O que mudou quando mudei: Sandra Augusto

Sandra Augusto foi a primeira mulher a dirigir um departamento de logística na Volkswagen em toda a Europa. Há dois anos concretizou o sonho de ter uma experiência internacional e rumou ao Brasil, de onde gere os mercados do gigante automóvel na América Latina.

Sandra Augusto é responsável da Logística da Volkswagen na América do Sul.

Sandra Augusto é licenciada em Engenharia Eletrotécnica no ISEL e iniciou a sua carreira na Autoeuropa em 1994. Começou no planeamento de produção como responsável por projetos de investimento em equipamento e infraestruturas. Em apenas quatro anos assumia a sua primeira posição de chefia como responsável na área de engenharia de produto. Em 1999 a Autoeuropa passou a ser 100% Volkswagen e o seu departamento foi integrado na área de logística. Em 2000 abraçou uma nova experiência como assessora do diretor da fábrica. Em 2006 passou a gerir o supply chain e dois anos depois acumulou também a logística interna. Em Março de 2011 tornou-se diretora de logística e e no final de 2018 concretizou o sonho de ter uma experiência internacional, assumindo a responsabilidade da logística da marca para a América do Sul, a partir da Volkswagen do Brasil. Nestes 27 anos de carreira, Sandra Augusto somou à licenciatura um MBA pela University of East London, em 2003, e uma pós-graduação em Psicologia para não psicólogos no ISPA, em 2016.

 

Como surgiu a possibilidade de ir trabalhar para o Brasil e o que a levou a aceitar?

Já há algum tempo que queria ter uma experiência internacional mas por um motivo ou outro a oportunidade ainda não tinha surgido. Não tinha nenhuma preferência em relação a destino, mas queria ter uma experiência desafiadora e decididamente o Brasil tem sido tudo isso e muito mais.

O mais importante é ganhar consciência da dimensão do negócio e chegar com humildade e perceber como se fazem as coisas por cá e gradualmente ir partilhando a minha experiência com a equipa para que a vinda de um expatriado possa trazer de fato um valor acrescentado para a organização.

Como se preparou para esta mudança?

Fizemos as malas e colocamos as bicicletas e as pranchas de SUP [Stand Up Paddle] no contentor e mais umas poucas coisas e assim foi! Mais a sério, do ponto de vista profissional sabia que a dimensão da atividade na América do Sul apresenta uma complexidade muito superior à da Autoeuropa com seis fábricas (4 no Brasil e 2 na Argentina), importação e exportação de peças e veículos em toda a América Latina. Não há muita preparação a fazer,  o mais importante é ganhar consciência da dimensão do negócio e chegar com humildade e perceber como se fazem as coisas por cá e gradualmente ir partilhando a minha experiência com a equipa para que a vinda de um expatriado possa trazer de fato um valor acrescentado para a organização.

Como foi o primeiro impacto com o novo país?

A minha sede é no Brasil que é um país maravilhoso, com uma natureza exuberante (sempre que posso vou aproveitar essa benção aqui bem próximo de São Paulo) e um povo muito acolhedor e especializado. O clima é fantástico (para quem gosta do estilo tropical, que é o meu caso) e o sotaque muito carinhoso.

Quais as principais diferenças que nota na forma de trabalhar e de estar entre os dois “povos irmãos”?

Os brasileiros são mais “sensíveis” — é lógico que esta generalização é, como todas as generalizações, grosseira. O feedback corretivo  que tem de ser dado no dia a dia tem de ser dado com cuidado. Os comentários técnicos de que algo deverá ser feito de outra forma pode ser interpretado como sendo uma questão pessoal, que coloca em dúvida a sua competência. Há que perceber e adaptar.

O que mudou na sua função entre Portugal e o Brasil?

A complexidade da operação da América do Sul é bastante maior. São 4 fábricas de produção automóvel e duas de componentes (motores e caixas de velocidade). A função engloba importação e exportação de carros e peças bem como a distribuição de carros, não só no Brasil e Argentina bem como para todos os mercados da América Latina. São produzidos nestas fábricas 10 modelos diferentes e exportamos motores para o México e caixas de velocidades para a Europa. Fazemos também a exportação de componentes produzidos por fornecedores brasileiros para todo o mundo.

As suas funções não se restringem ao Brasil, mas a toda a América Latina. Que países tem sob a sua responsabilidade e com que frequência tem de viajar para cada um deles?

Antes da pandemia todos os meses visitava uma fábrica mas após Março de 2020 tudo isso mudou. Agora viajamos no Skype e no Teams.

Fazer a distribuição de veículos num país com dimensão de continente, em que algumas rotas duram 18 dias e usam “balsas” para navegar o rio porque não existem acessos terrestres é outro desafio.

Quais as principais aprendizagens que fez com esta nova experiência?

Trabalhar num outro país, essencialmente se se tratar de uma região tão distinta como América do Sul quando comparada com a Europa na área de logística e de comércio exterior representa uma aprendizagem imensa. Colocamos alguns paradigmas em questão. Percebemos que existem muitas coisas que damos como dado adquirido ao trabalhar nesta área num país europeu  que em outras regiões do globo são totalmente distintas. A inflação e a exposição cambial de uma moeda fraca são realidades com as quais temos que aprender a viver e a burocracia entra na nossa vida profissional de uma forma marcante. Fazer a distribuição de veículos num país com dimensão de continente em que algumas rotas duram 18 dias e usam “balsas” para navegar o rio porque não existem acessos terrestres é outro desafio.

Sentiu diferenças entre ser mulher na sua função no Brasil/América Latina?

Não senti diferença no desempenho da função mas é notório o reconhecimento da organização bem como da sociedade em relação ao facto de ser mulher e ter atingido uma função tipicamente masculina. Mas a cultura da organização e do país está a mudar e estando aqui há dois anos e meio consigo perceber a diferença de como era quando cheguei e o que vejo hoje.

Que conselho deixaria a uma mulher que receba um convite para trabalhar no Brasil?

É uma oportunidade incrível e é para aceitar e desfrutar!

 

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