A paixão pelo design e a vontade de criar novas soluções levaram Rita Baltazar ao curso de Design de Comunicação, no IADE. Começou a carreira como designer gráfica na Havas (Euro RSCG), onde durante dois anos e meio trabalhou em projetos para a TMN, Portugal Telecom e outras, bem como no branding e packaging para marcas da indústria alimentar. Mas a vontade de criar um negócio independente, onde pudesse pôr em prática toda a criatividade que tinha para mostrar nesta área, rapidamente a levou a fundar a By em conjunto com outros sócios, em 2001, tornando-se CEO da empresa. A Internet estava em pleno advento e ia-se tornando uma evidência cada vez mais incontornável que daí em diante as empresas já não poderiam passar sem ela. O futuro passaria por ali e o coletivo de jovens profissionais foi moldando o negócio às exigências de um mundo cada vez mais digital, onde a interação do consumidor com as marcas tem paragem obrigatória online.
Hoje, a By posiciona-se como a “agência para as marcas interativas”, especializando-se em comunicação de marcas, branding e design, marketing digital e gestão de redes sociais. Este ano arrecadou mais de 3 dezenas de distinções, nacionais e internacionais, entre as quais uma medalha de prata, 2 de bronze e uma menção no WINA Festival (World Independent Advertising Awards) e foi ainda eleita a Agência Criativa Independente do Ano, em Portugal, pelo FICE – Festival Iberoamericano. “Sinto um enorme orgulho na equipa fantástica que está por detrás deste feito”, confessa a CEO.
Além da sua experiência como empresária, Rita Baltazar foi ainda vice-presidente do Clube de Criativos de Portugal entre 2008 e 2012. No ano de 2008 nascia também o WYgroup, onde assume funções diretivas e do qual a By faz parte juntamente com outras 7 empresas de marketing, comunicação e tecnologia. O WYgroup é hoje o maior grupo independente de serviços de marketing digital, em Portugal, contando com mais de 270 colaboradores. Foi sobre a sua experiência de empreendedora, criativa e líder de equipas que Rita Baltazar nos falou.
O que a atraiu no curso de design de comunicação e porque se decidiu por ele?
Atraiu-me o facto de ser uma área em crescimento e, sobretudo, que envolvia criatividade, capacidade de criar novas soluções e onde ainda se podia escrever algo de novo. Quando se escolhe ser designer, escolhe-se algo muito maior que a profissão: escolhe-se um modo de vida. Somos sempre designers e designers para sempre, mesmo quando não estamos a trabalhar. Provavelmente, até foi isto mesmo que me desafiou.
Quais eram os seus planos de carreira, nessa altura?
Tal como todos os recém-licenciados, sonhava em integrar uma agência onde pudesse aprender, crescer e trabalhar marcas relevantes com equipas motivadoras. Rapidamente, percebi que o processo não era simples nem rápido, mas tal como todos os designers fazem, encontrei forma de tornar este sonho real. Nunca desisti.
O seu percurso empreendedor começou em 2001. Como foi esse início e quais os principais desafios que tiveram de ultrapassar?
O início da By é um momento que guardo com muito carinho e orgulho, e é a prova de que tudo é possível. Começar do zero, mas com o mais importante: as pessoas certas, a ambição necessária e acreditarmos em nós. Os principais desafios que tivemos que ultrapassar foram, detalhadamente… todos! Quando começamos, não há noção do que temos pela frente. Ou há uma vontade muito grande em querer fazer bem, ou rapidamente somos absorvidos pelos constantes obstáculos. Ainda estamos na parte do querer fazer bem.
“Empreender, ao contrário do que muitas pessoas pensam, não é ter um emprego — é ter um trabalho a tempo inteiro. É ter que saber gerir bem unidades de negócio, pessoas, clientes e entregarmos o que sabemos fazer muito bem.”
Como foi o chamamento do empreendedorismo para si? Acha que já tinha algumas características pessoais que faziam de si uma empreendedora em potencial?
Não foi bem um chamamento. A única certeza que tinha é que queria, em conjunto com os meus sócios, criar uma unidade de negócio independente, onde pudéssemos colocar em prática tudo o que sabíamos fazer, a favor das marcas, trazendo as nossas melhores experiências e visões para um novo ecossistema onde pudéssemos continuar a crescer e fazer crescer outros connosco. E foi isto mesmo que fizemos.
Não sei se existem características que façam de alguém um potencial empreendedor antes de, efectivamente, o tentar ser e ser bem-sucedido, porque nem tudo depende de características pessoais. O que sei é que empreender, ao contrário do que muitas pessoas pensam, não é ter um emprego — é ter um trabalho a tempo inteiro. É ter que saber gerir bem unidades de negócio, pessoas, clientes e entregarmos, de forma espetacular, o que sabemos fazer muito bem: criatividade e comunicação. E divertimo-nos neste processo.
Lembra-se de como foi conquistar o vosso primeiro grande cliente? O que significou para empresa então?
Foi o dia em que ganhámos o projeto de marca e packaging para um novo tarifário da Optimus, o Optimus Zoom. Foi um momento incrível de satisfação e orgulho. Os nossos concorrentes eram grandes e de muito respeito, pelo que termos recebido o voto de confiança do cliente no trabalho da equipa da By foi uma injeção de motivação e a certeza de que era possível estarmos na corrida. Para uma By acabada de nascer, essa vitória pareceu-nos gigante. Foi muito bom.
Em 2001, quando começaram, a Internet estava em pleno advento. Quando tiveram a noção de que o futuro do vosso negócio passaria por aí?
