parque da Paz”.
Depois fizeste-me,
tornando-me a melhor forma de existir.
E tudo quanto em nós pode reagir
é a simples pacificação,
como se adormecesse após cansado,
tuas delicadezas? O meu destino,
receitado por Deus.
Obrigado meu amor,
minha mulher.