Paulo Neto: Cultura, organizações e conversas

Qual a relevância das conversas nas organizações? Será que lhes damos a atenção devida? Este é o tema deste artigo de Paulo Neto.

Paulo Net é fundador da Building Bridges.

Texto de Paulo Neto, coach executivo e de equipas, agile coach e fundador da Building Bridges

Os pensamentos estão na base das decisões e da ação, mas é através das conversas que os fazemos acontecer. O impacto produzido depende em grande parte desses momentos e da sua qualidade, pois é através das conversas que se comunicam ideias, convicções, alinham expectativas, que nos damos a conhecer e conhecemos os outros. É em cada conversa que se evolui o pensamento e a forma de pensar, ou pelo contrário se cristaliza. Em cada conversa acontece cultura.

Conversar é comunicar e a escuta desempenha um papel fundamental. Contudo, nem sempre é usada da melhor forma, talvez por não ser dada a devida importância a cada conversa. Ao desenvolver a consciência do impacto de cada conversa na cultura a forma como conversamos e para que conversamos pode transformar-se.

As organizações com estruturas hierárquicas e hábitos de liderança muito centrados no processo são menos impactadas pela menor qualidade das suas conversas. O seu desempenho é baseado em processos repetitivos que para serem bem executados não implicam grandes necessidades de comunicação. Contudo, as que funcionam orientadas para a autonomia das suas equipas e têm como base interacções colaborativas dependem de boas conversas que por sua vez dependem de bons níveis de escuta. Para que as conversas sejam construtivas, desenvolvam ideias e inteligência colectiva é necessário ter bons níveis de escuta. Neste sentido, podemos dizer que o nível de escuta é um excelente indicador da organização.

Nas suas tentativas de melhoria as organizações optam normalmente pela mudança de processos, mas na essência continuam iguais. Aquilo que é visível pode mudar, mas os níveis invisíveis continuam iguais. O resultado dessas tentativas pode até resultar no aprofundar do afastamento porque ao perceber que não é parte da mudança cada pessoa limita-se a cumprir, é um processo puramente mecânico. A forma de pensar e os pensamentos continuam a ser os mesmos. A cultura vai manter-se.

Para mudar, é preciso que as conversas aconteçam de forma consciente, e o seu impacto depende obviamente da sua qualidade. Conseguir que os níveis de comunicação melhorem depende fundamentalmente dos próprios níveis de comunicação, pelo que este ciclo pode tornar-se difícil de ultrapassar.

Comece por melhorar os seus níveis de atenção a cada pessoa, e para isso pergunte, seja curioso. Procure saber mais sobre as ideias e motivações das pessoas e equipas com quem trabalha. Crie momentos apenas para escutar. Tente compreender antes de ser compreendido.

É impressionante como alguns minutos de conversa podem garantir meses de energia.

Quer melhorar a cultura da sua organização? Melhore as suas conversas.

 

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