No contexto pós-pandemia, os 7 segundos que, tradicionalmente, eram apontados como o tempo necessário para que alguém nos “tirasse a fotografia”, foram ultrapassados pelos 2 segundos que estudos mais recentes apontam como o tempo necessário para que alguém crie uma primeira impressão sobre nós. Não cabendo aqui discutir se são apenas 2 segundos, a verdade é que quer falemos de 7 ou de 2 segundos, facilmente concordamos que num abrir e fechar de olhos, literalmente, captamos o melhor e o pior de quem conhecemos pela primeira vez.
Seguramente está ciente da missão (quase) impossível de transformar uma má primeira impressão numa segunda (e subsequentes!) boa impressão. Assim, relembro os 5 erros fatais que, em menos de 2 segundos, comprometem a imagem de excelência que tanto gostaríamos de espelhar.
1.Não ser pontual
Ser pontual é, tão só, uma demonstração de respeito para com o outro e para com a nossa imagem. Ser pontual é demonstrar que o nosso tempo não é mais valioso que o tempo do outro; é deixar “bem claro” que honramos compromissos e respeitamos o tempo e a disponibilidade de quem tem disponibilidade para nos receber.
Matematicamente falando, parece impensável qualquer hipótese de dúvida na interpretação do horário indicado. Uma reunião que tem lugar entre as 9h00 e as 10h00 significa (ou deveria significar) que, às 9h00, todos os intervenientes se encontram sentados na sala de reunião prontos a iniciar a mesma; significa, também, que se tiver sido devidamente organizada e diligentemente conduzida, às 10h00 terminará.
Contudo, nesta matéria, parece que a “visão matemática” é apenas respeitada por quem tem uma “costela” nórdica ou por líderes de equipas que fazem questão de respeitar o tempo dos outros e o compromisso apresentado.
Infelizmente, para muitos, o agendamento de uma reunião entre as “9h00-10h00”, significa que, aproximadamente pelas 9h00, vão chegar à empresa; de seguida, haverá tempo para dois dedos de conversa, tomar café, discutir os “assuntos quentes do dia”, recolher a documentação para a reunião e, pelas 9h15-9h20, apresentam-se na sala onde a reunião decorrerá sem qualquer constrangimento… afinal, é prática corrente na empresa.
Salvo devido respeito, e mesmo admitindo que culturalmente “o tempo” pode ter uma interpretação diversa, parece-me que estamos perante uma atitude absolutamente condenável que deverá deixar de ter lugar, em particular no contexto profissional.
Se um colaborador não respeitar o horário da reunião, temos dois cenários possíveis:
- a reunião tem início sem que todos estejam presentes — o que poderá implicar voltar a repetir assuntos já abordados; ou
- apenas terá lugar quando todos estiverem reunidos comprometendo os compromissos seguintes, quer profissionais, quer pessoais.
Facilmente compreendemos que além de denotar uma falta de respeito para com todos, é extremamente ineficiente e desperdiça o bem mais precioso do século XXI: o tempo!
Todos, de acordo com a nossa logística familiar e profissional, podemos encontrar “inúmeras desculpas” para justificar o que não tem justificação: falta de respeito pelo compromisso não sendo pontuais.
Organizemo-nos para que os horários sejam respeitados, para que o tempo dos outros (e o nosso tempo) seja maximizado. Acima de tudo, lembremo-nos que não chegar a horas pode parecer ser tolerado por algumas organizações. Contudo, no setor da excelência profissional, cada vez tem menos lugar. Não ser pontual funciona como um alarme e imediata qualificação de “irresponsável” o que, dificilmente, o qualificará como um profissional de excelência.
2.Não estabelecer contacto visual
Na cultura ocidental, é absolutamente fundamental que se estabeleça — e mantenha — contacto visual enquanto comunicamos presencialmente (ou online com recurso a imagem) com alguém: é um sinal de respeito e consideração para com o outro.
Se é tímida e tem dificuldade em estabelecer contacto visual, saiba que “olhar para os pés” é um passo para que a sua timidez seja ainda mais notória. Por sua vez, se tem o hábito de “olhar para o céu”, saiba que o “nariz levantado” é sinal de altivez, superioridade e snobismo, “qualidades” que dificilmente causam uma boa impressão.
Vou partilhar um “truque” que ajudará nesta matéria: imagine que o seu interlocutor tem um triângulo invertido na zona dos olhos e nariz; a base do triângulo está entre as nossas sobrancelhas e o vértice é a ponta do nariz. Assim, em vez de olhar o outro nos olhos (atitude verdadeiramente constrangedora e inapropriada), olhe, alternadamente, para cada vértice do triângulo invertido, isto é, para a ponta de cada sobrancelha e do nariz garantindo contacto visual adequado.
3.Não cumprimentar (devidamente)
Se não cumprimentar é um erro fatal — e, neste tema, não confundamos “cumprimento” com obrigatoriedade de cumprimento físico — não cumprimentar devidamente transmite, igualmente, uma imagem negativa.
Não cumprimentar devidamente pode significar não dar o devido tratamento ao outro: não utilizar o título académico ou utilizar o título académico errado quando no setor em causa ainda é esperado; utilizar o nome ou apelido errado(s); não respeitar a ordem de precedência aquando do cumprimento ou não retribuir o cumprimento apresentado deixando o outro “pendurado”.
