Sofia Moradas está a viver o seu maior sonho. Sempre quis conhecer a Ásia, por isso, saiu de Portugal há mais de um ano, para fazer voluntariado em ONG e não mais quis sair de lá. Atualmente, é development manager e fundraising communications manager para os dois programas de apoio aos estudantes indonésios da Green School, em Bali, considerada a escola mais verde do planeta. Está no Bali desde dezembro de 2014.
Sofia nasceu e cresceu em Lisboa. É licenciada em Design pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa e tem uma pós-graduação em Marketing Digital. “Passei por várias empresas e por vários departamentos de marketing e comunicação nos oito anos que trabalhei em Portugal, como assistente de marketing e designer. Estive vários anos ligada à indústria do surf onde gostei muito de trabalhar e onde tenho a minha rede de contactos. Antes de sair de Portugal estava a trabalhar num grupo internacional na área financeira, como assistente de marketing para o mercado da Europa central”, acrescenta.
Viajar é a única coisa em que se gasta dinheiro e se fica mais rico.
Foi em 2014 que Sofia Moradas teve a sua primeira experiência internacional como voluntária de uma ONG. Decidiu ir para a Ásia. Nunca tinha trabalhado fora de Portugal e era algo que sempre quis fazer. Começou a aventura no Camboja, onde foi voluntária no Let Us Create Cambodia, um centro de apoio extra curricular. Depois viajou para Bali também como voluntária numa ONG local, a East Bali Poverty Project. É aventureira por natureza e sonha viajar por todo o mundo. “É a única coisa em que se gasta dinheiro e se fica mais rico”, defende.
Muito mais do que uma escola
Teve conhecimento do projeto da Green School antes de ir para Bali como voluntária. Assim que se instalou na ilha decidiu visitar a escola. Foi a primeira de muitas visitas: “Acabei por ir à Green School várias vezes e quando vi a vaga de fundraising marketing assistant decidi concorrer. Estava a acabar uma campanha de crowdfunding para a ONG Local East Bali Poverty Project e ia voltar para Portugal mas…” Adiou o regresso.
Na Green School aprende-se de outra forma. Mas não somos uma comunidade de neo-hippies isolada no meio da selva.
Sofia Moradas fala com paixão desta escola de sonho: “A Green School é uma escola no meio de uma floresta tropical de bambu a meia hora da vila mais conhecida de Bali, Ubud. Ali aprende-se de outra forma. É um modelo de educação que tem uma visão holística do aluno, ou seja não só focada na sua performance académica mas também em todo o seu desenvolvimento emocional e criativo”.
É uma escola com um currículo próprio, focado na sustentabilidade, tendo como objetivo o desenvolvimento nos alunos de um profundo respeito pela natureza e pela comunidade que os rodeia. “Não somos, no entanto, uma comunidade de neo-hippies isolada no meio da selva”, afirma. “Criamos ligações constantes com o mundo através de uma aprendizagem experiencial e empreendedora. Learn by doing é algo que valorizamos bastante. Na Green School vemos a experiência de aprendizagem como parte integral daquilo que somos e não como um fim. Não queremos que os nossos alunos passem 12 anos na escola com o único objetivo de um dia irem para a faculdade. A aprendizagem é um caminho pessoal que cada um deve ser livre de o construir”.
Trabalho e mosquitos
Na Green School, trabalho e lazer confundem-se em muitos momentos. Segundo Sofia o seu dia típico de trabalho é como um qualquer dia “de trabalho normal, só que com mais mosquitos”. Vive em Ubud, a cerca de 20 minutos da Green School. Passa 90% do dia na escola onde trabalha e também participa nas várias atividades que a escola tem para o staff como trash walks, capoeira, zumba… “E estou a fazer o curso nível dois de Indonésio, um requisito implementado recentemente para todos os estrangeiros que trabalham na Indonésia. A Green School acaba por ser trabalho e lazer”, refere.
O mundo não está na televisão, nem nas fotos do Instagram. Temos de fazer parte dele para que ele também seja parte de nós.
Como lema de vida recorda a frase de Che Guevara: “Deixa o mundo mudar-te e poderás mudar o mundo”. “É uma frase que me acompanha desde que apanhei o avião no ano passado. Temos de deixar o mundo entrar para o podermos compreender, o mundo não está na TV, nem nas fotos do Instagram. Temos de fazer parte dele para que ele também seja parte de nós, e quando formos um, a mudança acontece”.
Para o futuro, deseja “continuar a fazer algo que me preencha, que seja maior do que eu. Gosto de desafios, de projetos inovadores que servem o interesse global de criar um mundo melhor, mais humano, mais sustentável social e economicamente”.
UM SONHO TORNADO REALIDADE
A escola mais verde do mundo está localizada em Bali, na Indonésia. É um projeto imaginado por um canadiano, John Hardy, e por uma americana, Cynthia Hardy. John, então estudante de arte, foi para Bali em 1975, atraído pelo artesanato local e acabou por começar a produzir joalharia com os artesãos do Bali. Cynthia chegou a Bali em 1982, durante uma viagem para abrir horizontes antes de entrar na Escola de Direito de Berkeley, mas acabou por ficar. Abriu uma loja de joalharia local, conheceu John, tornaram-se sócios e apaixonaram-se. A base do negócio sempre foi o respeito pelo ambiente, pelas pessoas e pela cultura no Bali. A Green School é a realização do sonho de ambos de darem às crianças a possibilidade de um ensino diferente, integral, que as incentive a desenvolver competências físicas, espirituais e emocionais, em ligação direta com a natureza.
O currículo da escola combina o ensino das disciplinas de base, como matemática, inglês e ciências, com os Green Studies (Estudos Verdes), com uma vertente mais prática e de contacto com a natureza.
Os estudantes são provenientes dos quatro cantos do mundo, juntando-se à comunidade balinesa de alunos, que representam cerca de 20% dos inscritos. A partilha das diferentes culturas dos países de origem gera uma experiência muito rica para todos e alimenta, desde cedo, a vontade das crianças por influenciar a forma como tratam do planeta.