Dizem que o passado pode moldar o futuro e, no caso de Ana Piquete, a máxima assenta em pleno. Rosto de uma jovem marca portuguesa de design de interiores e de móveis de luxo que dá a cara por Portugal lá fora – encaminhando já 60% do volume de negócio para exportação –, de modo a que entendamos o que leva esta empresária a ocupar atualmente o topo da hierarquia na Unissima, há que olhar primeiro para outro lugar. Mais concretamente o da freguesia de Gesteira, no concelho de Soure, em Coimbra, berço da linhagem familiar com créditos firmados na área de atuação que seduziu duas gerações.
“Cresci na fábrica, manuseei as matérias, aprendi com o cliente, percebi o que é mesmo bom”, diz Ana Piquete.
“Ter nascido numa família com quatro décadas de tradição no mobiliário ajudou a despertar, desde cedo, a vontade de um dia vir a ter a minha própria marca”, reconhece Ana Piquete. Ela que, ao lado do irmão Paulo Comopi, aprendeu com o pai, industrial de nomeada na região e timoneiro dos Móveis Piquete, lições de “rigor e método”, mas também de “criatividade” e de “compromisso fiel com a qualidade”. Um dos vários vértices da atividade paterna, a fábrica de cozinhas de gama média e alta “que continua a fazer um caminho relevante”, foi, em particular, a “escola” de ontem que a preparou para o hoje, admite. “Cresci na fábrica, manuseei as matérias, aprendi com o cliente, percebi o que é verdadeiramente bom e o que é que as pessoas procuram e foi isso que me permitiu ter um know–how mais completo sobre o mobiliário.”
Chão que lhe proporcionou alicerces para sustentar a sua visão empreendedora, as raízes familiares acabaram por servir, por outro lado, de trampolim para que desse o “salto” para o negócio próprio. Licenciada em Gestão e com especialização adicional em decoração e design de interiores – ou não tivesse encarado sempre a formação como “uma ferramenta importante” –, Ana Piquete não tardou a perceber que, “muitas vezes, as pessoas procuram algo mais do que apenas os móveis”. E por isso fez questão que, na Unissima, os clientes encontrassem tudo o que o “conceito mais lato” de design de interiores tem para oferecer. “Desde que me conheço que tenho um gosto enorme pelos interiores, daí que tenha investido muito de mim neles”, confessa.
Luxo de dentro para fora
Tendo ganho corpo em 2015, o embrião da marca sedeada em Soure e com atelier em Lisboa começou a formar-se, porém, em 2012, recorda a CEO. Concebida, tal como o nome denuncia, para ser superlativa a burilar “trabalhos únicos que tenham o luxo como principal referência”, a Unissima procura diferenciar-se pela proposta de exclusividade e de personalização que traça os móveis e os projetos à “exata medida dos espaços e do gosto de cada cliente”, adianta ainda.
Depois de África vai seguir-se o Médio Oriente. Portugal é apenas responsável por 40% da faturação.
Nobre nos materiais de que faz uso, não sendo raro incorporar nas suas criações metais preciosos como ouro ou diamantes, a empresa partiu, “desde o primeiro momento”, à conquista do mercado externo, lembra Ana Piquete. Acalentando o “desejo de estabelecer uma marca global”, tudo foi programado ao detalhe, acrescenta, “para que conseguíssemos entrar em mercados onde a prospeção estava a resultar muito bem”. Assim aconteceu, nomeadamente, em países como Angola e Moçambique, nos quais o “networking” e a “proximidade cultural” franquearam portas. Do Norte, em Marrocos, ao Centro, nos Camarões, ou em paragens austrais como a África do Sul, o continente africano tem sido, aliás, uma janela preferencial para a internacionalização da Unissima, o que justifica que a sua estratégia “passe muito pelo aprofundamento daquilo que já foi conseguido em África”, nota a empresária.
Mas na mira desta insígnia portuguesa estão igualmente outros destinos. “A médio prazo vamos entrar no Médio Oriente”, garante Ana Piquete. O que não significa, contudo, que Portugal não faça parte da rota de crescimento que pretendem continuar a cimentar. “O mercado nacional é essencial para nós”, afiança a líder da Unissima. “O sucesso interno é muito importante e dá-nos força para implementar as nossas ideias no plano internacional.”
Vendo o calendário da empresa multiplicar-se em solicitações, não admira que o dia a dia de Ana Piquete se desdobre numa verdadeira roda-viva. “De manhã posso estar com os designers, à tarde a discutir a nossa estratégia de mercado, no dia seguinte a embarcar para a África do Sul para reunir com um cliente novo, e depois a rumar a um dos vários certames nacionais e internacionais em que fazemos questão de participar”, resume. Levando a marca consigo “para onde quer que vá”, sobra-lhe espaço “para poucas outras coisas”, embora o reduto último da família, esse, permaneça intocável. “Sou uma pessoa que dá imensa importância à família e o meu papel de gestora em nada melindra o meu papel de mãe, pelo contrário.”