Num evento de promoção da sua autobiografia, ‘Becoming’, Michelle Obama comentou que a estratégia “lean in” (ou “Faça Acontecer”, a tradução para português do livro de Sheryl Sandberg), defendida pela COO do Facebook no seu bestseller como forma de incentivar as mulheres a lutarem pela sua progressão profissional, “é insuficiente”, relatou a New York Magazine.
“Toda aquela história de que ‘podemos ter tudo’ — não, não tudo ao mesmo tempo. É mentira. E nem sempre é suficiente “fazer acontecer”, porque isso não funciona sempre.”
A COO do Facebook, Sheryl Sandberg, ficou mundialmente famosa com o livro ‘Lean In’ em que desafiava as mulheres a construírem carreiras de sucesso, lutando mais assertivamente pela sua própria progressão profissional e desenvolvendo competências de negociação. O livro, publicado em 2013, tornou-se uma referência em termos de autodeterminação feminina no mercado de trabalho, mas tem vindo a suscitar também algumas dúvidas e críticas como a de Michelle Obama, desde o início. Uma delas é de que esquecia as mulheres vindas de contextos mais desfavorecidos e que contam com pouca igualdade na repartição de tarefas e educação dos filhos. Uma crítica a que própria Sandberg já respondeu: “Não cheguei bem à questão de como é difícil ser bem sucedida no trabalho quando estamos sobrecarregadas em casa.”
Um estudo publicado este ano na Harvard Business Review, e levado a cabo por investigadores da Universidade de Duke, nos EUA, voltou a pôr o tema em cima da mesa. Os investigadores puseram cerca de 2 mil participantes à prova numa série de 6 experiências que visavam comparar a abordagem individual do “faça acontecer”, proposta pela COO do Facebook, com a necessidade de salientar as desvantagens estruturais e sistémicas que as mulheres enfrentam na sua vida profissional e que devem ser adereçadas por políticas empresariais e sociais.
Os dois grupos leram passagens de ‘Lean In’ e assistiram a TED Talks proferidas por Sheryl Sandberg, mas enquanto um grupo se centrava nas mensagens que urgiam as mulheres a serem mais determinadas nos seus locais de trabalho, o outro focava-se nas passagens do seu livro e intervenções que referiam os fatores sociais que ainda condicionam as mulheres. No final, os participantes do primeiro grupo tendiam a achar que cabia à iniciativa feminina resolver os seus próprios problemas de desigualdade no trabalho e, sobretudo, que elas eram as únicas responsáveis pelo problema e pela sua resolução. Referiam muito menos a necessidade de serem adotadas medidas, a nível político ou empresarial, no sentido de promover uma maior igualdade género na progressão profissional.
Os autores da pesquisa referiam a necessidade de replicar este estudo, de forma a validar as suas conclusões, mas prontificaram-se a esclarecer que a sua pesquisa não visava, de forma nenhuma, responsabilizar Sheryl Sandberg pela desigualdade ainda existente, salientando que a executiva e autora abordou os dois lados desta questão na sua obra. Uma coisa é certa: as mulheres não devem estar sozinhas nessa luta.