Seis mitos sobre ambição profissional no feminino

Disseram-lhe que para uma mulher é impossível conciliar uma carreira bem-sucedida com uma vida pessoal e familiar equilibrada? Não acredite.

Uma carreira de sucesso não é sinónimo de solidão.

Na corrida de fundo que é a estruturação de um percurso profissional de sucesso, é sabido que, historicamente, as mulheres têm vindo a deparar-se com obstáculos mais difíceis de ultrapassar. Do acesso condicionado a lugares de topo, à desigualdade de oportunidades, sem esquecer as disparidades remuneratórias, são múltiplos os entraves que, em meados da segunda década do século XXI, continuam a colocar o género feminino em desvantagem no mercado de trabalho. Mas não menos importante do que a luta para vencer estas condicionantes reais, é a aquela que visa derrubar as barreiras psicológicas que ainda persistem relativamente às mulheres que buscam o êxito nos seus empregos. Conheça, em seguida, os seis mitos responsáveis por perpetuar o logro de que trabalhadoras empenhadas não podem almejar, em paralelo, a realização em termos pessoais e familiares, enumerados e desconstruídos pelo Washington Post.

As mulheres que apostam na carreira acabam sozinhas

É perfeitamente infundado o preconceito de que as mulheres que ambicionam o êxito profissional não podem também construir relações amorosas de sucesso e, inclusivamente, casar – aquelas que assim o desejem, pelo menos. Apesar de ter ficado célebre em meados da década de 1980, a máxima infame, perpetrada num artigo da revista norte-americana Newsweek, que vaticinava que uma mulher que chegasse aos 40 anos sem ter casado teria maior probabilidade de ser vítima de um ataque terrorista do que de vir a contrair matrimónio, ela veio a ser desmentida pelo próprio tempo. Em 2010, de acordo com os Censos dos Estados Unidos, apenas 7% dessas mulheres – que entretanto tinham, à data, entre 54 e 64 anos – nunca tinham casado. Os números mostram que as mulheres podem até casar mais tardiamente – por inúmeros fatores, que não se esgotam na influência das suas carreiras – mas continuam a casar.

Não é verdade que as mulheres com mais estudos ou mais dedicadas à carreira tenham maior tendência para permanecer sem filhos.

As mulheres que almejam o sucesso profissional não têm filhos

Em 2002, a economista Sylvia Ann Hewlett publicou um artigo na Harvard Business Review, no qual concluía que 40% das executivas norte-americanas entre os 41 e os 55 anos não tinham filhos. Outro estudo publicado, em 2016, pela mesma revista, revela, contudo, uma realidade substancialmente diferente: apenas 21% destas mulheres não passaram pela experiência da maternidade. As estatísticas demonstram ainda que as percentagens são idênticas em todos os grupos considerados, independentemente da escolaridade ou da situação profissional dos indivíduos, pelo que não é verdade que as mulheres com mais estudos ou mais dedicadas à carreira tenham maior tendência para permanecer sem filhos.

Conciliar a carreira e a família deixa as mulheres stressadas e sobrecarregadas

Não é linear que assim seja. A investigação levada a cabo nesta área aponta para que tanto os homens como as mulheres, em geral, disponham atualmente de mais tempo de lazer do que em qualquer outra época histórica. Esse sentimento de dificuldade em dar resposta a todas as solicitações deriva, sobretudo, da gestão mais fragmentada que fazemos hoje do nosso tempo livre: é de tal forma alargado o conjunto de atividades a que nos dedicamos, que é frequente lamentarmos não conseguirmos realizá-las todas, mesmo que muitas vezes não precisemos de o fazer.

A dedicação ao trabalho é motivo de infelicidade

Embora a sociedade continue a somar conquistas importantes no combate à desigualdade de género e à discriminação feminina, ainda é frequente ouvir-se a ideia, preconceituosa e misógina, de que as “as mulheres não podem ter tudo”. Uma das implicações desta premissa infundada é a de que, mesmo tendo conquistado melhores oportunidades laborais, melhores salários e maior reconhecimento por parte da sociedade, as mulheres que trabalham são mais infelizes. Não existe, porém, qualquer fundamento que o corrobore: não há quaisquer dados que indiciem diferenças nos níveis de felicidade entre mulheres e/ou mães que trabalham ou que não trabalham.

As mulheres que se focam no trabalho prejudicam os seus filhos

Esta é provavelmente a falácia que mais atormenta as mães que investem na carreira, a par da maternidade: a de que o êxito profissional que granjearam pode estar, de algum modo, a fazer-se à custa do bem-estar dos seus filhos. Não há, todavia, razão para angústia. No livro Perfect Madness: Motherhood in the Age of Anxiety, de 2006, a investigadora Judith Warner cita evidência científica recolhida nas décadas de 1950 a 1990, nos Estados Unidos, que aponta invariavelmente na mesma direção: não há diferenças a registar, a este nível, entre filhos de mães que trabalham e de mães que não trabalham.

As mulheres que conseguem ter carreiras de sucesso, construir famílias felizes e estar bem consigo próprias não contam

Porque, felizmente, à medida que o tempo passa e a sociedade evolui, proliferam os exemplos de mulheres que conseguem conciliar a realização pessoal, profissional e familiar, forjou-se um derradeiro mito: o de que esses casos de sucesso só acontecem entre as camadas mais abastadas da população. O que essa ideia errada ignora é que muitas das mulheres que se enquadram hoje nesse perfil conquistaram essa posição, precisamente, à custa do seu trabalho, e não por terem partido de uma situação privilegiada.

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