Tenha, assim, em mente que é a pessoa mais importante a decidir a forma de cumprimento; que em setores tradicionais ainda é esperado que se utilize o título académico; que se alguém (ainda que erradamente) se apresentar com o título académico, não caia na tentação de não o utilizar; não deixe o outro pendurado quando lhe apresenta a outra face para um segundo beijinho (ainda que, no seu círculo habitual, não seja prática comum cumprimentar com dois beijinhos); não mostre uma cara de “choque” quando o outro decide cumprimentar com um abraço — mesmo que não seja o cumprimento adequado no contexto profissional e, muito menos, numa primeira abordagem.
Afinal, saber estar, é deixar o outro confortável, mesmo que tal implique fazer um esforço para não causar desconforto.
4.Imagem desadequada
Estar adequado não implica, de todo, utilizar roupa, calçado ou acessórios de luxo nem roupa formal.
Apresentar-se com a imagem adequada é, tão só, estar ciente do contexto em que está inserido; é estar consciencializado da cultura da sua organização e da imagem que pretende transparecer.
Se não é fã de fato nem de roupa formal mas foi convidada para um almoço-reunião de negócios num restaurante diferenciado e tradicional, convido a que reflita, brevemente, se a sua primeira escolha de vestuário se enquadra no local e no contexto que está inserido. Não se trata de gostar ou não gostar: trata-se de respeitar os outros e de se comprometer com a imagem adequada assim que aceita o convite para aquele local.
E estar desenquadrado não é, como muitas vezes se pensa, apresentar-se com uma imagem informal e descontraída quando o expectável é uma imagem formal.
Apresentar-se com roupa formal num ambiente informal é igualmente descabido e causa uma péssima impressão. Se a sua empresa organizar um fim-de-semana com atividades de equipa num contexto campestre e desportivo, é esperado que se apresente com roupa apropriada para a prática de tais atividades. Sapatos de sola e saltos altos não serão, seguramente, o mais adequado para participar, ativamente, nas atividades de grupo.
Se for advogada e, no contexto de um processo, tiver de se deslocar a uma obra para recolher informação, saiba que apresentar-se com saltos altos e um vestido maravilhoso de seda não só não é expectável como não é apropriado. E neste caso, não se esqueça que por mais que possa “espernear” e gritar a sete ventos que os EPIs de utilização obrigatória num ambiente de obra vão comprometer o seu aspeto fabuloso (e que jamais os utilizará!), a sua opinião não será tida em consideração: simplesmente, não poder estar num ambiente de obra sem estar devidamente protegida: aqui, não há lugar a discussão.
5.Postura incorreta
Por fim, uma última palavra dedicada à postura.
Se todos sabemos que manter uma postura inadequada tem resultados nefastos para a saúde, muitas vezes esquecemo-nos que a imagem que transparece é, igualmente, negativa.
Ombros para a frente e costas curvas causam uma impressão de desleixo, timidez e falta de confiança.
Quando sentados, devemos também manter as costas retas, não colocar os cotovelos em cima da mesa (mesa de reunião e secretária de trabalho) ajudando-nos a manter a postura correta: queixo paralelo ao chão, costas retas e ombros para trás.
Por fim, não posso deixar de salientar dois comportamentos que, infelizmente, têm sido prática comum.
Descalçar-se em pleno local de trabalho (ou em conferências, como tantas vezes tenho a “infelicidade” de constatar) é um comportamento privado que jamais deverá ter lugar no contexto profissional. Por mais que os sapatos lhe apertem, evite descalçar-se no ambiente de trabalho; escolha, antecipadamente, calçado confortável que não seja uma “pedra no sapato” ao longo do dia.
Por sua vez, mastigar, alegremente, uma pastilha elástica enquanto comunica com alguém (seja presencialmente, seja por telefone) é um comportamento que denota desconsideração e falta de respeito para com o outro. Assim, antes de falar, retire, por favor, a pastilha elástica colocando-a no caixote do lixo.
Em suma: ainda se recorda da razão pela qual causar uma boa primeira impressão deve ser uma prioridade?
Uma primeira impressão negativa ficará gravada, eternamente, na mente do outro. Por mais que se esforce, durante anos, a “reverter” a imagem negativa que inicialmente causou, ao primeiro deslize (e quem nunca errou que atire a primeira pedra) é a imagem “negativa” que está gravada no cérebro que vai falar:
“Eu bem sabia… raramente me engano quando conheço alguém”.
Joana Andrade Nunes é consultora de protocolo, etiqueta e comunicação, membro da Associação Portuguesa de Estudos de Protocolo, colaboradora no programa “Praça da Alegria”, na RTP 1 e autora da rubrica “Etiqueta Profissional”, na Executiva. Mestre e Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, iniciou a carreira profissional como docente universitária nesta instituição e, até 2017, conciliou a atividade de docência com a prática de advocacia de negócios. Em 2014, foi distinguida com Menção Honrosa no âmbito do V Prémio Wolters Kluwer de Artigos Jurídicos Doutrinários. O seu livro Quatro Gerações à Mesa foi considerado o melhor livro de culinária de Portugal, pelos Gourmand World Book Awrads (2016) e o 3.º melhor do mundo, pelos gourmand World Book award, 2017. Desenvolve a atividade de consultoria e formação junto de prestigiadas equipas e organizações.
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