Pouco tempo depois. Dois anos após termos começado, criámos a nossa primeira equipa digital e ampliámos na nossa oferta de serviços de comunicação. O mercado português ainda não estava preparado para comprar digital, começámos uma jornada incrível de vários anos e tentar trabalhar digital com as marcas, mas 17 anos depois, temos a certeza de que estávamos no caminho certo. E termos começado nessa altura deu-nos vantagens competitivas que hoje nos diferenciam. As nossas equipas têm uma forma singular de trabalharem projetos em conjunto, porque temos vindo a apurar este processo ao logo destes anos todos.
O que a apaixona mais, no seu trabalho?
As pessoas. Somos seres fantásticos!
Foram também eleitos já uma das melhores empresas para trabalhar, em Portugal. Quais as boas práticas que ajudaram a assegurar esta distinção?
Fomos em 2017 e acabámos de ser distinguidos este ano! Estamos novamente no ranking das 100 Melhores Empresas para trabalhar em Portugal e somos a única agência de criatividade e comunicação nesta seleção. São várias a práticas que contribuem para este resultado: uma capacidade enorme de trabalhamos em conjunto, de sabermos ouvir e interpretar, de vermos como positivas a mudança e a novidade, de trabalharmos diariamente as nossas competências, dando o nosso melhor, sabendo crescer em conjunto, todos os dias, como se fosse o nosso primeiro. Os “Byanos” têm 27 dias de férias por ano, a oferta do dia de aniversário, a tarde livre no dia de aniversário do filho/a até aos 10 anos, a possibilidade de trabalhar em remoto, formação, aulas de inglês.
“Perdemos talento imenso para agências internacionais, sobretudo nas equipas digitais, por não conseguirmos acompanhar as evoluções salariais.”
Quais são, atualmente, os maiores desafios no mercado do branding e marketing digital?
Os desafios são vários, mas aquele que mais me preocupa é que este mercado não evolua nas mesma medida e velocidade que as agências nacionais necessitam. Perdemos talento imenso para agências internacionais, sobretudo nas equipas digitais, por não conseguirmos acompanhar as evoluções salariais. As agências portuguesas necessitam de crescer e fazer crescer as suas equipas, mas o mercado demora a perceber.
Qual o trabalho de que mais se orgulha?
O que mais me orgulha é o trabalho diário com as talentosas equipas da BY, que por sua vez produzem um trabalho criativo de excelência para as marcas que nos escolhem como parceiros. Um bom trabalho não nasce sozinho, é a consequência de muito trabalho de equipa que não se vê. Mas esse é aquele de que mais me orgulho.
Qual a decisão mais difícil, de carreira ou de gestão, que tomou até hoje?
Sempre que temos que desistir de alguém, porque não conseguimos que se enquadre com os desafios e objetivos da equipa e da BY. É tão difícil hoje, como há 17 anos.
A criatividade é um elemento essencial ao seu trabalho. Qual a sua receita para manter os níveis criativos em alta, quando é preciso assegurar também a parte de gestão?
Não há receitas certas. É um conjunto de práticas que envolvem todos os team leaders num trabalho de equipa constante. É muito importante saber ouvir e interpretar as equipas e saber motivá-las. Todas elas, não só as criativas. Hoje, a By conta com excelentes perfis nestes lugares de liderança e que, em conjunto com a gestão da agência, são os nossos braços direitos e esquerdos.
Que aptidões são necessárias para se ser bom naquilo que faz?
Não desistir, acreditarmos nas nossas capacidades e nas capacidades de quem nos rodeia. E bom senso também ajuda bastante.
“[Em liderança] o que é importante é saber fazer crescer a sua equipa, saber delegar e sobretudo não achar que sabe mais que os outros. Um líder assume os fracassos pessoalmente e devolve sempre o sucesso à sua equipa.”
E para ser um bom líder?
Para mim não há bons nem maus líderes. Há os que são, verdadeiramente, e os que não sabem ser. Só os primeiros são líderes, os outros são pessoas que necessitam de alterar a sua perspetiva. Quando se tenta liderar e corre mal, a asneira é tanta e as consequências e o impacto que estas situações têm nas pessoas é tão marcante, que a própria palavra liderança fica descontextualizada. Só se é líder se a equipa nos reconhecer essa capacidade. O que é importante é saber fazer crescer a sua equipa, saber delegar e sobretudo não achar que sabe mais que os outros. Um líder assume os fracassos pessoalmente e devolve sempre o sucesso à sua equipa.
Quais as aprendizagens que destacaria durante o seu período à frente do Clube de Criativos de Portugal?
O CCP é uma associação da qual me orgulho imenso de ter contribuído durante 4 anos. E orgulho-me ainda mais do trabalho da última direção que encerrou recentemente o seu ciclo e deixa um futuro brilhante para a que chega. É, sobretudo, um momento da nossa vida em que nos entregamos a esta causa, em promover o que se faz de melhor na criatividade em Portugal. E mesmo com escassos meios, fazer brilhar e dar palco aos nossos profissionais e ao talento português, dentro e fora de portas.
Qual foi o melhor conselho de carreira que lhe deram?
Foram vários, mas aquele que mais eficácia tem no dia-a-dia é saber delegar.
E que conselho deixaria a uma jovem profissional que esteja a pensar fazer carreira na sua área?
Deixo os 3 vetores que nos norteiam desde que começámos esta jornada: integridade, talento e trabalho.
Que metas gostaria de ver concretizadas na By, a curto e médio prazo?
Estamos ativamente a trabalhar nelas. A próxima meta prende-se com a renovação do nosso espaço de trabalho, que está em curso. Depois temos outras que estão direcionadas com a evolução da cultura de trabalho, processo que iniciámos há uns anos e que acompanha e sustenta o crescimento das nossas equipas. As metas criativas, a médio prazo, estão também apontadas para os mercados internacionais.