Duas amigas, a fotógrafa Ana Miriam e a psicóloga Helena Valente, desenvolveram um projeto que é “um convite à reflexão sobre o género enquanto construção social”. Com “12 pessoas de costas” querem desafiar as convenções de género.
Ana e Helena começaram por abordar 12 pessoas na rua, de forma aleatória, e convidaram-nas a responder ao “Bem Sex Role Inventory”, um inquérito que é um instrumento da psicologia que consiste num conjunto de caraterísticas com que as pessoas se devem identificar, ou não, e atribuir um determinado grau de identificação com traços de personalidade. Depois trabalharam os resultados, dividindo os perfis em femininos, masculino e andrógino, de acordo com uma maior identificação com traços associados a um dos géneros ou, no caso do perfil andrógino, por uma identificação com traços associados a ambos os géneros.
Com esta ação, Ana e Helena quiseram questionar alguns dos estereótipos de género que diariamente limitam as mulheres e os homens e o resultado foi a construção de uma série de cartazes que mostram a identidade destes 12 indivíduos anónimos. E houve resultados surpreendentes.
Nesses cartazes as pessoas aparecem retratadas de costas. Porquê de costas? Para sugerir que é preciso muito pouco para formular ideias pré-concebidas sobre as pessoas e também porque elas se deixam mais facilmente retratar de costas do que de frente”, esclarecem. “A experiência de ir na rua e observar pessoas que caminham à minha frente, das quais não sei nada, mas sobre as quais posso tecer uma série de considerações baseadas no vestuário, na forma física, no andar e daí saltar para a classe social, a idade e o género, é a questão central deste trabalho. Acho que é natural no ser humano criar narrativas a partir de muito pouco, mas é preciso encarar essas construções de uma forma crítica, porque facilmente caímos no estereótipo e ignoramos o indivíduo”, disse Ana Miriam.
De acordo com este projeto “todos os traços podem ser de toda a gente”. O “12 pessoas de costas” foi desenvolvido no Porto e os cartazes foram expostos na fachada do Cinema Batalha. Futuramente as duas amigas querem replicar o projeto, novamente no Porto, porque esta primeira exposição foi rápida e “muito efémera”.