Inovar implica ter novas ideias, desenvolvê-las e aplicá-las, criando novos produtos e serviços que sejam úteis, essenciais e ou valorizados pelos mercados. Mas também procurar, encontrar e estabelecer novos caminhos e achar soluções para problemas e aplicá-las.
Para Rita Moura, diretora de Inovação da Teixeira Duarte, “inovar é essencial nos tempos que correm”, já que estamos numa época de mudanças cada vez mais aceleradas. Dando, como analogia, a essência da teoria de evolução das espécies, de Charles Darwin, que defende que quem sobrevive não são os mais inteligentes ou os mais fortes, mas sim os que se adaptam melhor às mudanças, explica ser “algo que se aplica a tudo, e fundamental em particular para as empresas, onde a inovação transforma conhecimento em valor, contribuindo para fazer crescer o seu volume de negócios e assegurar a sua sustentabilidade a médio e longo prazo”. E, é claro, é muito importante para a competitividade e o crescimento de um país como Portugal, já que inovar é a essência da nova economia que está a implantar-se, a do conhecimento.
Segundo Rita Moura, “não há forma de inovar no curto prazo, com impacto económico real e sustentável, e as organizações têm de atender a isso”. O período entre a altura em que uma ideia surge e se transforma em inovação é longo, porque é preciso desenvolvê-la e encontrar formas de a aplicar à realidade, ao mercado, para se tornar rentável, e depois “experimentá-la exaustivamente” antes de ser lançada.
A construção tem grande impacto no ambiente, pois emprega cerca de 40% de recursos naturais na sua atividade e produz mais de 40% dos resíduos do planeta.
Transformação digital
“Na fase em que estamos de desenvolvimento global, um dos grandes pilares da inovação, na área da construção, será a digitalização e, depois, tudo o que lhe está ligado, como os conceitos da indústria 4.0, a automatização e a construção modular, que tem depois a ver com a economia circular e a sustentabilidade”, explica Rita Moura. Mas a transformação digital deste sector ainda está bastante atrasada em relação a outros, como o do automóvel, com impacto negativo na sua produtividade e competitividade. No entanto, “estamos a tentar superar isso através da incorporação dos conceitos das indústrias mais avançadas ao nível da digitalização”, revela a diretora da Teixeira Duarte.
Rita Moura é também presidente da Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção, entidade gestora do cluster engenharia e construção do nosso país. Trata-se de uma associação que envolve pequenas, médias e grandes empresas, projetistas e também universidades, entidades públicas e outras associações. “É uma organização muito abrangente, que permite trabalhar e desenvolver, de forma agregada e convergente, todo o sector de arquitetura, engenharia e construção em Portugal”, explica.
Constituída há 11 anos, a Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção está a contribuir para o desenvolvimento de projetos de transformação do sector para os próximos anos, incluindo um de promoção da sua transição digital, no valor de 8,5 milhões de euros. “Também apostamos na mudança para uma economia mais circular”, conta, salientando que os efeitos do trabalho que está a ser realizado se irão notar daqui a um a dois anos, e que o sector da construção em Portugal será completamente diferente daqui a cinco anos.
Sustentabilidade ambiental
A construção tem grande impacto no ambiente, pois emprega cerca de 40% de recursos naturais na sua atividade e produz mais de 40% dos resíduos do planeta. É algo que tem de mudar, em favor de um planeta mais sustentável.
Segundo Rita Moura, já há boas soluções no mercado ao nível da eficiência energética dos edifícios. Mas a implementação de uma economia mais circular no sector está a evoluir de forma lenta, porque as soluções que têm em conta a integração de materiais secundários, resultantes da demolição dos edifícios, ainda são mais caras que as outras. Defende ser algo que tem de ser resolvido, dado que o impacto significativo do setor na natureza afeta a sua sustentabilidade, mas explica que “é um problema de difícil resolução”.
O meu propósito é promover a inovação no grupo, de acordo com um planeamento alinhado com a estratégia de negócio.
Espírito aberto
Rita Moura diz não ser possível inovar sem se ter um espírito aberto. A verdade é que “há muitas ideias no mercado e é essencial registá-las”. E que apesar de haver uma pequena percentagem das ideias que não devem ser comunicadas aos outros, por serem essenciais ao negócio de cada empresa, “tudo o resto deve ser partilhado”, defende. Isto “porque a inovação resulta muito da interdisciplinaridade”, mas também “da cooperação, da convergência de pontos de vista e interesses, ou seja, de um vasto trabalho de equipa que crie sinergias”.
A engenheira civil de formação também considera que nas empresas a inovação deve estar ligada aos seus sectores de negócio, “porque pressupõe responder a necessidades dos seus clientes”. E que é também necessário existir, em cada uma delas, “um grupo de inovação que funcione como catalisador e facilitador para as várias áreas de negócio, contribuindo para que as coisas aconteçam, procurando parcerias, ajudando a desenvolver planos de negócio, a procurar financiamentos”, como acontece na companhia onde trabalha.
É, hoje, um grupo vasto, que inclui, para além da construção, em todas as suas vertentes, o imobiliário, oficinas, hotelaria e distribuição alimentar. “O meu propósito é promover a inovação no grupo, de acordo com um planeamento alinhado com a estratégia de negócio”, diz a entrevistada, defendendo que a criatividade é uma característica chave para quem se dedica a esta esta área e tem sido uma das suas vantagens desde que iniciou a sua atividade na Teixeira Duarte, em 1986, como projetista.
Diz que nunca gostou de fazer as coisas sempre da mesma maneira e gosta muito de soluções inovadoras. Mas que estas só acontecem quando há abertura de espírito e capacidade para ouvir os outros, sobretudo pessoas de ramos distintos. Isto porque “a inovação é tanto melhor, quanto mais pessoas de origens diversas ao seu âmbito formos buscar” para trabalhar nela. Para Rita Moura, é ainda mais entusiasmante descobrir que uma inovação encontrada num sector de negócio pode ser aplicada a outros. Foi o que aconteceu, por exemplo, com uma que foi encontrada na área de Facilities Management, do Grupo Teixeira Duarte, que foi posteriormente aplicada, com adaptações, na reabilitação de monumentos.
É importante a atualização
Rita Moura licenciou-se em Engenharia Civil no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, de onde é natural. “É uma instituição que gosto imenso e continuo a ir lá pelo menos duas vezes por mês, já que nunca perdi a minha ligação à universidade”, conta. E mantém também contactos com a Faculdade de Engenharia do Porto, a Universidade do Minho e outras em Portugal e na Europa, como a Universidade de Eindhoven.
Com o princípio em mente de que é importante manter-se atualizada, também frequentou congressos, ações de formação e cursos. O último certificou-a em gestão profissional de projetos pelo Project Management Institute (PMI). Diz não querer parar por aqui e que “até gostaria de avançar mais em termos académicos, para o doutoramento”, o que não tem acontecido devido à falta de tempo resultante de uma atividade profissional intensa. “Mas ainda não perdi essa ideia e vontade”, acrescenta, ainda, com convicção.